Na sua estreia como realizador, Wally
Pfister aborda o género da ficção científica sem o resultado desejável. Transcendence – A Nova Inteligência é na
maioria um filme de nota insuficiente com um argumento e interpretações
incompletas.
Quando um grupo de terroristas cibernéticos
atinge Will Caster (Johnny Depp) com uma bala envenenada com polónio num ataque
coordenado contra centros de investigação de inteligência artificial, Evelyn
Caster (Rebecca Hall) decide salvar o seu marido a todo o custo, nem que seja
apenas a sua consciência. Após a sua morte física, Will vive nos zeros e nos uns,
nos bites que dão origem ao vasto mundo cibernético, com repercussões
inimagináveis para o mundo.
Transcendence – A Nova Inteligência
apresenta uma premissa extremamente promissora, particularmente para aquele
cinéfilo, ou casual espectador, aficionado pelo elemento de ficção científica
na sétima arte. Transcendence – A Nova
Inteligência cumpre satisfatoriamente parte da sua premissa; todavia,
algures ao longo da experiência cinematográfica – a primeira enquanto
realizador do prévio director de fotografia Wally Pfister –, o filme defrauda
parte da expectativa criada, tornando-se incapaz de brindar o espectador com um
resultado apropriadamente fascinante. O problema com Transcendence – A Nova Inteligência não se resume à incapacidade do
argumento de Jack Paglen para engatar, devendo também apontar-se a falta por vezes
gritante de ritmo e de sentido na acção de certos elementos da narrativa.
À excepção de
Will e de Evelyn Caster, as caras de Transcendence
– A Nova Inteligência pecam por fraca caracterização e por pobre exposição
de motivações. A título de exemplo, a fraca apreensão governamental ou a
inexistente cobertura jornalística da nova superinteligência criada/originada
por Will que ameaça mudar controlar o mundo não se cobre de muita
lógica. Não se pretende nada no estilo de Michael Bay; um singelo reconhecimento
dos pontos anteriores bastaria, mas nada tão redutor como a presença de um qualquer
agente do FBI e de um pequeno contingente militar por que o filme opta. Pior do
que o atrás analisado é a inserção na narrativa de um grupo de terrorismo cibernético
que, mesmo que movido por uma causa concebível, se propala (ao contrário da
superinteligência de Will) por comportamentos incompreensíveis.
Este projecto
de Wally Pfister tenta dar o ar da sua graça quando procura caminhos
filosóficos e metafísicos para as questões da evolução humana, da consciência e
do divino, aproximando-se da hipótese da simulação mais conveniente abordada em
filmes como Matrix e A Origem. Embora interessante e
relevante à sua maneira, esta abordagem não demonstra a mesma sagacidade, quiçá
porque se distrai e concede demasiado tempo a narrativas de teor secundário. Na
sua longa colaboração com Christopher Nolan, que aqui assume o papel de
produtor executivo, Wally Pfister parece ter assimilado muito, mas claramente não
assimilou a subtileza de Nolan no suspense mental. Mais do que qualquer outro,
este é o ingrediente que mais falta faz no filme, que mais o impede da almejada
transcendência cinematográfica.
As
interpretações em Transcendence – A Nova
Inteligência são insípidas, transparecendo que alguns no elenco não parecem
acreditar completamente no seu papel, ou no sentido da sua linha de acção. A música
de Mychael Danna revela-se bonita e apropriada. A realização de Wally Pfister
tem os seus momentos altos, momentos em que a sua experiência enquanto director
de fotografia se revela na íntegra. Como primeiro ensaio, Transcendence – A Nova Inteligência não é a tentativa mais bem-aventurada
do agora realizador, mas deixa a ideia de talento bruto por explorar e
aperfeiçoar. No todo, o filme não é o que poderia ter sido, o que indicava ser;
se se refrear as expectativas, entretém q.b. e levanta uma ou outra inquietante
questão.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.transcendencemovie.com/
Trailer:
Muito bom. Acho que reflete o porque da nossa necessidade de criar uma coisa que sabe que existe.
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