quarta-feira, 30 de julho de 2014

Filme: O Homem Mais Procurado (2014)

Meticuloso e imersivo, O Homem Mais Procurado é um magnífico thriller, belissimamente filmado. Com excelentes interpretações, o destaque recai num dos derradeiros trabalhos de Philip Seymour Hoffman, novamente brilhante e inspirador, prova do enorme vazio que deixa na sétima arte.

Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin), filho de pai russo e mãe tchetchena, entra ilegalmente na Alemanha através do porto de Hamburgo. Issa pretende reclamar a avolumada herança do seu pai deixada no banco de Tommy Brue (Willem Dafoe) e conta com a ajuda da advogada Annabel Richter (Rachel McAdams). A chegada de Issa, considerado terrorista pelos serviços secretos, precipita a investigação alemã de Günther Bachmann (Philip Seymour Hoffman) e a investigação norte-americana de Martha Sullivan (Robin Wright) sobre um suspeito financiador de terrorismo.

Adaptado do romance homónimo do mestre de espionagem John le Carré, O Homem Mais Procurado é um cuidadoso thriller envolvido numa ambiência construída com um clima de vigilância, desconfiança, intriga e mistério. A filmagem sub-reptícia do realizador Anton Corbijn, com ângulos de esguelha e uma câmara inquieta, introduz no espectador a sensação de que é parte integrante da investigação de Günther, um elemento silencioso, um testemunho observante da operação, dos elementos e das vontades em jogo. A sensação de visualizar O Homem Mais Procurado, no seu apropriado ritmo paulatino, é uma de um acto de binge-watching, quando se visualizam seguidamente, sem pausas, todos os episódios de uma série televisiva. Em tal acto, o espectador encontra-se cônscio de que levará tempo para a conclusão da narrativa e de todas as suas ramificações. Todavia, perfeitamente embrenhado na história e no estilo, emprega-o a na expectativa de uma caminhada imersiva e entusiasmante. Nesta maneira, O Homem Mais Procurado podia durar horas sem importunar.

Não dura. Tem obviamente uma duração cinematograficamente adequada. A forma como agarra e embala o espectador na sua viagem por um Hamburgo mais clandestino e sombrio, mais pobre e inseguro, sob os tons da parca iluminação nocturna e da música de suspense, é encorajadora. O interesse é pelo jogo de poderes à vista entre pessoas, convicções e agências governamentais, mesmo quando teoricamente aliadas. Embora, como deixa claro no derradeiro plano do filme, Anton Corbijn coloque o espectador no banco do passageiro, de simples e neutra testemunha, é inevitavelmente estabelecida uma fidelidade com Günther e com a sua investigação. É esta fracção da complexa rede de espionagem que o espectador quer ver triunfar, mesmo que os destinos de Issa e de Annabel, do outro lado do puzzle, possam ficar suspensos no ar. Quando a tensão se acumula e atinge o auge no acto final, todos os destinos e todas as paradas em jogo, a operação de Günther é aquela que ultimamente se quer ver vencedora. Faz o coração bater mais rápido ante a tensão crescente e o tropeção que se sente iminente.    

Talvez parte desta inflexão para o lado de Günther se deva a Philip Seymour Hoffman. Aliás, é totalmente mérito da sua qualidade, maior e mais longa do que a própria vida. A brilhante interpretação de Seymour Hoffman torna a sua morte precoce mais profunda. Discutivelmente, nunca Seymour Hoffman se apresentou mal no grande ecrã. É [na sétima arte, permanece imortal] um actor de método incomparável, um talento de uma geração, absolutamente confiante das suas capacidades interpretativas. Mesmo quando a narrativa de O Homem Mais Procurado parece estagnar, Seymour Hoffman eleva o material à sua disposição e inspira o elenco a magníficas interpretações. Seymour Hoffman nunca deixa nada ao acaso. Enquanto os seus companheiros no grande ecrã procuram um ar aprumado e arranjado, Seymour Hoffman, com a maior das naturalidades, ajeita as calças, coça-se, limpa uma orelha. Uma demonstração de naturalidade tão superior que eleva Seymour Hoffman de um interpretador para um vivedor.

A resolução de O Homem Mais Procurado pode deixar alguma água na boca, mas a forma tentativamente realista que Anton Corbijn emprega não podia permitir outro desfecho que não um em aparente in medias res. Operações secretas como a de Günther nunca são um fim em si mesmas, independentemente dos seus sucessos ou falhanços. Há sempre mais algum jogador em jogo e o fim de uma operação serve apenas para dar lugar ao começo de outra. O Homem Mais Procurado acompanha a operação de Günther enquanto o espião tem controlo dos acontecimentos; quando já não está nas suas mãos, já não interessa sinceramente, nem para a narrativa nem para o espectador. Qualquer outra tentativa de desfecho poderia ter arruinado o filme; aliás, como acaba, parece eternizar Günther no seu acto, o que não é senão a homenagem correcta ao seu intérprete, assim celebrado. 

CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Filme: A Emigrante (2014)

A história de luta e de desespero de A Emigrante é notável. Todavia, a direcção de James Gray, bem como o sofrível argumento, destroem qualquer hipótese de tornar A Emigrante num trabalho excepcional, por maior que o esforço do trio Cotillard- Phoenix-Renner. 

No auge da emigração para os Estados Unidos da América, Ewa Cybulska (Marion Cotillard), polaca de nascença, é uma das incontáveis pessoas que procuram uma nova oportunidade de vida do outro lado do Atlântico. Todavia, a chegada de Ewa à América é tudo mesmo fácil. Quando a sua irmã é impedida de entrar no país por suspeitas de tuberculose e quando a dignidade de Ewa é colocada em causa, Ewa recorre à ajuda de Bruno Weiss (Joaquin Phoenix), e mais tarde à de Emil (Jeremy Renner), para libertar a sua irmã. No entanto, o caminho de Ewa não será fácil, nem decoroso.

Na teoria, A Emigrante tem todos os ingredientes para se tornar num filme de época destacável. O elenco é de luxo e de provas dadas, enquanto a história do sacrifício de uma irmã pela outra, incessantemente à procura do sonho americano, da segurança e da oportunidade nos anos áureos da imigração norte-americana parece cativante. Onde é que A Emigrante falha? Embora o ritmo demorado, a música exangue e o foco incerto sejam razões suficientes para hipotecar a qualidade de qualquer filme, o mais grave e visível problema de A Emigrante reside na forma amorfa como James Gray trata a narrativa, que assina com Ric Menello, estabelecendo compromissos emocionais e morais demasiado elevados sem permitir o indispensável espaço para a criação de elos efectivos com as personagens, nomeadamente com a Ewa. Basta apontar qualquer momento de maior tensão em A Emigrante e reconhecer a ausência de gravidade para compreender como James Gray falha redondamente neste capítulo.

A montagem que James Gray permite no seu filme, por sua inteira decisão ou não, obsta momentos essenciais para a ligação emocional à personagem, ocultando factos relevantes para a história e para a luta de Ewa. Logo no início de A Emigrante, o espectador é confrontado com a decisão pouco convencional de progredir sem grande sustentáculo no desenvolvimento da personagem quando Ewa, para conseguir o dinheiro que garante os melhores cuidados de saúde à sua irmã, se torna numa dançarina no teatro de Bruno. Neste momento, em que Ewa se mostra simultaneamente frágil e determinada, James Gray dá um salto na narrativa, mostrando Ewa já enquanto dançarina em palco. O mesmo sucede quando Ewa toma o caminho da prostituição. Tais momentos são essenciais para transformar Ewa e para tornar o seu sofrimento, a sua luta e a sua redenção mais poderosos aos olhos do espectador, pelo que a sua ausência, mais do que manifesta, é devastadora.

A desestabilizar A Emigrante do seu propósito estão também os diálogos sofríveis nos quais nem o próprio elenco parece depositar confiança. Embora laudável o esforço de Marion Cotillard, de Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner, não deixa de se manifestar desconforto em cada interpretação, na forma como planos moralmente carregados são compactuados com discursos pobres e vulgares. Olhando para o produto final, é difícil de explicar a presença de Marion Cotillard, de Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner. Talvez tenham sido aliciados com a promessa do potencial de A Emigrante e com o currículo do seu realizador, o mesmo aliciamento que erroneamente levará o espectador ao seu visionamento. Não está aqui implicado que o espectador reprovará inteiramente o filme, cujo tem de facto os seus méritos (a caracterização da época, por exemplo, mostra-se impecável), mas garantidamente não obterá a absorção cinematográfica que contava ter, uma que, não fosse a forma teatralizada que James Gray escolhe para transmitir a sua visão, poderia naturalmente ter.   


 CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Filme: Planeta dos Macacos: A Revolta (2014)

Matt Reeves assume a herança de Rupert Wyatt sem reservas e, melhorando sobre o já convincente Planeta dos Macacos: A Origem em todos os aspectos, cria em Planeta dos Macacos: A Revolta uma película memorável comandada pela tour de force de Andy Serkis enquanto o carismático Caesar.

Dez anos após a disseminação do que passou a ser designado por vírus símio, a população humana encontra-se quase completamente exterminada. Em São Francisco, onde a propagação do vírus teve origem num laboratório, Malcolm (Jason Clarke) e Dreyfus (Gary Oldman) lideram uma pequena comunidade de sobreviventes. Quando é traçado um plano para trazer independência energética à comunidade, Malcolm aventura-se na floresta de Muir Woods para reactivar uma barragem. Malcolm dá de caras com o grupo símio inteligente (resultante do mesmo vírus) que habita o território, liderado pelo chimpanzé Caesar (Andy Serkis). Caesar mostra-se disponível para ajudar os humanos, mas nem todos na sua tribo, e o bonobo Koba (Toby Kebbell) em particular, concordam com a sua abordagem.  

Depois do sucesso inesperado em 2011 de Planeta dos Macacos: A Origem, que tentou o remake que Tim Burton não conseguiu em 2001 com Planeta dos Macacos, Planeta dos Macacos: A Revolta procura ser a rara sequela que melhora sobre o seu predecessor e lança definitivamente uma saga com pernas para andar. Em todos e mais alguns aspectos, Planeta dos Macacos está mais vivo do que nunca. Se, ao contrário de Tim Burton, Rupert Wyatt compreendeu que a força da saga original, iniciada cinematograficamente em 1968 com a adaptação do romance de Pierre Boulle, se concentrava na raça símia e menos na raça humana, Matt Reeves vai mais longe, entregando o protagonismo por inteiro àqueles que, no fim de contas, dão o nome e o mote à saga. O êxito de Matt Reeves começa por aqui.   

A narrativa de Planeta dos Macacos: A Revolta não divide humanos e símios em duas fracções epistemologicamente claras. Ambas têm razões para as suas acções, para as suas confianças e desconfianças. Ambas querem ter o direito ao seu espaço. A trégua existe; a coabitação tem lugar. Na sua essência, quando a disputa começa, não acontece por uma questão meramente territorial, mas por algo tão basilar como a família, a organização social e a lealdade. Caesar e Malcolm procuram a paz, enquanto Koba e Dreyfus procuram o conflito. A narrativa sugere que nenhum lado é melhor que o outro, que nenhum tem mais direito à terra que o outro. A solução passa efectivamente pela coexistência, pela harmonia; mas é uma solução que esbarrará nos interesses próprios, de um lado e do outro.

Sempre que a tribo de Caesar figura no grande ecrã, Planeta dos Macacos: A Revolta fica riquíssimo de informação, de emoção, de espanto. A forma como a tribo se organizou socialmente e como desenvolveu a sua própria linguagem após os eventos de Planeta dos Macacos: A Origem é nada menos que extraordinária. O efeito perde-se quando o plano desce sobre o que resta em São Francisco da raça humana. Quiçá o filme dispensaria completamente esta interacção. Talvez seja o passo definitivo que falta dar na saga, a novidade que Matt Reeves trará num filme sequente. É um testemunho da indubitável qualidade de Andy Serkis, da Weta e de toda a produção que tal sensação fique a pairar no ar. Toda a emotividade de Andy Serkis transpira através de Caesar, mas nunca deixa Caesar de ser o chimpanzé que deve ser. Andy Serkis domina completamente a arte da motion performance. A força da sua interpretação contagia o restante elenco símio, com Toby Kebbell enquanto o maquiavélico Koba em destaque.

Os efeitos visuais estão de tal forma amadurecidos neste filme que se mesclam incrível e facilmente com os planos da natureza, com a luz e com a sombra, com os objectos móveis e imóveis. O primeiro plano do filme, num close-up de Caesar, demonstra de um zás todas as potencialidades. O pêlo dos símios parece palpável, os movimentos são credíveis. Os estúdios da Weta provam estar, uma vez mais, na vanguarda da tecnologia. Importa que haja, do outro lado, um realizador disposto a arriscar e a puxar as barreiras do improvável. Matt Reeves é esse realizador. O seu trabalho não se deixa restringir por aquilo que pode ou não ser possível através da montion performance. A sua câmara filma a acção com a confiança plena de que o efeito visual será concretizável e que o alto nível de realismo não será colocado em causa. Exemplo da confiança de Matt Reeves é um plano a 360º capturado em cima de um taque, com o caos total instalado à volta, mesclando facilmente efeitos práticos com efeitos visuais. Poderia não ter resultado, mas Matt Reeves nunca parece ter duvidado.   

Por mais que espectaculares, os planos de acção não são o trunfo do filme. O trunfo reside na emoção que Matt Reeves nunca dispensa. Em momentos tão simples mas incrivelmente comovedores e poderosos como o plano em que o filho mais novo de Caesar, ainda criança, sobe ao ombro de Ellie, esposa de Malcolm. É este momento, a par de planos semelhantes, envolvidos na sublime composição de Michael Giacchino, que coloca Planeta dos Macacos: A Revolta noutro patamar, inalcançável para tantos blockbusters: num patamar em que efeitos visuais se colocam quase exclusivamente à disposição da interpretação, da emoção e da narrativa. Do início ao estilo de 2001: Odisseia no Espaço ao fim ao estilo de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, Planeta dos Macacos: A Revolta perfila-se entre os melhores registos de ficção científica. O futuro só pode ser auspicioso.

CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas


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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Filme: Agentes Universitários (2014)

Embora num setting diferente, mas com uma narrativa semelhante, Agentes Universitários é uma cópia de carbono quase perfeita de Agentes Secundários, o que não impede humor e diversão q.b. A inovação é escassa, mas a dupla Jonah Hill e Channing Tatum compensa satisfatoriamente. 

Após o sucesso da sua missão à paisana numa escola do secundário, Jenko (Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill) pensam que as suas carreiras na polícia só podem ascender. Quando a sua mais recente missão falha redondamente, Jenko e Schmidt regressam a Jump Street e são enviados numa nova missão à paisana, desta feita para a universidade, onde Jenko se torna num popular jogador de futebol americano e Schmidt se envolve com uma jovem artista. 

Assim como o seu predecessor, Agentes Universitários caminha uma linha ténue entre a comédia inteligente e a comédia ao desbarato. Em Agente Secundários, a narrativa caminhava sobre esta linha com equilíbrio, combinando o humor de circunstância com o humor físico da acção alienada. Para o melhor e para o pior, Agentes Universitários repete tal-qualmente a fórmula, sem qualquer adição ou subtracção de maior, mudando apenas o cenário do seu ensaio. O secundário ficou para trás e Jenko e Schmidt, após mais uma missão inicial desastrada, voltam à taskforce Jump Street – agora no número 22 (o número 21 voltou para os seus antigos donos e o número 23 pode ficar vago em breve) – e são enviados à paisana para a universidade para investigar uma nova e perigosa droga que faz furor entre os estudantes. 

A partir deste momento, Agentes Secundários parece querer transformar-se num American Pie refinado, repescando toda a folia do género universitário mas sem nunca enveredar pelos habituais carnavais desgovernados. Afinal, a narrativa continua a tratar-se, na mais ínfima das suas essências, de uma investigação policial. É esta investigação policial que faz com que o filme mantenha os pés assentes na terra quando parece prestes a descambar ravina abaixo, quando por momentos mais longos do que o que seria saudável o espectador se esquece completamente da premissa da história e se questiona, por exemplo, se Jenko poderá tornar-se numa estrela de futebol, ou se Schmidt poderá desenvolver uma relação com Maya. Agentes Universitários não é, todavia, totalmente alheio a este efeito. Emprega-o, aliás, para proporcionar a situação mais hilariante e memorável de todo o filme, envolvendo Schmidt e Maya - uma situação que coloca toda a audiência em polvoroso.

Enquanto esta ocasião de total hilaridade, pelo seu carácter de surpresa, revigora o visionamento de Agentes Universitários, outras, pelo seu carácter de repetição, desgastam-no rapidamente. Exemplo desta dicotomia é a piada recorrente sobre a relação entre Jenko e Schmidt. O diálogo e a forma como interagem com terceiros quer apontar ao espectador a ideia de que os dois agentes são um casal, parceiros no sentido estrito. A primeira vez em que tal é sugerido é admissivelmente engraçado, mas a sua desnecessária e por vezes inoportuna recorrência desgastam velozmente o seu efeito cómico. Por outro lado, a ausência de um antagonista sério e credível coloca pressão excessiva no resultado do desenvolvimento da relação entre os dois agentes. É certo que o conceito de Agentes Universitários e de Agentes Secundários vive da camaradagem entre os seus protagonistas; todavia, nada impediria a existência de uma força contrária presente e ameaçadora o suficiente que colocasse pressão e pedisse sagacidade e soluções hilariantes. A forma como, no acto final, o real narcotraficante cai do céu é um testemunho desta lacuna.

A química entre Jonah Hill e Channing Tatum continua a dar provas do valor da nova geração de comediantes de Hollywood. Hill tem estado pelo papel dramático, enquanto Tatum se perdura no papel de acção. Agentes Universitários mostra que a veia cómica é forte tanto em Hill como em Tatum e que se mantém um trunfo para as suas carreiras em crescendo. Nota para a interpretação de Ice Cube, com uma prestação muito mais segura que a anterior. A realização da dupla Phil Lord e Christopher Miller segue as linhas orientadoras de Agentes Secundários, não inovando muito mais do que já tinham alcançado anteriormente, notando-se porém, particularmente no último acto, os frutos de um orçamento superior. Não será, contudo, pelo orçamento superior que Agentes Universitários atrairá o seu público. Fá-lo-á com comédia e os bons momentos de descontracção… e, nesse sentido, não obstante as suas falhas, o filme garante que o prometido é devido.  

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Filme: Draft Day: Dia D (2014)

Embora recupere bem do seu forte apoio nas noções de futebol americano na parte inicial, Draft Day: Dia D nunca se afirma completamente como um drama nas suas próprias condições e termos, condicionado pelo alcance curto da sua insuficiente premissa.  

Sonny Weaver Jr. (Kevin Costner) é o Director Geral dos Cleveland Browns. Quando o dia do sorteio de novatos da NFL, a Liga Nacional de Futebol Americano, chega, Sonny tem que escolher entre a tradição e a novidade para fazer nascer a sua visão para o clube, mesmo que tal signifique abdicar da sua posição na estrutura.

A premissa de Draft Day: Dia D não apelará muito ao espectador português, não habituado ao futebol norte-americano e ainda menos aos seus complicados processos de selecção e de transferência de jogadores. Nestes processos inclui-se o amplamente publicitado Draft Day, um dia longo em que os melhores jogadores das universidades americanas têm a possibilidade de ingressar no futebol profissional, directamente numa das equipas de topo. A condição-mor é que estes aspirantes a estrelas não podem escolher a equipa de destino, ficando a aguardar o resultado de um sorteio que literalmente dita a sua carreira. Por seu lado, as equipas profissionais podem apenas escolher os seus rookies por uma ordem de sorteio pré-determinada. Naturalmente, quanto mais acima no sorteio maiores as hipóteses de ficar com as melhores promessas do futebol norte-americano.

Draft Day: Dia D gira em torno deste evento, apresentando uma versão fictícia da equipa Cleveland Browns à procura de escapar à pesada sombra das conquistas passadas. Guiada pelo Director Geral Sonny Weaver Jr., que procura fugir à reputação do seu recentemente falecido pai, os Cleveland Browns podem apenas escolher o seu rookie em sétimo lugar. Tudo muda quanto Sonny recebe uma proposta inesperada dos Seattle Seahawks para uma troca no sorteio, uma proposta com riscos que poderá dar aos Cleveland Browns Bo Callahan, o rookie mais bem cotado dos últimos tempos. Contrariando a vontade de toda a equipa, Sonny aceita a proposta dos Seattle Seahawks; todavia, quando começa a analisar Bo Callahan mais detalhadamente, Sonny começa a hesitar. A sua escolha, sob muita pressão, fica em dúvida até ao derradeiro instante.    

A parte inicial de Draft Day: Dia D, mais carregada na linguagem e na cultura futebolística norte-americana, é difícil de acompanhar. O filme quase que se perde nesta tão importante fase primordial. Conforme a narrativa se despe do seu desnecessário “complicómetro” e começa a expor bem as posições e as vontades de todos os seus intervenientes, o filme recobra-se, torna-se mais vivo e mais apelativo, embora fique sempre muito aquém de ser tornar num drama rico e relevante. Parte do recobro explica-se nas questões familiares de Sonny que se intercalam com as questões desportivas. Sonny deixa de ser apenas um Director Geral com um pensamento analítico e fica claro que a sua escolha será completamente emocional, assente no seu gut feeling. Kevin Costner desempenha esta faceta com mais à-vontade, redimindo-se de algum desencaixe no carácter autoritário da sua personagem. 


Tecnicamente, a realização de Ivan Reitman é segura. As transições entre planos e a sobreposição de personagens e cenários é uma escolha curiosa e conseguida. Ivan Reitman não consegue, contudo, revitalizar suficientemente o argumento de Rajiv Joseph e de Scott Rothman. Draft Day: Dia D nunca se torna no thriller que às vezes parece querer tornar-se; seria como um gato querer correr como um tigre. À parte de um momento de inspiração na recta final do filme, em que o plano e o génio de Sonny Weaver Jr. se revela, a narrativa é fracamente incisiva, quiçá não por falta de talento dos seus responsáveis mas por verdadeiramente não haver muito mais para dizer sobre um sorteio de futebol. Nem Draft Day: Dia D é um mau filme, nem a sua realização ou as suas actuações são más; simplesmente, a história não é atractiva ou memorável o suficiente. Falta sumo. Ou melhor, falta fruta para fazer sumo.   

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


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