terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Filme: A Dama de Ferro (2012)


Meryl Streep é uma força da natureza. Nomeada dezassete vezes pela Academia, Streep não dá mostras de abrandar. Em A Dama de Ferro, prova uma vez mais ser uma das melhores actrizes de sempre. É pena que a produção à sua volta não chegue minimamente perto da sua categoria.

A Dama de Ferro começa com uma idosa e desorientada Margaret Thatcher (Meryl Streep). Alucinando com o falecido marido (Jim Broadbent), Thatcher apresenta dificuldade para distinguir entre o passado e o presente. Através de flashbacks, a ascensão política de Thatcher é mostrada, bem como o preço pessoal que pagou, até à sua eventual demissão em 28 de Novembro de 1990.

Margaret Thatcher é a primeira-ministra com o mandato mais longo do Reino Unido. Ocupou o cargo durante 11 anos (entre 1979 e 1990). Conservadora, obstinada e decidida, Thatcher liderou o Reino Unido ao fim da terrível crise económica que se arrastava desde o final da Segunda Guerra Mundial; o seu governo atravessou a última década da Guerra Fria, a crise na Irlanda do Norte e a breve Guerra das Malvinas. Polarizando críticos e apoiantes, Thatcher manteve-se sempre determinada no poder, sempre assertiva com as suas crenças, e pelo bem ou pelo mal ficará sempre conhecida pela história como a dama de ferro.

Meryl Streep encaixa-se no papel como a mão numa luva, retratando quer Thatcher como primeira-ministra, quer Thatcher nos anos mais recentes. A transformação do seu discurso, dos seus trejeitos, da sua voz e do seu aspecto é verdadeiramente notável. Durante os cerca de 100 minutos, não é Meryl Streep quem está no ecrã, mas sim uma perfeita e omnipotente encarnação que estabelece uma nova marca para a representação.

Streep não podia ser mais perfeita. O mesmo não pode ser dito do filme em si. Com o título A Dama de Ferro, a película de Phyllida Lloyd pouco faz para explorar as origens e as motivações de Thatcher. A audiência é forçada a reconhecer que Thatcher é assim e a aceitar que cada decisão que ela toma ao longo do enredo tem uma qualquer fundamentação no passado. Sendo certo que se fica com a ideia que Thatcher não quer ser uma mulher como as outras (“uma mulher que fica agarrada ao braço do marido a sorrir enquanto ele cumprimenta os amigos”) e que quer marcar a diferença, não é suficiente para se compreender todas as intricadas deliberações, por mais discursos encorajadores que Streep profira ao longo dos 100 minutos. O filme deveria, pois, ter gasto algum tempo a explorar a infância e a adolescência. Além disso, e embora pretenda ser uma biografia da vida de Thatcher como primeira-ministra, teria feito mais sentido focar a história num ponto particular do longo mandato. Teria sido assim possível mostrar Thatcher na essência do seu carácter, das suas convicções e da sua força. Em vez disso, o filme decorre numa sucessão rápida e mal explicada dos vários momentos que marcaram o mandato, como um álbum de recordações desinteressante, geralmente acompanhados com segmentos noticiosos que lembram os documentários do Canal História. A Dama de Ferro arruína assim qualquer tentativa de mostrar o lado humano, de mulher, de Thatcher. Deveria ter sido mais como A Rainha (2006) em que Helen Mirren interpreta Isabel II nos tempos que advêm à morte de Diana, Princesa de Gales… E quando parece que finalmente Streep pode ser a dama de ferro, já para o fim do mandato de Thatcher, a história regressa abruptamente ao presente e o filme termina numa nota desapontante.

A decisão de interligar o enredo entre o presente e o passado de Thatcher também não resulta, ainda que dê a oportunidade a Streep de representar duas versões complexas da mesma personagem. Com esta escolha de direcção, Jim Broadbent acaba subaproveitado e não tem espaço para adicionar camadas à sua personagem; é mais um figurante, uma visão efémera e indistinta, do que uma figura real e credível. Broadbent, por tudo o que tem dado ao cinema britânico, merecia melhor.

Por Streep, vale a pena ver A Dama de Ferro; pela sua caracterização, pelo seu empenho e pela sua sempre imensa e incomparável dedicação. Por tudo o resto, nem tanto… tão-pouco. Não é pois de estranhar que o filme esteja nomeado para o Óscar de Melhor Actriz Principal (provavelmente arrecadará) e para o Óscar de Melhor Caracterização e que falhe qualquer eleição para as categorias de produção e realização.

A Dama de Ferro estreia em Portugal no dia 09 de Fevereiro de 2012.


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1007029/

Site Oficial: http://www.theironladymovie.co.uk/blog/

Trailer:

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