quinta-feira, 1 de maio de 2014

Filme: Transcendence - A Nova Inteligência (2014)

Na sua estreia como realizador, Wally Pfister aborda o género da ficção científica sem o resultado desejável. Transcendence – A Nova Inteligência é na maioria um filme de nota insuficiente com um argumento e interpretações incompletas.  

Quando um grupo de terroristas cibernéticos atinge Will Caster (Johnny Depp) com uma bala envenenada com polónio num ataque coordenado contra centros de investigação de inteligência artificial, Evelyn Caster (Rebecca Hall) decide salvar o seu marido a todo o custo, nem que seja apenas a sua consciência. Após a sua morte física, Will vive nos zeros e nos uns, nos bites que dão origem ao vasto mundo cibernético, com repercussões inimagináveis para o mundo.  

Transcendence – A Nova Inteligência apresenta uma premissa extremamente promissora, particularmente para aquele cinéfilo, ou casual espectador, aficionado pelo elemento de ficção científica na sétima arte. Transcendence – A Nova Inteligência cumpre satisfatoriamente parte da sua premissa; todavia, algures ao longo da experiência cinematográfica – a primeira enquanto realizador do prévio director de fotografia Wally Pfister –, o filme defrauda parte da expectativa criada, tornando-se incapaz de brindar o espectador com um resultado apropriadamente fascinante. O problema com Transcendence – A Nova Inteligência não se resume à incapacidade do argumento de Jack Paglen para engatar, devendo também apontar-se a falta por vezes gritante de ritmo e de sentido na acção de certos elementos da narrativa.

À excepção de Will e de Evelyn Caster, as caras de Transcendence – A Nova Inteligência pecam por fraca caracterização e por pobre exposição de motivações. A título de exemplo, a fraca apreensão governamental ou a inexistente cobertura jornalística da nova superinteligência criada/originada por Will que ameaça mudar controlar o mundo não se cobre de muita lógica. Não se pretende nada no estilo de Michael Bay; um singelo reconhecimento dos pontos anteriores bastaria, mas nada tão redutor como a presença de um qualquer agente do FBI e de um pequeno contingente militar por que o filme opta. Pior do que o atrás analisado é a inserção na narrativa de um grupo de terrorismo cibernético que, mesmo que movido por uma causa concebível, se propala (ao contrário da superinteligência de Will) por comportamentos incompreensíveis.          

Este projecto de Wally Pfister tenta dar o ar da sua graça quando procura caminhos filosóficos e metafísicos para as questões da evolução humana, da consciência e do divino, aproximando-se da hipótese da simulação mais conveniente abordada em filmes como Matrix e A Origem. Embora interessante e relevante à sua maneira, esta abordagem não demonstra a mesma sagacidade, quiçá porque se distrai e concede demasiado tempo a narrativas de teor secundário. Na sua longa colaboração com Christopher Nolan, que aqui assume o papel de produtor executivo, Wally Pfister parece ter assimilado muito, mas claramente não assimilou a subtileza de Nolan no suspense mental. Mais do que qualquer outro, este é o ingrediente que mais falta faz no filme, que mais o impede da almejada transcendência cinematográfica.


As interpretações em Transcendence – A Nova Inteligência são insípidas, transparecendo que alguns no elenco não parecem acreditar completamente no seu papel, ou no sentido da sua linha de acção. A música de Mychael Danna revela-se bonita e apropriada. A realização de Wally Pfister tem os seus momentos altos, momentos em que a sua experiência enquanto director de fotografia se revela na íntegra. Como primeiro ensaio, Transcendence – A Nova Inteligência não é a tentativa mais bem-aventurada do agora realizador, mas deixa a ideia de talento bruto por explorar e aperfeiçoar. No todo, o filme não é o que poderia ter sido, o que indicava ser; se se refrear as expectativas, entretém q.b. e levanta uma ou outra inquietante questão.

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


Trailer:

1 comentário:

  1. Muito bom. Acho que reflete o porque da nossa necessidade de criar uma coisa que sabe que existe.

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