quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Filme: Extremamente Alto, Incrivelmente Perto (2012)


Extremamente Alto, Incrivelmente Perto pretende ser um filme emocionante. Pelo menos os elementos necessários estão lá. Mas quando o momento da catarse chega, resulta insatisfatória e incompleta.

Adaptado do romance homónimo de Jonathan Safran Foer, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto mostra-nos a tocante ligação entre Oskar Schell (Thomas Horn) e o seu pai, Thomas Schell (Tom Hanks). Oskar Schell é um menino de dez anos que aparentemente sofre de Aspergers (embora o diagnóstico não seja conclusivo). Com dificuldade para estabelecer relacionamentos, para compreender comportamentos e para ultrapassar fobias múltiplas, Oskar depende do seu pai para aos poucos e poucos ir ultrapassando todas as adversidades. Para tal, Thomas desenvolve um conjunto de missões de reconhecimento para o seu filho, motivando-o a sair de casa e a passear pela cidade de Nova Iorque à procura de pistas para o que ele acredita ser o mítico sexto burgo. Uma manhã, a escola de Oskar fecha portas mais cedo. Oskar regressa a casa e repara que o gravador de chamadas tem várias mensagens. São do seu pai. É a manhã de 11 de Setembro de 2001 e Thomas Schell encontra-se no 105º andar da Torre Norte do World Trade Center. No início do filme, Oskar conta que se o Sol explodir a humanidade não saberá que está perto do seu fim durante 8 minutos, os 8 minutos que a luz demora a chegar ao planeta Terra. Durante esses minutos, afirma ele, a humanidade é feliz. Um ano depois da tragédia, do “pior dia”, Oskar teme que os 8 minutos da morte do seu pai estejam a terminar e que irá perdê-lo para sempre. Cada vez mais fechado e receoso, Oskar descobre nos bens do seu pai uma misteriosa chave de fechadura incógnita. Crendo que se trata de outra pista para a sua missão de reconhecimento pelo sexto burgo, Oskar aventura-se pela cidade de Nova Iorque.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem os elementos necessários para uma história comovente e incontornável. Com temas como aceitação, coragem e amor, a película podia ser um grande filme. Antes desta produção Stephen Daldry realizou O Leitor (em 2008). N’O Leitor, Daldry mostra impecável direcção e sabe pontuar os momentos certos do enredo com emoção e surpresa. Em Extremamente Alto, Incrivelmente Perto, Daldry falha incrivelmente. Mesmo que o material (a obra de Safran Foer) não pudesse ser grandemente modificado para uma tradução mais acertada ao grande ecrã, Daldry (e o argumentista Eric Roth por extensão) devia ter sido capaz de mover as peças do enredo na altura certa, na medida certa, em vez de tentar forçar comoções e sorrisos com cenas manipuladas. A catarse falha por isso mesmo: não resulta de um pay-off complicado e batalhador.

O jovem actor Thomas Horn pode não ter sido a melhor decisão de casting. Embora desempenhe muito bem a grande parte do seu papel, quando é chamado aos momentos de maior emoção e expressão Horn fica muito aquém do desejado, por muito que os actores adultos ao seu redor tentem retirar dele a maior genuinidade (particularmente Sandra Bullock).

Ainda assim, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem os seus grandes momentos, como uma comovedora cena entre Thomas Horn e Max van Sydow sobre as seis mensagens que o pai de Oskar deixou no gravador no “pior dia”. Acresce também a agradável (às vezes deslocada) banda sonora de Alexandre Desplat.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme e de Melhor Actor Secundário para Max van Sydow. A nomeação para Melhor Filme é incompreensível (sobretudo quando se tem em conta que ficaram de fora grandes filmes como Melancolia de Lars von Trier). A nomeação para Melhor Actor Secundário faz mais sentido - van Sydow, apesar de não pronunciar uma única palavra durante todo o filme, oferece uma performance comovedora.

O que podia ter resultado numa história extraordinária acaba numa história razoável. Quanto muito, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto é uma boa reflexão sobre as adversidades e a melancolia de alguém que perdeu uma pessoa que lhe era muito próxima e inestimável, que era o seu mundo e a sua coragem.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem data de estreia em Portugal a 1 de Março de 2012.


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas




Trailer:

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Filme: Cavalo de Guerra (2012)


Cavalo de Guerra é uma incrível jornada. Dramático, divertido e deslumbrante, percorre a crueldade da Primeira Guerra Mundial enquanto mantém um pendor de redenção, bravura e improbabilidades benditas que o transformam num trabalho incontornável e memorável.

Em Devon, Inglaterra, o jovem Albert Narracott (Jeremy Irvine) assiste ao nascimento de um potro de puro-sangue. Albert acompanha o crescimento do potro e fica encantado quando o seu pai o compra numa feira local. Dando-lhe o nome de Joey, Albert ensina-o, com muito esforço e dedicação, a trabalhar no campo (abrindo regos com uma charrua), assim tentado salvar o seu pai das dívidas que o afligem. Mas quando uma tempestade destrói tudo o que Albert e Joey conseguiram, e ao mesmo tempo que é declarada guerra à Alemanha, o pai de Albert não tem outra solução senão vender Joey ao exército. Albert despede-se com profunda tristeza de Joey, prometendo que voltarão a reencontrar-se. Joey parte numa longa jornada pela Primeira Guerra Mundial, contrariando destinos e tocando várias vidas.

O Cavalo de Guerra é o raro filme que consegue combinar vários elementos e tirar o melhor partido de todos eles. As primeiras imagens do filme, acompanhadas por uma soberba e emotiva banda sonora de John Williams, dão logo a sensação de um grande filme a caminho. O primeiro acto – até Joey ser separado de Albert – é uma obra-prima. É encantador, magistralmente filmado e eximiamente representado. Particularmente carinhoso, este primeiro acto concentra-se em mostrar o fortalecimento da relação entre Albert e Joey, ambos teimosos e arrojados. E ainda bem que o faz, pois é afinal a relação entre Albert e Joey que é o coração de toda a história.

O segundo acto, no entanto, não consegue ser tão primoroso quanto o primeiro, se calhar porque a privação da relação entre Albert e Joey é, no início, difícil de aceitar. E quando, de repente, Joey já se encontra numa carga contra forças inimigas, nada resta ao espectador do que temer pela sua sobrevivência. Mas este é um cavalo miraculoso, como várias personagens repetem ao longo do enredo. Sobrevive todas as adversidades e leva-nos por uma jornada incrível que põe a olho nu todas as ramificações de uma horrorosa guerra, desde ao afecto entre dois jovens irmãos, soldados alemães, que procuram escapar à batalha, à ternura e ao desembaraço de uma menina francesa, órfã de pai e de mãe, que vive com o seu avô numa quinta com um moinho de vento. Ainda que tocante e bem executado, este segundo acto resulta inferior ao primeiro por comportar uma mudança abrupta no desenrolar do enredo, uma que exige tempo e espaço para construir e conquistar afecto de novas personagens.

Mas depois surge o terceiro acto, compreendendo os últimos momentos da guerra e recuperando a admirável execução do primeiro acto. A visão das trincheiras (sobretudo numa espantosa cena em que Joey percorre-as de um lado ao outro) é impecável. Mas mais do que a visão das trincheiras, são os ambíguos sentimentos de medo e coragem dos soldados nelas presentes que tornam cada momento ali passado especial e perturbante. Joey é o elo de ligação entre tudo isto. «Cavalo de Guerra, que estranha criatura te tornaste» diz um soldado a Joey. É incrível que esta seja na realidade uma metáfora inteligente para a crua condição humana no tempo de guerra. Enquanto os soldados parecem desumanizar-se, Joey parece cada vez mais humano. E é Joey que acaba por ser a bandeira de esperança e milagre que mostra que a paz e a amizade são alcançáveis (como excelentemente representado numa cena em que dois soldados, um inglês e outro alemão, põem as adversidades de parte e unem esforços para libertá-lo de uns arames farpados que o aprisionam e torturam).

Steven Spielberg está em Cavalo de Guerra ao seu melhor nível. Une o drama que dominou magistralmente n’A Lista de Schindler à terrível espectacularidade das batalhas em O Resgate do Soldado Ryan. Todos os elementos de produção à volta estão irrepreensíveis. As paisagens são deslumbrantes, a fotografia é impecável (e que bela contra-luz na última cena) e os cenários e o guarda-roupa são perfeitos. Jeremy Irvine dá uma promissora actuação.

Baseado quer no livro infantil War Horse, quer na sua adaptação ao teatro, o Cavalo de Guerra é um trabalho magnífico. Encontra-se nomeado para seis Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme. E é efectivamente um dos filmes do ano. É uma lição sobre a bravura, a lealdade e a amizade. Joey liga vidas distintas durante guerra e, no fim, liga-nos também a esta incrível e emotiva viagem.


CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1568911/

Site Oficial: http://www.warhorsemovie.com/

Trailer:

Filme: Albert Nobbs (2012)


Albert Nobbs, como filme de época que é, surpreende por tornar uma questão tão proibida à época no grande tema da sua narrativa. Contudo, apesar de representações laudáveis de Glenn Close e Janet McTeer, Albert Nobbs resulta no fim como um retrato embaçado do que o filme poderia ter sido.

Em finais do século XIX, numa Irlanda cinzenta e empobrecida, Albert Nobbs (Gleen Close) é um dedicado serviçal num hotel. Introvertido e solitário, Nobbs apavora-se quando tem que partilhar o quarto por uma noite com um pintor, Hubert Page (Janet McTeer), que veio prestar um serviço ao hotel. Durante a noite, Hubert descobre o segredo de Albert: é uma mulher. Quando, mais tarde, Hubert revela ser também uma mulher, Albert sente-se finalmente menos só. Seguindo os conselhos de Hubert, Albert começa a contemplar uma vida a dois e a sonhar com uma pequena loja de tabaco. Começa a cortejar uma camareira, Helen Dawes (Mia Wasikowska), mas a chegada de um jovem rapaz, Joe Mackins (Aaron Johnson), afasta Helen de Albert e pode comprometer tudo aquilo com que Albert sonha.

Albert Nobbs é, sobretudo, uma história sobre a emancipação feminina numa época dura e pouco justa. Albert Nobbs transforma-se num homem para contrariar os tempos adversos e desiguais para o sexo feminino. Só assim consegue um emprego respeitável e um salário adequado. Só assim pode sonhar em ser livre e feliz na sua lojinha de tabaco. Mas para tal Albert sacrifica a sua feminilidade. Num baile de máscaras que decorre certa noite no hotel, um dos elementos da casa pergunta-lhe porque não veio disfarçado, desconhecendo a verdade mais profunda por detrás. Mas o mesmo elemento responde-se a si mesmo mais tarde, inadvertidamente, dizendo que «uma vida sem decência é insuportável».

Mas Albert Nobbs é também uma janela para a homossexualidade. Albert não compreende a condição, que é afinal sua também. Estranha-se, pois, várias vezes, sobre a relação de Hubert com a sua mulher. Albert já não sabe ser outra coisa que não um homem. Porta-se como um. Age como um, mesmo que uma cena na praia com Hubert mostre por uns instante a sua feminilidade perdida. E, no final, é a masculinidade que Albert aprendeu a mostrar nos últimos trinta anos que decide o seu caminho.

Glenn Close oferece uma performance de se lhe tirar o chapéu. Ajudada por uma caracterização incrivelmente convincente, Close transforma-se num homem, quer na voz, quer na postura, quer nas reacções. Mas mais do que se transformar num homem, Close transforma-se num homem que esconde uma mulher por debaixo, uma mulher assustada já quase irreal e pouco presente – o verdadeiro sucesso de Close é ser capaz de mostrar, com apenas um olhar, com um trejeito fugaz, que essa mulher ainda está lá. A par de Close, McTeer é igualmente capaz de mostrar as duas facetas, pese embora que a personagem de McTeer é mais masculina do que a de Albert alguma vez chega a ser. Na cena da praia, as personagens de Close e McTeer vestem-se com roupa de mulher – aqui, Close e McTeer mostram a verdadeira força da sua performance: parecem, na verdade, dois homens vestidos de mulher do que duas mulheres vestidas de homem vestidas de mulher.

Infelizmente, o andamento do enredo é um grande problema que a edição não conseguiu resolver. Demasiado lento e pobremente focado, Albert Nobbs desperdiça o seu tempo em pormenores desnecessários. Nomeadamente, a relação de Helen com Joe é mal executada e acompanhada. Quando o filme se foca nestas duas personagens parece que entra num universo alternativo, numa novela de intrigas e afinidades que não interessam a ninguém. Os dois actores que desempenham estes papéis também não contribuem para prender a atenção do espectador. Se Close e McTeer são a força que empurra Albert Nobbs para o estrelato, Wasikowska e Johnson são a fraqueza que o impede de lá chegar. Mas, provavelmente, nem um melhor casting teria resolvido o problema. Na verdade, esta ramificação da história não deveria sequer ter sido desenvolvida. E talvez desse modo o final de Albert Nobbs não resultasse tão fraco, abrupto e, para grande desilusão, absurdo.

Os diálogos são estupendos (os sotaques irlandeses também). Os cenários e o guarda-roupa estão primorosamente elaborados. Close e McTeer estão excepcionais (e acabam nomeadas, respectivamente, para os Óscares de Melhor Actriz e Melhor Actriz Secundária); o restante elenco (tirando Wasikowska e Johnson) cumpre bem o seu papel. É uma verdadeira pena que a coragem tenha faltado a Rodrigo García e que as duas temáticas (emancipação feminina e homossexualidade) não tenham sido mais bem trabalhadas. Albert Nobbs poderia ter ido longe.


CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1602098/

Site Oficial: http://albertnobbs-themovie.com/

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Filme: Jack & Jill (2012)


Adam Sandler tem-nos habituado às suas comédias baixas, pouco inteligentes e pouco sérias. Jack & Jill é tudo isso… e ainda pior. Marca um novo mínimo para a comédia. É uma produção amadora, quase insultuosa.

Jack (Adam Sandler) e Jill (também Adam Sandler!) são dois irmãos gémeos. Jack é um publicitário de sucesso em Los Angeles, onde vive numa sumptuosa casa com a sua mulher (Katie Holmes) e os seus dois filhos. Com o Dia de Acção de Graças a chegar, Jack teme a visita anual da sua irmã. Necessitada, agressiva e desajeitada, Jill é tudo o que Jack condena. Mas quando um grande trabalho surge na firma de Jack – um anúncio com Al Pacino (sim, ele mesmo!) –, Jill pode ser a única salvação de Jack.

A ideia de Adam Sandler a interpretar dois irmãos gémeos de sexos opostos é por si só aterradora. A execução é infinitamente pior. Agudizada por uma terrível edição, quando as duas personagens partilham o ecrã a monstruosidade da ideia assume os seus contornos mais provocadores. Também não ajuda nada que o argumento seja uma mixórdia de piadas de baixo nível, de previsibilidades e vulgaridades – e a tentativa ao cair do pano de emoção é uma afronta à inteligência do público. A personagem Jack não acrescenta nada à história – é uma personagem tão igual a tantos outros papéis de Sandler. A personagem de Jill (ignorando por um momento a pavorosa caracterização) acrescenta a mais – é irritante, extravagante, barulhenta e alienada. Se a concepção era que os gémeos representassem os pólos opostos da personalidade, falha redondamente.

Al Pacino… Porquê?... Por que haveria um actor do calibre deste senhor de manchar a sua reputação, o seu currículo e o afecto dos seus fãs com a participação neste filme?... Numa das suas primeiras falas em Jack & Jill, Pacino diz que «…está a perder a cabeça». É uma certamente não calculada ironia que reflecte bem o que espectador pensa ao longo dos 91 minutos. Além de Pacino, até Johnny Depp aparece momentaneamente em Jack & Jill – terá sido premeditado ou será que Depp estava à hora errada no sítio errado (e bem assim toda a equipa dos LA Lakers)?

O espectador que aprecia os filmes de Adam Sandler não desgostará de Jack & Jill. Todo o restante espectador abominará. E se é apenas a curiosidade que impele uma ida ao cinema, mais vale esperar alguns mesitos – é quase certo que Jack & Jill constará da programação de algum dos canais de televisão generalistas numa matiné de domingo.


CLASSIFICAÇÃO: 1 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0810913/

Site Oficial: http://www.jackandjill-movie.com/

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Filme: A Invenção de Hugo (2012)


"Os filmes têm o poder de capturar sonhos". A Invenção de Hugo não só captura o sonho como o recria, abrilhanta e transmite numa exposição espantosa da magia cinematográfica.

Hugo Cabret (Asa Butterfield) vive clandestinamente entre as paredes da estação de comboios Gare du Nord em Paris, em 1931. Órfão de pai e de mãe, Hugo realiza a manutenção dos relógios da estação enquanto o seu tio está desaparecido. Ao mesmo tempo, Hugo anda à procura das peças certas para pôr a trabalhar novamente um automaton (precursor de um robô) que conseguia escrever e que pôde talvez conter uma última mensagem do seu pai. Quando Hugo conhece Isabelle (Chloë Grace Moretz) e o seu padrinho, George Méliès (Ben Kingsley), dono de uma loja de brinquedos na estação, o automaton poderá finalmente ser reparado e a sua mensagem pode influenciar e mudar mais vidas do que Hugo imagina.

A Invenção de Hugo é uma obra excelsa sobre um menino que procura o seu lugar na máquina que é o mundo e sobre um homem que procura reencontrar o seu; "nenhuma máquina tem peças a mais". Baseado no livro The Invention of Hugo Cabret de Brian Selznick, que por sua vez se apoia em factos verídicos sobre a vida do pioneiro do cinema francês Georges Méliès, A Invenção de Hugo é muito mais do que apenas uma história. É uma janela colorida e animada para as origens do cinema, para o trabalho precursor e revolucionário dos Irmãos Lumiére e de Méliès. Méliès abandonou a sua carreira de sucesso enquanto ilusionista e apostou tudo o que tinha no cinema; é dele a famosa imagem de um foguetão a atingir um olho da Lua (no filme Le voyage dans la Lune de 1902, provavelmente o primeiro filme de ficção científica). Recuperando algumas das imagens icónicas das primeiras produções cinematográficas, A Invenção de Hugo homenageia o primeiro cinema empregando técnicas de filmagem que jamais passariam pela cabeça destes homens pioneiros. A utilização do 3D, sobretudo, é saborosa – nas mãos habilidosas de Martin Scorsese deixa de ser um elemento extra facilmente ignorado e dispensável para ser tornar numa ferramenta preciosa e elementar.

Scorsese faz aqui um trabalho verdadeiramente notável. Parece querer desenhar um paralelo entre si e Méliès – tal como ele, emprega técnicas recentes e inovadoras. Este há-de ser o seu filme mais pessoal e terno. É certamente o seu trabalho mais mágico. Considerando o carácter mais sério e histórico que os últimos três quartos de hora acarretam era importante que o filme não perdesse o seu tom mágico, divertido e emotivo. Scorsese balanceia magistralmente todos os elementos e combina-os de modo a serem apreciados por todas as idades, por todos os gostos. A fotografia é espectacular, composta quase com uma tela de pintura – aliás, como se fosse um dos filmes de Méliès pintados à mão. A banda sonora de Howard Shore é deliciosa e belíssima (faz pel’A Invenção de Hugo o mesmo que a música de Danny Elfman faz por Eduardo Mãos de Tesoura).

Os dois jovens actores, Asa e Chloë, estão sempre empenhados ao longo de toda a película, entregando-se aos respectivos papéis com a maturidade e a emoção necessárias. Uma menção em particular para Asa – depois da sua maravilhosa representação n’O Rapaz do Pijama às Riscas e agora com A Invenção de Hugo, Asa sedimenta-se cada vez mais como um dos mais promissores jovens actores. Outra menção para Sacha Baron Cohen – o seu timing de comédia é absolutamente incrível e a sua personagem, Inspector Gustav, podia perfeitamente ter direito a um spin-off.

A Invenção de Hugo está nomeado para uns impressionantes 11 Óscares da Academia. Com linguagem cuidada, personagens memoráveis e cenários de encher o olho, este é um dos filmes do ano. Assim como n’O Artista, com o qual parece, aliás, complementar-se, A Invenção de Hugo é uma justa homenagem ao cinema. Parafraseando Georges Méliès, no final do filme, vão e sonhem com A Invenção de Hugo.


CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0970179/

Site Oficial: http://www.hugomovie.com/

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Filme: J. Edgar (2012)


J. Edgar é atraiçoado pela sua própria narrativa. Dividido entre o crescimento e a influência do FBI e a vida particular de John Edgar Hoover, o filme é ultimamente incapaz de mostrar cada uma das ramificações da sua história com a ponderação necessária. Pelo menos, entrega a DiCaprio outra oportunidade para brilhar e provar que não é um mero actor de ocasião.

O filme começa com um envelhecido John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) no último período como director do Federal Bureau of Investigation (FBI). Hoover pede que lhe seja enviado ao escritório um escritor. O seu objectivo: contar as origens do FBI para o bem comum. A história olha para o passado. É 1919 e Hoover trabalha no Departamento da Justiça sob as ordens do Procurador-Geral. Quando o Procurador-Geral escapa a uma tentativa de assassinato, Hoover é colocado à frente de uma divisão criada para encontrar os culpados. Mais tarde, depois da sua investigação resultar na detenção e deportação de vários suspeitos, e já sob as ordens de um novo Procurador-Geral, Hoover é apontado director do recém-criado FBI. Reunindo à volta um conjunto de homens de confiança, com formação superior e inabalável dedicação, Hoover muda a face do combate ao crime para sempre. No “presente”, a saúde de Hoover começa a declinar, enquanto parece começar a perder o controlo do FBI e o seu braço-direito de longa data, Clyde Tolson (Armie Hammer), se retira do serviço.

Querendo ao mesmo tempo explorar a formação e aumento de poder do FBI (e, por extensão, a nova forma de investigação e procedimento criminal) e a vida e carácter de John Edgar Hoover, o filme sofre de alguma desorientação e falta de foco. Enquanto a parte do argumento (por Dustin Lance Black) debruçada sobre os primeiros anos do FBI se revela bastante interessante, coerente e cativante (ainda que nas linhas de um livro que pode, afinal, não estar completamente preciso) – nomeadamente a investigação sobre o caso Lindbergh –, a parte sobre os últimos anos de Hoover e o seu esforço para manter o seu poder e influência e manter o país livre de ameaças externas resulta desinteressante, convoluta e desnecessária. Talvez esse espaço pudesse ter sido aproveitado para explorar melhor a vida pessoal de Hoover – designadamente a relação quase acriançada com a mãe, a obsessão com o comunismo e conspiradores internos e, por último, a relação platónica com Clyde Tolson.

Mas quando J. Edgar está aplicado na boa parte do seu argumento, o filme é magnífico. DiCaprio agarra-se ao papel com distinção, capaz de compreender e reproduzir o homem que representa na plenitude das suas reflexões. É pena que a caracterização não tenha feito mais por ele. Se DiCaprio se pode queixar de alguém por não ter recebido uma nomeação para a Academia será do responsável pela caracterização. Tão má se apresenta no Hoover envelhecido que a expressão que DiCaprio pretende dar à sua representação fica limitada e deficiente. Pior é no envelhecido Clyde Tolson – Hammer nunca deveria ter permitido tal atrocidade de maquilhagem.

Clint Eastwood tem estado aquém nos seus filmes mais recentes. Ao Invictus faltou aquele cunho característico de Eastwood que torna um argumento absolutamente fascinante e incontornável (embora o potencial estivesse lá). Hereafter – Outra Vida foi um claro tiro ao lado; nem parecia um filme do homem que o realizou – mas Eastwood também avisou que aquele era um projecto algo experimental (o seu primeiro drama sobrenatural). Agora com J. Edgar, Eastwood dá esperança que o grande realizador de filmes como Cartas de Iwo Jima, Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos e Mystic River possa estar de volta em breve – J. Edgar é já pelo menos um modesto passo nessa direcção.

J. Edgar não é um mau filme. Definitivamente não é. Mas podia ser muito melhor que o produto final. Ao menos, dá oportunidade ao público geral para conhecer mais intimamente o carácter, a ambição e as motivações de um homem que chegou a ser o mais poderoso dos Estados Unidos da América (sim, mesmo mais poderoso que o próprio presidente), à frente do FBI durante 37 anos, cobrindo os mandatos de seis presidentes. O FBI nunca será indissociável de J. Edgar Hoover, e J. Edgar Hoover será sempre relembrando como o homem que introduziu uma nova forma de combate ao crime, menos física e mais científica.


CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1616195/

Site Oficial: http://jedgarmovie.warnerbros.com/

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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Filme: Os Descendentes (2012)


Os Descendentes é um drama (a designação oficial também diz comédia [?] ) terra-a-terra. O enredo é simples, as personagens são vulgares e a realização é segura. Mas esta singeleza é, afinal, a grande força de Os Descendentes. Retira de George Clooney uma representação inteligente, sincera e laudável de um marido e pai que procura o controlo emocional numa altura dramática da sua família.

Matt King (George Clooney) é um advogado em Honolulu (Havai). Fideicomissário de um terreno com 25 000 hectares na ilha Kauai, Matt sente-se numa encruzilhada. Pressionado pela família a vender o terreno (se nada for feito, em sete anos o terreno deixa de lhes pertencer aos olhos da Lei), Matt tem também que lidar com o estado comatoso da sua mulher depois de um acidente de barco. Antes um pai ausente (“o pai de reserva”), Matt procura agora reforçar a ligação com as suas duas filhas, ao mesmo tempo que procura a melhor forma de lhes transmitir e ao resto da família que a sua mulher está clinicamente morta. Quando descobre um segredo sobre a sua mulher, e quando tal segredo pode ter impacto sobre a decisão de vender ou não o terreno de 25 000 hectares, Matt tem que trazer de dentro de si toda a coragem e compostura.

Baseado no livro homónimo de Kaui Hart Hemmings, Os Descendentes é um filme peculiarmente simples. Prende a atenção do espectador com um pêndulo de emoções legítimas e contra-emoções implícitas, mesmo que já se saiba desde o início que o fim só poderá ser um. Mas é não saber como esse fim chegará, e como a vida das personagens será daí em diante, que o processo é feito com novidade e meditação. Eu acho que está tudo, diz a personagem de Clooney pela última vez no filme. Daqui para a frente tudo ficará bem, parece ainda querer dizer; embora pareça uma constatação simples, resulta de uma jornada lenta pela reconciliação, aceitação e perdão. Mas são na verdade os pequenos e tocantes momentos que acabam mesmo por marcar a película, como uma cena em que Matt mostra o terreno de 25 000 hectares às suas duas filhas: em Clooney podemos ver o ar de quem não consegue deixar o passado para trás, em Shailene Woodley, interpretando a filha mais velha, o ar de quem ainda não fez reconciliações até consigo própria e em Amara Miller, como filha mais nova, o ar de quem ainda não consegue compreender a plenitude dos acontecimentos. São estes pequenos momentos, estas pequenas e subtis trocas de olhares e palavras sentidas que faz Os Descendentes valer muito mais que a simplicidade da sua história. E é só quando Matt e as suas duas filhas se juntam no sofá, na última cena, para um genuíno momento familiar, e o ecrã fica aos poucos preto, que nos apercebemos que presenciámos uma história terna e moralizante.

Momentos há em que o filme parece que vai perder a sua espontaneidade. Mas Alexander Payne sabe ter um punho firme na câmara e manter a objectiva concentrada nos momentos mais proeminentes, ainda que de quando em vez não tema perder alguns instantes em contemplações, geralmente acompanhadas com belíssimas músicas havaianas. Mas é Clooney quem merece o mais rasgado elogio. Clooney é sobretudo a conjugação de todo o espírito do filme: é um marido amargurado e desiludido; é um pai afectuoso e atrapalhado; é um familiar empenhado e consciente. A interacção entre Clooney e Woodley é particularmente encantadora e genuína.

Os Descendentes está nomeado para cinco Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor. Embora talvez não ganhe nenhuma destas três principais categorias (com a fortíssima concorrência d’O Artista), Os Descendentes marca o ano cinematográfico de 2011 por ser uma película arriscada – poderia falhar crassamente à primeira decisão de realização errada – que resulta primorosamente numa história e numa reflexão sobre a vida, a morte e o poder de reconciliação.


CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1033575/

Site Oficial: http://content.foxsearchlight.com/films/node/4365

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Filme: A Dama de Ferro (2012)


Meryl Streep é uma força da natureza. Nomeada dezassete vezes pela Academia, Streep não dá mostras de abrandar. Em A Dama de Ferro, prova uma vez mais ser uma das melhores actrizes de sempre. É pena que a produção à sua volta não chegue minimamente perto da sua categoria.

A Dama de Ferro começa com uma idosa e desorientada Margaret Thatcher (Meryl Streep). Alucinando com o falecido marido (Jim Broadbent), Thatcher apresenta dificuldade para distinguir entre o passado e o presente. Através de flashbacks, a ascensão política de Thatcher é mostrada, bem como o preço pessoal que pagou, até à sua eventual demissão em 28 de Novembro de 1990.

Margaret Thatcher é a primeira-ministra com o mandato mais longo do Reino Unido. Ocupou o cargo durante 11 anos (entre 1979 e 1990). Conservadora, obstinada e decidida, Thatcher liderou o Reino Unido ao fim da terrível crise económica que se arrastava desde o final da Segunda Guerra Mundial; o seu governo atravessou a última década da Guerra Fria, a crise na Irlanda do Norte e a breve Guerra das Malvinas. Polarizando críticos e apoiantes, Thatcher manteve-se sempre determinada no poder, sempre assertiva com as suas crenças, e pelo bem ou pelo mal ficará sempre conhecida pela história como a dama de ferro.

Meryl Streep encaixa-se no papel como a mão numa luva, retratando quer Thatcher como primeira-ministra, quer Thatcher nos anos mais recentes. A transformação do seu discurso, dos seus trejeitos, da sua voz e do seu aspecto é verdadeiramente notável. Durante os cerca de 100 minutos, não é Meryl Streep quem está no ecrã, mas sim uma perfeita e omnipotente encarnação que estabelece uma nova marca para a representação.

Streep não podia ser mais perfeita. O mesmo não pode ser dito do filme em si. Com o título A Dama de Ferro, a película de Phyllida Lloyd pouco faz para explorar as origens e as motivações de Thatcher. A audiência é forçada a reconhecer que Thatcher é assim e a aceitar que cada decisão que ela toma ao longo do enredo tem uma qualquer fundamentação no passado. Sendo certo que se fica com a ideia que Thatcher não quer ser uma mulher como as outras (“uma mulher que fica agarrada ao braço do marido a sorrir enquanto ele cumprimenta os amigos”) e que quer marcar a diferença, não é suficiente para se compreender todas as intricadas deliberações, por mais discursos encorajadores que Streep profira ao longo dos 100 minutos. O filme deveria, pois, ter gasto algum tempo a explorar a infância e a adolescência. Além disso, e embora pretenda ser uma biografia da vida de Thatcher como primeira-ministra, teria feito mais sentido focar a história num ponto particular do longo mandato. Teria sido assim possível mostrar Thatcher na essência do seu carácter, das suas convicções e da sua força. Em vez disso, o filme decorre numa sucessão rápida e mal explicada dos vários momentos que marcaram o mandato, como um álbum de recordações desinteressante, geralmente acompanhados com segmentos noticiosos que lembram os documentários do Canal História. A Dama de Ferro arruína assim qualquer tentativa de mostrar o lado humano, de mulher, de Thatcher. Deveria ter sido mais como A Rainha (2006) em que Helen Mirren interpreta Isabel II nos tempos que advêm à morte de Diana, Princesa de Gales… E quando parece que finalmente Streep pode ser a dama de ferro, já para o fim do mandato de Thatcher, a história regressa abruptamente ao presente e o filme termina numa nota desapontante.

A decisão de interligar o enredo entre o presente e o passado de Thatcher também não resulta, ainda que dê a oportunidade a Streep de representar duas versões complexas da mesma personagem. Com esta escolha de direcção, Jim Broadbent acaba subaproveitado e não tem espaço para adicionar camadas à sua personagem; é mais um figurante, uma visão efémera e indistinta, do que uma figura real e credível. Broadbent, por tudo o que tem dado ao cinema britânico, merecia melhor.

Por Streep, vale a pena ver A Dama de Ferro; pela sua caracterização, pelo seu empenho e pela sua sempre imensa e incomparável dedicação. Por tudo o resto, nem tanto… tão-pouco. Não é pois de estranhar que o filme esteja nomeado para o Óscar de Melhor Actriz Principal (provavelmente arrecadará) e para o Óscar de Melhor Caracterização e que falhe qualquer eleição para as categorias de produção e realização.

A Dama de Ferro estreia em Portugal no dia 09 de Fevereiro de 2012.


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1007029/

Site Oficial: http://www.theironladymovie.co.uk/blog/

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Filme: A Árvore da Vida (2011)


Terrence Malick não é um realizador de muitos filmes. A sua carreira começou em 1969 e desde então realizou apenas cinco filmes. A Árvore da Vida é o seu sexto. Com um currículo tão curto é de esperar que cada filme de Malick seja uma experiência única. Para o pior ou para o melhor, A Árvore da Vida é precisamente isso.

A Árvore da Vida começa com um ensinamento fundamental: todos os indivíduos têm que escolher entre o caminho da graça e o caminho da natureza. O caminho da graça é o caminho da virtude, do perdão e da afeição. O caminho da natureza é o caminho da competição, da força e da conquista. Algures na década de 60 em Waco, Texas, Mr. O’Brien (Brad Pitt) – personificando a natureza – e Mrs O’Brien (Jessica Chastain) – personificando a graça – recebem a terrível notícia de que um dos seus filhos morreu. No tempo presente, Jack (Sean Penn), o irmão mais velho, recorda a sua infância e sua adolescência em Waco, o irmão que perdeu e questiona-se se tomou o caminho certo.

A Árvore da Vida não é de visualização fácil. A interpretação é ainda mais difícil. Malick faz um trabalho experimental nesta produção: sem uma linha de sucessão clara, o enredo surge fragmentado entre momentos de reflexão, momentos de diálogo minimalista e momentos de música deslumbrante e arrebatadora que acompanham questões filosóficas sobre a vida, a fé e a morte. Aliás, a fé é o grande fio condutor da história. Malick, que escreveu o argumento, parece querer passar a ideia de um grande arquitecto do universo que actua indirectamente. Uma impressionante sequência com efeitos especiais criados manualmente com recurso a químicos, fumos, luzes e chamas, mostra a criação do Universo, a formação da Via Láctea, do Sistema Solar, do Sol e, por último, da Terra e da Vida. Se alguma ideia Malick pretende passar com esta sequência é que a Vida é o resultado de uma combinação de probabilidades infinitamente pequenas.

Ao fim de uma hora, A Árvore da Vida estabiliza por fim a sequência vertiginosa de imagens e questões (um trabalho de edição complexo e meticuloso). Até aqui o filme parecia tomar os contornos de uma obra-prima, mas é curiosamente quando o enredo se torna mais limpo e palpável que o filme perde a sua potencialidade. Apesar de manter o carácter reflectivo, filosófico e simbólico, a experiência convulsionada de Malick perde fôlego e importância. É recuperada no último quarto de hora, mas surge tão de repente e descontextualizada que o significado desse derradeiro acto não é claro à primeira vista.

Brad Pitt, tal como em Moneyball, oferece uma performance inteligente e consegue exprimir com classe o caminho da natureza. Jessica Chastain é verdadeiramente adorável; é como a mãe que todos gostariam de ter – Mrs. O’Brien é virtude, é perdão e é afeição. Hunter McCracken, como o jovem Jack, oferece uma representação genuína e anormalmente madura. É um jovem actor para manter olho em cima.

A Árvore da Vida resulta de uma produção difícil, rejeitada e adiada. Agora que finalmente foi concretizada, está nomeada para três Óscares: Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Fotografia. Não sendo certo que ganhe algum deles, é certo que não ficará esquecida. Alguns espectadores admirarão A Árvore da Vida; outros simplesmente repudiá-la-ão. Podia ter-se tornado uma incontornável obra-prima; não o sendo, é apenas um grande filme.


CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0478304/

Site Oficial: http://www.twowaysthroughlife.com/

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Filme: Moneyball: Jogada de Risco (2012)


Moneyball é uma história de oposição e perseverança, sobre um homem que desconstrói o que é dado como certo para atingir um novo nível de perfeição com os menores recursos possíveis. Bennett Miller regressa seis anos depois do seu último filme (Capote) em forma, mas é Brad Pitt com uma performance anormalmente simples e genuína que atrai as luzes da ribalta.

Billy Beane (Brad Pitt) é um antigo defesa exterior da equipa Oakland Athletics da Major League Baseball. Agora manager da equipa, Billy está aborrecido pela derrota da sua equipa com os New York Yankees nos playoffs de 2001. A iminente saída das principais estrelas do clube colocam Billy sob pressão para construir uma equipa competitiva para 2002 com um orçamento reduzido. Quando, numa visita aos Cleveland Indians, Billy se cruza com Peter Brand (Jonah Hill), um jovem formado por Yale em economia com ideias radicais sobre a forma de avaliação da performance dos jogadores, Billy decide tomar uma decisão inesperada: investir em jogadores medíocres e baratos que cumprem os requisitos mínimos. Os olheiros do clube, e particularmente o treinador Art Howe (Philip Seymor Hoffman), revelam-se insatisfeitos com a abordagem proposta por Billy e o ambiente no clube torna-se hostil. Billy contrata Peter Brand para seu assistente e decide seguir avante com o seu plano. Mas quando a temporada de 2002 começa a equipa composta à revelia por Billy revela-se um fracasso e os críticos, quer dentro quer fora do clube, apontam o dedo a Billy. Mas Billy não pretende desistir já e talvez nem tudo esteja já perdido.

Depois de Capote em 2005, Bennett Miller torna a realizar um filme coerente e novamente retira do seu actor principal uma performance notável. Com Capote, Philip Seymor Hoffman foi premiado com o Óscar para Melhor Actor. Com Moneyball, Miller conseguiu – pelo menos, até se ver – uma nomeação para Brad Pitt. Pitt é sobretudo conhecido pelos seus filmes mais comerciais, como o Façam as vossas apostas (2001), Tróia (2004), Mr. & Mrs. Msith (2005) e Sacanas sem Lei (2009). Mas Pitt tem-se pontualmente revelado um actor com o seu próprio mérito. Quem é que pode esquecer o seu papel de irritadiço detective em Se7en, ou o brilhante papel de homem que envelhece ao contrário n’O Estranho Caso de Benjamin Button, que lhe valeu a primeira nomeação da Academia para Actor Principal. Em Moneyball, Pitt dá, provavelmente, a sua melhor performance. Desempenha o papel de um homem possante, astuto e desafeiçoado, mas é sempre possível ver na sua expressão e nos seus gestos as marcas de um homem conflituoso e amargo, de alguém supersticioso que tomou no passado as decisões erradas. É esta subtileza da representação de Pitt que torna a sua performance verdadeiramente excepcional, uma que se calhar pode ser desprezada à primeira vista.

Jonah Hill revela-se uma surpresa neste filme. Depois de um extensivo rol de papéis pouco sérios e interessantes, prova aqui ser afinal um actor empenhado e a ter em conta. Philip Seymor Hoffman desempenha um pequeno papel, mas comanda cada momento em que aparece no ecrã com preciosismo e compromisso.

O argumento é assinado por Steven Zaillian e Aaron Sorkin, adaptado do livro Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game de Michael Lewis sobre a histórica verídica de Billy Beane. Tal como em Millenium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres, Steven Zaillian faz uma tradução meticulosa e sensata para o grande ecrã. Por este argumento foi nomeado pela Academia para o Óscar respectivo, mas provavelmente a nomeação resulta do seu trabalho em ambos os filmes.

Moneyball é um filme difícil para aqueles que não estão familiarizados com o basebol e a sua linguagem técnica. Para os amantes deste desporto, Moneyball é um filme delicioso e uma justa homenagem aos indivíduos envolvidos. Para o restante público, Moneyball é um bom filme sobre a luta de um homem para transpor os seus erros passados e o seu esforço para tornar um desporto muitas vezes injusto num espaço para a perseverança e a aptidão trabalhada. Moneyball está nomeado para 6 Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actor Secundário.


CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1210166/

Site Oficial: http://www.moneyball-movie.net/

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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Filme: Millennium 1 – Os Homens que Odeiam as Mulheres (2012)



Millenium 1 – Os Homens que Odeiam as Mulheres pode muito bem ser um dos filmes do ano. Certamente é dos melhores thrillers dos últimos anos. As sociedades modernas são corruptas e muitas vezes maldosas, com repugnantes actos contra os seus próprios elementos, e Millenium 1 não tem medo de o mostrar da forma mais crua e sórdida.

Os Homens que Odeiam as Mulheres introduz-nos Mikael Blomkvist (Daniel Craig), co-proprietário da revista Millennium. Mikael acaba de perder uma batalha judicial com Hans-Erik Wennerström por causa de um artigo acusador (sobre corrupção) que publicou na sua revista. Caído em desgraça e com uma avultada indemnização para pagar, Mikael afasta-se da Millennium e da direcção. É nesta altura que surge Henrik Vanger (Christopher Plummer) com uma proposta de trabalho: investigar o desaparecimento da sua sobrinha, Harriet Vanger, há quarenta anos da pequena ilha onde toda a esquisita e dividida família vive. Henrik está convencido de que alguém na sua família assassinou Harriet. Aliciado pelo dinheiro que tanta falta lhe faz, Mikael relutantemente aceita o trabalho e muda-se para a pequena ilha. Quando a investigação fica progressivamente complexa, Mikael procura uma investigadora e é-lhe apresentado Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma jovem mulher, brilhante hacker, que está sob guarda tutorial por alegada incompetência mental. Lisbeth surge como alguém complexo e perturbado, mas deslumbrante, pelo que não é difícil torcer por ela quando uma pequena vingança pessoal é exercida de forma tão desorientadora (e assustadoramente justa) na primeira parte da história. Mikael e Lisbeth transformam-se numa dupla perfeita e improvável (às vezes admiravelmente errada) e investigam o complicado caso de Harriet sem saberem que o perigo está mais próximo e presente do que julgam.

Stieg Larsson escreveu a sua trilogia Millennium para alertar o povo sueco para a violência e abuso sexual de mulheres que decorria no país há largos anos. Larsson tinha em mente dez livros, mas morreu prematuramente aos 50 anos (e há quem diga que foi o seu trabalho a provocar a sua morte). Larsson não viveu para ver a sua obra traduzida para o grande ecrã numa produção sueca em 2009 por Niels Arden Oplev. Com o inesperado sucesso desta produção, foi quase inevitável um remake americano. David Fincher assumiu a realização e provavelmente não poderia ter havido uma melhor escolha. Afinal, Fincher tem no seu currículo alguns dos melhores thrillers dos últimos anos, como o Se7en, O Jogo e o Clube de Combate, além de fantásticos dramas recentes como O Estranho Caso de Benjamin Button e o incontornável [A] Rede Social. E Fincher prova efectivamente com este filme ser um mestre do thriller. A intriga, o suspense e o mistério estão presentes nesta produção como em nenhuma outra de Fincher, o que certamente é consequência da arte incomum de Larsson, impecavelmente traduzida para o grande ecrã por Steven Zaillian. Fincher controla a câmara com uma meticulosidade impressionante e cada cena engloba histórias que vão além daquilo que o diálogo por vezes rígido quer passar.

Fincher brilha no Millennium 1, mas Fincher caminha sobre águas conhecidas e peca em última instância por não trazer nada inovador. A mestria que apresenta é já uma mestria consagrada. Mas o mesmo não pode ser dito de Rooney Mara. Até aqui pouco reconhecida (o seu papel mais conhecido há-de ser o de Erica Albright n’A Rede Social), Mara metamorfoseia-se completamente para o papel de Lisbeth Salander. Não teve receio de mudar o seu corpo e a sua imagem e desempenha o seu papel de forma misteriosa, estranhamente sedutora e arrebatadora. Ela é a verdadeira estrela do filme. Daniel Craig, apesar de não estar aqui ao nível de Mara, oferece uma performance admirável que os seus últimos papéis não têm permitido (em momentos do filme é difícil dissociá-lo do seu papel de James Bond).

A sombria banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross (que já tinham colaborado antes com Fincher n’A Rede Social – arrecadando o Óscar respectivo) acompanha sempre o enredo de uma maneira inteligente. Com sons electrónicos e melodias partidas, torna a experiência cinematográfica extasiante e faz esquecer que o filme dura duas horas e meia. Aliás, o defeito do filme é mesmo a sua duração. Não pelo tempo em si, mas porque a última meia hora desenvolve um epílogo demasiado extensivo e desnecessário que corta o ritmo alucinante do enredo, embora não se possa culpar Steven Zaillian por querer incluir tantos elementos quanto possível da obra-prima de Larsson.

Millennium 1 está nomeado para cinco prémios da Academia e revelou-se um sucesso que já garantiu a produção das duas próximas sequelas que completam a trilogia de Larsson. Millennium 1 é a consagração da irrepreensível direcção e da metódica e arrebatadora representação. A Suécia sempre foi encarada como uma sociedade respeitadora, justa e igual. Larsson mostrou como jornalista e activista que há podres escondidos que dá jeito serem ignorados. Larsson indignou-se e escreveu a trilogia Millenium. Fincher aplaudiu-o e realizou Os Homens que Odeiam as Mulheres com a dedicação que lhe é devida.


CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1568346/

Site Oficial: http://www.dragontattoo.com/site/

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Filme: O Artista (2012)


Nunca tendo visto antes um filme mudo, entrei na sala de cinema para ver O Artista com alguma apreensão. Afinal, estavas prestes a ver um filme mudo em 2012 – uma produção de 2011! –, quase cem anos depois da época de ouro deste cinema. Qualquer apreensão que eu tivesse não podia estar mais fora de sítio. Não é raro que se atribua ao cinema a categoria de sétima arte, mas é raro que tal designação tinha verdadeira justeza. O Artista é por seu mérito uma aclamação da sétima arte.

O Artista introduz-nos George Valentin (Jean Dujardin) na ante-estreia do seu mais recente filme, em 1927. Em poucos minutos, Jean Dujardin e o seu alter-ego do ecrã preto e branco provam ser incríveis expressionistas na película, tal como Amadeo de Souza Cardoso era com a tela, controlando cada movimento do rosto com uma precisão tal que a ausência de discurso é dificilmente notada. Na rua, num grupo de fãs que aguardada ansiosamente a saída do seu ídolo e o encanto do seu sorriso, está Peppy Miller (Bérénice Bejo). Na confusão, Peppy esbarra acidentalmente com George e uma fotografia do momento acaba a fazer a capa na revista Variety, sob o título “Quem é esta rapariga?” (Who’s That Girl?). A audiência, por mérito do argumento ou de Bérénice Bejo, pergunta-se a mesma coisa. Com uma graciosidade que lembra Ingrid Bergman e uma desenvoltura que lembra Debbie Reynolds, Bérénice Bejo impõe-se no ecrã como uma musa fora-de-época que provavelmente terá Woody Allen à procura do argumento certo para outra estreia em Cannes.

George e Peppy tornam a encontrar-se mais tarde no set do novo filme de George, onde Peppy desempenha um pequeno papel de figurante. Depois de uma divertida sequência de takes mal conseguidos, em que a química entre os dois fica bem patente, George oferece a Peppy alguns conselhos que a colocarão no caminho do estrelato.

Passam-se dois anos e o cinema mudo perde notoriedade para o cinema falado (“talkies”). George recusa-se a aceitar a nova tendência e decide realizar e estrelar no seu próprio filme. Mas com popularidade cada vez mais pequena e com o crash na bolsa de 1929 que dá início à Grande Depressão, George perde tudo, dando oportunidade a Jean Dujardin para novamente puxar dos seus galões e outorgar ao seu papel outra dimensão. Com o companheirismo do seu cão Jack (o fabuloso e talentoso Uggie), George pode ainda ter uma oportunidade quando Peppy aparece para ajudá-lo.

A banda sonora de Ludovic Bource acompanha a história com uma magnitude belíssima, assinalando cada momento como uma ópera de duas dimensões. Michel Hazanavicius realiza o filme com uma técnica e coerência impressionantes, que resultam de extensivas pesquisas sobre os anos 20 de Hollywood e das artes usadas na época. Hazanavicius assina também o argumento.

O Artista surgiu de repente no panorama cinematográfico para fazer lembrar as velhas glórias de Hollywood e mostrar algumas direcções ao cinema moderno. Empregando em partes o tom reflectivo e trágico de Citizen Kane e em partes a paixão e a vivacidade de Serenata à Chuva, O Artista é um fenomenal melodrama. Nomeado para dez Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Actor Principal e Melhor Actriz Secundária, é quase certo que O Artista ocupará um merecido lugar no panteão dos clássicos do cinema.

As velhas artes não morrem e podem sempre regressar à glória no tempo moderno. Pela sétima arte, O Artista provou isso mesmo.

O Artista tem estreia agendada em Portugal para 3 de Fevereiro de 2012.

CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1655442/

Site Oficial: http://weinsteinco.com/sites/the-artist/

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Filme: Crónica (2012)


E se três adolescentes ganhassem da noite para o dia habilidades sobre-humanas? E se as usassem para fins lúdicos? Parecem as premissas de um banal filme hollywoodesco que sacrifica o desenvolvimento emocional e psicológico das personagens por cenas de acção de abrir o olho. Se o Crónica é alguma coisa, é tudo menos isso.

Através do estilo “câmara-única” que tem conquistado o seu lugar nas produções cinematográficas desde que O Projecto Blair Witch tomou de surpresa as audiências mundiais em 1999, e que subiu à proeminência com filmes como Actividade Paranormal (e respectivas [pre]sequelas) em 2007 e Cloverfield em 2008, o Crónica surge do nada para inovar/reciclar uma vez mais o conceito da origem de hercúleos humanos. Aliás, o filme parece mesmo pedir emprestado alguma da tonalidade característica desses filmes – o tom pertubador de Blair Witch e Actividade Pananormal e a espectacularidade terrível de Cloverfield.

O primeiro acto mostra-nos Andrew Detmer (Dane DeHaan), um adolescente que começa a relatar o seu dia-a-dia numa câmara recentemente comprada (a objectiva através da qual corre a maioria do filme). O ambiente familiar de Andrew cedo mostra-se complicado: a sua mãe tem cancro em fase terminal e necessita de caríssimos medicamentos; o seu pai é um reformado bombeiro forçado a se aposentar por causa de uma lesão e recebe uma pensão vitalícia que mal chega para suportar os encargos financeiros da família. Inconformado, o pai de Andrew afoga as mágoas em álcool e culpa o filho por tudo o que corre mal. Mas se a vida de Andrew em casa não é fácil, na escola é ainda pior. Impopular e diferente, Andrew é vítima de bullying às mãos dos seus colegas.

Uma noite, Matt Garetty (Alex Russell), primo de Andrew, entusiasta pela filosofia, leva-o a uma rave perto dos bosques. Ali perto, um misterioso buraco no chão que emite um som alto e estranho é descoberto. Matt e Steve Montgomery (Michael B. Jordan), candidato a presidente da associação de estudantes – lembrando um carismático Barack Obama na adolescência –, convencem Andrew a entrar com eles para que a aventura possa ser relatada por inteiro na sua câmara. Lá dentro, os três jovens encontram um brilhante objecto – algo que encaixaria perfeitamente num sci-fi como o recente Super 8 de J.J. Abrams – que parece ser a origem do estranho som e de fenómenos que contrariam as leis da física. Algo acontece, algo que o espectador não vê, uma escolha de direcção que funciona bem e lança um excelente mistério que pode muito bem ocupar o argumento de uma sequela.

O segundo acto começa semanas depois do incidente no buraco. Os três jovens, agora amigos íntimos, começam a desenvolver poderes sobre-humanos. Com a mente são capazes de mover, atirar e parar objectos. Depressa descobrem que também conseguem inverter o efeito da gravidade e voar. Mas também depressa descobrem que as suas acções podem ser perigosas quando um inadvertido acidente põe um homem no hospital.

Conscientes do perigo que o mau uso das suas habilidades pode causar, optam por não demonstrá-las em público. Mas esta regra é quebrada quando Andrew procura melhorar a sua popularidade na escola num concurso de talentos. Quando o plano falha, e com crescentes problemas em casa de Andrew, a amizade dos três jovens é posta em causa, encaminhando-nos para um fenomenal terceiro acto que rivaliza com (e ultrapassa) as sequências de acção das recentes megalómanas produções de Michael Bay (o Crónica foi produzido com um modesto orçamento de 15 milhões de dólares).

O Crónica funciona como uma película sobre as origens de super-heróis porque mantém o seu foco do início ao fim no coração das personagens, nas suas motivações e nos seus problemas. É das forças e fraquezas de cada um que grandes decisões são feitas e que caminhos desvirtuosos são tomados. Se alguma, esta é a grande mensagem que o Crónica propõe-se a passar à sua audiência em cerca de 85 minutos. Com um elenco jovem e à-vontade no seu papel, o filme surge como uma aragem fresca na panóplia de produções inúteis que têm preenchido os estúdios de Hollywood nos últimos tempos. Com pouco dinheiro, Josh Trank, com apenas 26 anos, prova que é possível realizar um filme merecedor de atenção e nome. Max Landis, também com 26 anos, assina o original argumento.

Crónica tem estreia agendada em Portugal para 3 de Fevereiro de 2012.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1706593/

Site Oficial: https://www.facebook.com/Chronicle

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