O acto final banaliza-se e desilude, mas
não retira hombridade a No Limite do
Amanhã, um filme maioritariamente capaz e perspicaz com uma premissa
capciosa. Tom Cruise e Emily Blunt fazem uma agradável dupla.
Invadida por uma misteriosa raça alienígena que
ameaça varrer tudo da face da Terra, a raça humana une-se para criar uma frente
militar comum contra o inimigo. Após cinco anos de luta, e com a Europa à beira
da derrota, surge a primeira conquista e a primeira esperança. Quando o Major
William Cage (Tom Cruise) é surpreendentemente enviado para a frente de batalha
e captura o poder da raça alienígena para voltar atrás no tempo, a esperança
pode transformar-se na vitória final.
No Limite do Amanhã desenvolve a sua
premissa com inteligência e astúcia, refreando-se dos esclarecimentos e
exposições recorrentes que não raras vezes retiram mérito e sagacidade ao
género. No Limite do Amanhã explica
cada uma das suas particularidades apenas uma vez, e apenas uma vez basta para
que avance na sua história sem a sensação de repetições excessivas e
fastidiosas. Note-se que é de repetições que se constrói a premissa; o
realizador norte-americano Doug Liman tudo faz para evitar, dentro da premissa
da repetição, repetir-se. Neste aspecto, No Limite do Amanhã é exímio,
mostrando uma perspicácia notável e uma montagem engenhosa. Num mise-en-scène
em que dominam grandes planos de acção, o apreço pelo detalhe e pela lógica
tornam No Limite do Amanhã
excepcional.
Com humor e
momentos dedicados às personagens à mistura, a história, adaptada da série
japonesa de light novels All You Need Is
Kill de Hiroshi Sakurazaka, avança a bom ritmo sem sobressaltos. A
inspiração de filmes como O Feitiço do
Tempo ou Looper – Reflexo Assassino
é óbvia. Do primeiro, No Limite do Amanhã
retira a coerência e o timing,
enquanto da segunda retira a lógica científica e a vassalagem dos planos de
acção ao enredo. Parece também haver um aceno a Matrix, com as criaturas alienígenas a lembrar as máquinas
assassinas que ameaçam Zion no capítulo final da trilogia dos irmãos Wachowski.
Lamentavelmente, No Limite de Amanhã
parece ser atingido por um raio de banalidade e falta de criatividade à entrada
do último acto. Qualquer inovação e sagacidade que existissem são trocadas por
uma sequência de acção insonsa e redundante, revelando alguma preguiça da parte
de Doug Liman e dos argumentistas Christopher McQuarrie, Jez Butterworth e
John-Henry Butterworth para concluir a história com a mesma esperteza e
consideração dos actos anteriores.
Este
indiscutivelmente inferior acto final impede No Limite de Amanhã de ser tornar verdadeiramente memorável. Não
transforma o num mau filme, mas impede-o de se transcender. Embora Doug Liman
falhe reconhecer o potencial da narrativa e tome as escolhas erradas para a
conclusão do seu trabalho, a sua realização é maioritariamente segura e
bem-intencionada, com um equilíbrio saudável entre o elemento humano e o
elemento de ficção científica. Depois de um menos sucedido e olvidável Esquecido, Tom Cruise surge No Limite de Amanhã em melhor forma
(quiçá motivado pelo incrivelmente apetrechado exosqueleto), ou pelo menos com
maior compromisso, ao lado de uma inspirada e graciosa Emily Blunt, a britânica
transformada no trunfo do filme.
Além de um
acto final menos conseguido, o epílogo de No
Limite de Amanhã lança incertezas sobre a lógica da narrativa, acto
derradeiro que é marcadamente desnecessário e evitável. No que ao género da
ficção científica diz respeito, o filme fica muito perto de ser uma lufada
fresca e revigorante. Não atinge a plenitude da sua promessa, mas surpreende
assaz para merecer a sua visualização.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.edgeoftomorrowmovie.com/
Trailer:
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