quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Filme: A Invenção de Hugo (2012)


"Os filmes têm o poder de capturar sonhos". A Invenção de Hugo não só captura o sonho como o recria, abrilhanta e transmite numa exposição espantosa da magia cinematográfica.

Hugo Cabret (Asa Butterfield) vive clandestinamente entre as paredes da estação de comboios Gare du Nord em Paris, em 1931. Órfão de pai e de mãe, Hugo realiza a manutenção dos relógios da estação enquanto o seu tio está desaparecido. Ao mesmo tempo, Hugo anda à procura das peças certas para pôr a trabalhar novamente um automaton (precursor de um robô) que conseguia escrever e que pôde talvez conter uma última mensagem do seu pai. Quando Hugo conhece Isabelle (Chloë Grace Moretz) e o seu padrinho, George Méliès (Ben Kingsley), dono de uma loja de brinquedos na estação, o automaton poderá finalmente ser reparado e a sua mensagem pode influenciar e mudar mais vidas do que Hugo imagina.

A Invenção de Hugo é uma obra excelsa sobre um menino que procura o seu lugar na máquina que é o mundo e sobre um homem que procura reencontrar o seu; "nenhuma máquina tem peças a mais". Baseado no livro The Invention of Hugo Cabret de Brian Selznick, que por sua vez se apoia em factos verídicos sobre a vida do pioneiro do cinema francês Georges Méliès, A Invenção de Hugo é muito mais do que apenas uma história. É uma janela colorida e animada para as origens do cinema, para o trabalho precursor e revolucionário dos Irmãos Lumiére e de Méliès. Méliès abandonou a sua carreira de sucesso enquanto ilusionista e apostou tudo o que tinha no cinema; é dele a famosa imagem de um foguetão a atingir um olho da Lua (no filme Le voyage dans la Lune de 1902, provavelmente o primeiro filme de ficção científica). Recuperando algumas das imagens icónicas das primeiras produções cinematográficas, A Invenção de Hugo homenageia o primeiro cinema empregando técnicas de filmagem que jamais passariam pela cabeça destes homens pioneiros. A utilização do 3D, sobretudo, é saborosa – nas mãos habilidosas de Martin Scorsese deixa de ser um elemento extra facilmente ignorado e dispensável para ser tornar numa ferramenta preciosa e elementar.

Scorsese faz aqui um trabalho verdadeiramente notável. Parece querer desenhar um paralelo entre si e Méliès – tal como ele, emprega técnicas recentes e inovadoras. Este há-de ser o seu filme mais pessoal e terno. É certamente o seu trabalho mais mágico. Considerando o carácter mais sério e histórico que os últimos três quartos de hora acarretam era importante que o filme não perdesse o seu tom mágico, divertido e emotivo. Scorsese balanceia magistralmente todos os elementos e combina-os de modo a serem apreciados por todas as idades, por todos os gostos. A fotografia é espectacular, composta quase com uma tela de pintura – aliás, como se fosse um dos filmes de Méliès pintados à mão. A banda sonora de Howard Shore é deliciosa e belíssima (faz pel’A Invenção de Hugo o mesmo que a música de Danny Elfman faz por Eduardo Mãos de Tesoura).

Os dois jovens actores, Asa e Chloë, estão sempre empenhados ao longo de toda a película, entregando-se aos respectivos papéis com a maturidade e a emoção necessárias. Uma menção em particular para Asa – depois da sua maravilhosa representação n’O Rapaz do Pijama às Riscas e agora com A Invenção de Hugo, Asa sedimenta-se cada vez mais como um dos mais promissores jovens actores. Outra menção para Sacha Baron Cohen – o seu timing de comédia é absolutamente incrível e a sua personagem, Inspector Gustav, podia perfeitamente ter direito a um spin-off.

A Invenção de Hugo está nomeado para uns impressionantes 11 Óscares da Academia. Com linguagem cuidada, personagens memoráveis e cenários de encher o olho, este é um dos filmes do ano. Assim como n’O Artista, com o qual parece, aliás, complementar-se, A Invenção de Hugo é uma justa homenagem ao cinema. Parafraseando Georges Méliès, no final do filme, vão e sonhem com A Invenção de Hugo.


CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0970179/

Site Oficial: http://www.hugomovie.com/

Trailer:

1 comentário:

  1. Fantástica resenha, não poderia concordar mais contigo!

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

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