sábado, 7 de abril de 2012

Filme: American Pie: O Reencontro (2012)


American Pie: O Reencontro não inova a fórmula deste franchise e o Reencontro chega às salas de cinema na forma de um update.

Começa por mostrar a vida actual das personagens mais familiares e logo impõe a ideia de rotina entediante e de relacionamentos sem chama, com momentos do versado humor que caracteriza a série. Aliás, tudo aquilo que caracteriza os filmes da série American Pie, nomeadamente os três primeiros, está presente em o Reencontro. Não faltam as festas desgarradas, as decisões trapalhonas e os momentos de verdadeiro embaraço. O que falta, e talvez mais grave, é a originalidade que surgiu no primeiro filme, mastigada no segundo e reciclada no terceiro. Até o próprio tema do reencontro não é nada que já não tenha sido abordado noutros filmes do género.

Além da menor originalidade da história, a insistência do argumento em manter a acção à volta de adolescentes em fins de estudos parece uma tentativa algo desesperada para agarrar uma audiência mais nova, em vez de aceitar a idade do seu elenco e de explorar os problemas que a idade lhes trouxe mais profundamente. Aqui e ali surgem os temas da paternalidade, dos sonhos falhados, das relações falhadas, mas surgem mais como um checkpoint cumprido numa lista de vários do que como uma verdadeira temática que move a história. É uma pena que assim seja. Afinal, não foi por abordar o casamento e as questões inerentes que o terceiro filme foi menos conseguido e hilariante que os dois primeiros, pelo contrário.

No entanto, este American Pie não quer ter nada de novo. Ele é um verdadeiro reencontro: de personagens (algumas que nem no terceiro filme tinham surgido), velhas amizades, velhas relações, velhos problemas... É para isso que o filme foi produzido. Para matar saudades… E nesse aspecto funciona. Jim (Jason Biggs) continua desastrado como sempre (talvez até mais). Finch (Eddie Thomas) continua com estranhos comportamentos. E Stifler (Seann William Scott) é a mesma personagem louca, idiota e chanfrada que se tornou memorável.         

Ao longo do filme sucedem-se os cameos e aos poucos e poucos todas as personagens que iniciaram o franchise tomam alguns minutos do ecrã, nem que seja somente para uma pequena graça que logo relembra quem eram. Aqueles que conhecem todas estas personagens e os três primeiros filmes vão ficar contentes por revê-las. Nem notarão as falhas existentes. O que importa mesmo é o reencontro. E no fim é capaz que fiquem com um sentimento de nostalgia resolvida.

CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas


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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Filme: Na Terra de Sangue e Mel (2012)



Na Terra de Sangue e Mel marca a estreia de Anjelina Jolie na cadeira de realização. Enquanto a crueldade, a brutalidade e o medo da Guerra da Bósnia são cuidadosamente explorados pelo olho de Jolie, o filme sofre de apatia crónica. No seu intento de dar a conhecer uma guerra largamente marginalizada pela comunidade internacional acaba da mesma forma por deixar de lado as motivações e as razões do pior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Na Terra de Sangue e Mel conta a história de um romance proibido entre dois elementos de etnias inimigas da antiga região da Jugoslávia – entre Danijel (Goran Kostić), um soldado dos sérvios da Bósnia, e Ajla (Zana Marjanović) uma muçulmana da Bósnia capturada e escravizada por uma unidade de soldados sérvios. Danijel e Ajla conhecem-se ainda antes da guerra começar. Surgem logo na primeira cena do filme num café, a dançar – Ajla é uma pintora e Danijel um polícia. Mas tudo muda quando, ainda nesse café, acontece uma explosão que os afasta tanto fisicamente quanto mentalmente. Quatro meses depois, com a guerra já estabelecida e o território completamente transformado, Ajla é levada por soldados sérvios para o quartel da sua unidade. Ali, as mulheres bósnias muçulmanas são escravizadas e violadas constantemente. Danijel é o capitão daquela unidade. Descobre Ajla e procura protegê-la sem levantar suspeitas ou insurreições. Com todo o conflito e genocídio que acontece à volta, Danijel e Ajla envolvem-se num romance proibido e perigoso.

Jolie escreveu, produziu e realizou Na Terra de Sangue e Mel com o intuito de mostrar a guerra da Bósnia ao mundo. O tom crítico em relação à impassibilidade da comunidade internacional é demonstrado em várias alturas do filme, como numa cena em que dois soldados bósnios muçulmanos, encarando a escassez de alimento e a destruição do território, comentam a proximidade da Itália, da despreocupação e da calma que lá existe, dos “passeios ao sol”. Jolie pretende claramente condenar a política do “esperar para ver” da comunidade internacional, nomeadamente do seu próprio país. Aliás, faz mesmo crer que os Estados Unidos só intervêm mais tarde porque Bill Clinton procurara parecer bem para tentar a reeleição. Jolie também quer mostrar os crimes de guerra e não teme fazê-lo de maneira crua e sórdida – da maneira como tais crimes realmente aconteceram.

Com tudo o que Jolie quer passar para o seu público, acaba por não conseguir balancear os diversos elementos da melhor maneira. Em primeiro lugar, nunca explica as motivações da guerra ou as motivações por detrás das suas personagens. Elas estão lá, compreende-se pela forma como agem – o que resulta certamente da escolha de fazer o casting com verdadeiros sobreviventes do conflito –, mas nunca de uma forma completa ou explícita a ponto de esclarecer a audiência. Aliás, o argumento de Jolie é demasiado partidário dos bósnios muçulmanos, escondendo sempre que alguns crimes de guerra dos sérvios também foram cometidos pelos bósnios, ainda que em muito menor escala. Em segundo lugar, o romance entre Danijel e Ajla não é convincente, torna o ritmo do filme lento e liga os vários elementos e cenários da história de forma imprecisa e pouco interessante.

A produção do filme esteve envolvida em várias controvérsias, embargos e delongas. Apesar de tudo, Na Terra de Sangue e Mel é uma estreia positiva para Jolie. A sua câmara acompanha sempre todas as duras realidades com preciosismo e dedicação. Muitos não a julgariam capaz de realizar um filme, mas a verdade é o que faz com relativo talento. Se alguma coisa fica provada, é que Jolie é melhor realizadora do que é argumentista. Mas também é preciso que fique claro que Jolie nunca pretende que o seu argumento vá demasiado longe. Afinal, apesar da paz, as feridas ainda não se encontram totalmente saradas na região da Bósnia-Herzegovina. O argumento de Jolie questiona e supõe, não resolve. Nunca quer resolver, que este foi afinal um conflito que também ninguém queria resolver. 


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas

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domingo, 1 de abril de 2012

Filme: Comprámos um Zoo! (2012)


Comprámos um Zoo! retrata uma família fragilizada à procura de superar uma tragédia e de tentar um novo começo. A relação familiar é o coração do filme, polida por uma actuação inspirada de Matt Damon. A execução, porém, não é tão limada.

Benjamin Mee (Matt Damon), um repórter de aventuras recentemente viúvo, procura equilibrar o seu trabalho com as suas novas exigências familiares e domésticas. Quando o seu filho Dylan de catorze anos (Colin Ford) é expulso da escola por acumulação de faltas, Benjamin decidi desistir do seu trabalho e dedicar-se a procurar um novo começo para a sua família. Numa visita com um agente imobiliário a moradias colocadas à venda, Benjamin encontra a casa correspondente aos seus desejos. Há apenas um senão: a casa vem com um zoo. Vendo o sorriso de volta ao rosto da sua filha Rosie enquanto ela se fascina com os animais, Benjamin avança com a compra e com a recuperação do zoo. E talvez não seja a única coisa que Benjamin consegue recuperar.    

O grande tema do filme é a superação, um que pode ser encontrado em vários momentos da história. Aliás, a recuperação do zoo é uma analogia, um paralelismo, para a recuperação da família de Mee, para o fortalecimento dos laços de carinho entre eles. Benjamin Mee, apesar de ser aquele que toma os necessários esforços para começar de novo, parece ser, no entanto, o mais relutante em avançar em frente – é incapaz de frequentar os mesmos sítios que a sua falecida mulher frequentava e tudo aquilo que a faz lembrar torna-o subitamente cabisbaixo e infeliz. E a sua relutância, mais tarde no filme, em abater um velho tigre em sofrimento demonstra perfeitamente a sua insistência em querer manter as coisas como são, como eram; a sua incapacidade para deixar partir e avançar. Matt Damon consegue trabalhar todos estes elementos da sua personagem sem nunca a reduzir à pequenez ou caricaturá-la como outros têm feito em papéis semelhantes.   

Comprámos um Zoo! é o tradicional filme familiar que conjuga um drama suave com comédia ocasional. Mas este é baseado em elementos reais, inspirado nas memórias do real Benjamin Mee que na verdade comprou e recuperou um zoo em Devon, Inglaterra. O argumento de Cameron Crowe faz as necessárias adaptações para criar um ambiente mais dramático e afectivo. Mas o argumento peca por ir, em certos elementos, além do necessário. Falo, nomeadamente, da relação entre Dylan e Lily Miska, uma rapariga de treze anos que trabalha no zoo com a sua prima Kelly (Scarlett Johansson). É um ponto desnecessário da história, mal concretizado e mal representado, embora os dois jovens actores façam um esforço para tornar esses momentos agradáveis. Aliás, toda a história envolvendo Dylan está pobremente concretizada.

Scarlett Johansson está aqui num papel mais terra-a-terra do que o habitual. E assenta-lhe bem. A química entre a personagem dela e de Damon funciona melhor no campo profissional do que no emocional, mas tal resulta também da própria temática de superação e recomeço.

O ritmo de Comprámos um Zoo! poderia ser mais rápido, a música que acompanha podia ser menos alheada e se os seus vários elementos podiam ser melhor tratados. Ainda assim, Comprámos um Zoo! é filme agradável que merece a atenção do espectador, nem que seja pelo menos para se encantar com a alegria contagiante da pequena Rosie.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


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