Nem sempre um reboot é feito com o mérito e o respeito devido, mas Godzilla, de 2014, caminha tranquila e
altivamente com um trabalho carregado de suspense e criaturas assombrosas, onde
gojira figura majestosamente, pecando
apenas por um arranque desastroso e por personagens banais.
Em 1999, nas Filipinas, numa escavação
mineira de urânio, duas grandes estruturas biológicas designadas por MUTOs são
acidentalmente descobertas. Uma das estruturas desmorona-se e algo sai lá de
dentro, alojando-se numa central nuclear no Japão onde o engenheiro Joe Brody
(Bryan Cranston) é forçado a uma acção de sobrevivência. Quinze anos mais
tarde, Joe continua a investigar o incidente na central nuclear e confidencia
ao seu filho Ford (Aaron Taylor-Johnson) que um monstro pode ter sido o
responsável. Joe e Ford mal adivinham que se encontram à beira de uma batalha
pré-histórica entre MUTOs e o lendário gojira.
Saído de
filmes de série B, Gareth Edwards entra directamente na produção de um grande
blockbuster com determinação e vontade inabaláveis. O seu desafio não é para
menos: renovar o Rei dos Monstros com um ar mais actual, mais imponente e
aterrador. Gareth Edwards mostra-se à altura do desafio. Quando gojira surge finalmente do mar,
gigantesco e majestoso, sob um rugido temível em crescendo, o trabalho do
realizador britânico, pelo menos no que diz respeito ao seu primeiro desafio,
parece completo e triunfante. Criado pelos “mágicos” da Weta, que mais
recentemente foram responsáveis pela maravilhosa criação de Smaug – O Terrível
no segundo filme da trilogia O Hobbit,
gojira é a verdadeira estrela do
filme e a única que, numa narrativa com tantas personagens humanas, quiçá
honestamente interessa.
A principal
preocupação neste reboot é o tempo
que Gareth Edwards desperdiça em narrativas de teor secundário a que dá
excessivo destaque. É naturalmente importante criar emoção e expectativa
através dos olhos de personagens que o espectador conhece e pelas quais se
preocupa, aumentando o efeito de ansiedade e suspense de que um filme neste
género vive. Infelizmente, o argumento de Max Borenstein não desenvolve as suas
personagens para além de veículos de exposição e de acção com o mero propósito
de os colocar no centro dos acontecimentos. O problema é mais evidente na
primeira parte do filme, uma parte sem ritmo e interesse que lida pessimamente
com as personagens humanas. Abençoado gojira,
que em boa hora chega para salvar a narrativa, corrigir a trajectória e
entregar o necessário ritmo, suspense e agitação.
Neste Godzilla há espaço para desenvolver a
mitologia do Rei dos Monstros, que se revela criativa e curiosa, retirando
inspiração do Monstro de Loch Ness e oportunismo dos inúmeros testes nucleares
que decorreram durante e após a Segunda Guerra Mundial. A plausibilidade de toda
a história é questionável, mas é um salto de fé importante, senão obrigatório.
As inspirações de Gareth Edwards continuam. A cena de abertura de Godzilla numa central nuclear no Japão,
depois de um breve momento numa gigantesca mina nas Filipinas, lembra o terror
e o medo vivido recentemente na central nuclear de Fukushima, enquanto o
descontrolo sentido após a fuga dos MUTOs trás à memória o Parque Jurássico.
Naquela que é provavelmente a sequência mais magnificente de todo o filme, em
que um pelotão de tropas paraquedistas salta sobre a batalha de gojira, Gareth Edwards dá uso ao tema
Danúbio Azul do compositor austríaco Johann Strauss II, famosamente ouvido em 2001: Odisseia no Espaço, com um efeito
espantoso.
Bryan Cranston
tem um papel mais reduzido em Godzilla
do que se esperaria – ou se desejaria -, mas é o bastante para que a sua
interpretação se confirme a mais forte e a mais dedicada. As interpretações da
dupla Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen, que em breve também figurará na
sequela de Os Vingadores, são
aceitáveis, com Taylor-Johnson a evidenciar-se como uma estrela de acção com
potencial, enquanto as de Ken Watanabe e Sally Hawkins parecem marginalizadas.
O enredo de cada personagem e uma montagem a espaços desafinada constituem os
elementos mais fracos de Godzilla.
Não obstante estes, brilhantemente filmado, com elevados níveis de suspense,
com gojira entre fumos, escuridão e
destruição maciça em planos principais e segundos planos e com a formidável
música de Alexandre Desplat, este reboot
é na verdadeira essência um evento que provavelmente dará início a uma saga.
Corrigindo os erros aqui expostos e mantendo o que de bom foi feito, será
certamente bem-recebida.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://godzillamovie.com/
Trailer:
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