quarta-feira, 14 de maio de 2014

Filme: Godzilla (2014)

Nem sempre um reboot é feito com o mérito e o respeito devido, mas Godzilla, de 2014, caminha tranquila e altivamente com um trabalho carregado de suspense e criaturas assombrosas, onde gojira figura majestosamente, pecando apenas por um arranque desastroso e por personagens banais.

Em 1999, nas Filipinas, numa escavação mineira de urânio, duas grandes estruturas biológicas designadas por MUTOs são acidentalmente descobertas. Uma das estruturas desmorona-se e algo sai lá de dentro, alojando-se numa central nuclear no Japão onde o engenheiro Joe Brody (Bryan Cranston) é forçado a uma acção de sobrevivência. Quinze anos mais tarde, Joe continua a investigar o incidente na central nuclear e confidencia ao seu filho Ford (Aaron Taylor-Johnson) que um monstro pode ter sido o responsável. Joe e Ford mal adivinham que se encontram à beira de uma batalha pré-histórica entre MUTOs e o lendário gojira.

Saído de filmes de série B, Gareth Edwards entra directamente na produção de um grande blockbuster com determinação e vontade inabaláveis. O seu desafio não é para menos: renovar o Rei dos Monstros com um ar mais actual, mais imponente e aterrador. Gareth Edwards mostra-se à altura do desafio. Quando gojira surge finalmente do mar, gigantesco e majestoso, sob um rugido temível em crescendo, o trabalho do realizador britânico, pelo menos no que diz respeito ao seu primeiro desafio, parece completo e triunfante. Criado pelos “mágicos” da Weta, que mais recentemente foram responsáveis pela maravilhosa criação de Smaug – O Terrível no segundo filme da trilogia O Hobbit, gojira é a verdadeira estrela do filme e a única que, numa narrativa com tantas personagens humanas, quiçá honestamente interessa.

A principal preocupação neste reboot é o tempo que Gareth Edwards desperdiça em narrativas de teor secundário a que dá excessivo destaque. É naturalmente importante criar emoção e expectativa através dos olhos de personagens que o espectador conhece e pelas quais se preocupa, aumentando o efeito de ansiedade e suspense de que um filme neste género vive. Infelizmente, o argumento de Max Borenstein não desenvolve as suas personagens para além de veículos de exposição e de acção com o mero propósito de os colocar no centro dos acontecimentos. O problema é mais evidente na primeira parte do filme, uma parte sem ritmo e interesse que lida pessimamente com as personagens humanas. Abençoado gojira, que em boa hora chega para salvar a narrativa, corrigir a trajectória e entregar o necessário ritmo, suspense e agitação.

Neste Godzilla há espaço para desenvolver a mitologia do Rei dos Monstros, que se revela criativa e curiosa, retirando inspiração do Monstro de Loch Ness e oportunismo dos inúmeros testes nucleares que decorreram durante e após a Segunda Guerra Mundial. A plausibilidade de toda a história é questionável, mas é um salto de fé importante, senão obrigatório. As inspirações de Gareth Edwards continuam. A cena de abertura de Godzilla numa central nuclear no Japão, depois de um breve momento numa gigantesca mina nas Filipinas, lembra o terror e o medo vivido recentemente na central nuclear de Fukushima, enquanto o descontrolo sentido após a fuga dos MUTOs trás à memória o Parque Jurássico. Naquela que é provavelmente a sequência mais magnificente de todo o filme, em que um pelotão de tropas paraquedistas salta sobre a batalha de gojira, Gareth Edwards dá uso ao tema Danúbio Azul do compositor austríaco Johann Strauss II, famosamente ouvido em 2001: Odisseia no Espaço, com um efeito espantoso.


Bryan Cranston tem um papel mais reduzido em Godzilla do que se esperaria – ou se desejaria -, mas é o bastante para que a sua interpretação se confirme a mais forte e a mais dedicada. As interpretações da dupla Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen, que em breve também figurará na sequela de Os Vingadores, são aceitáveis, com Taylor-Johnson a evidenciar-se como uma estrela de acção com potencial, enquanto as de Ken Watanabe e Sally Hawkins parecem marginalizadas. O enredo de cada personagem e uma montagem a espaços desafinada constituem os elementos mais fracos de Godzilla. Não obstante estes, brilhantemente filmado, com elevados níveis de suspense, com gojira entre fumos, escuridão e destruição maciça em planos principais e segundos planos e com a formidável música de Alexandre Desplat, este reboot é na verdadeira essência um evento que provavelmente dará início a uma saga. Corrigindo os erros aqui expostos e mantendo o que de bom foi feito, será certamente bem-recebida.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer:

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