Não obstante a boa direcção de John Lee
Hancock e a importância do ícone Mary Poppins, Ao Encontro de Mr. Banks depende da excelente actuação de Emma
Thompson para dar um sentido mais apurado a uma história marcada por alguma
frivolidade.
Após uma promessa às suas filhas, Walt
Disney (Tom Hanks) procura obter os direitos cinematográficos de Mary Poppins
da irredutível Pamela "P. L." Travers (Emma Thompson). Durante 20
anos, Pamela recusa qualquer negociação, mas quando as suas finanças começam a
deteriorar-se, Pamela aceita viajar até Los Angeles para se inteirar da
adaptação que Walt Disney pretende fazer da sua criação literária.
Ao Encontro de Mr. Banks pode
prototipicamente apresentar-se como a história por detrás da produção do
clássico filme da Disney Mary Poppins; na essência, todavia, a verdadeira
narrativa a veicular este filme de John Lee Hancock é tão elementar quanto a
relação de uma filha com o seu pai moribundo. A temática não é nova, mas
revela-se peculiar por se intimamente relacionar com a criação de uma das
personagens mais icónicas de sempre. Enquanto, em Los Angeles, Pamela "P.
L." Travers é confrontada pela equipa de Walt Disney com uma visão da sua
personagem que em nada se coaduna com o que lhe veio à imaginação, Pamela é
confrontada na sua memória com o período mais difícil da sua infância. A Mary
Poppins que Pamela conhece é despida de toda a magia que lhe outorgou na sua
escrita; esta “verdadeira” Mary Poppins – que era na realidade a sua tia Ellie
– não possui nenhum dos invulgares poderes que, na escrita, Poppins usou para
salvar o Mr. Banks. Tal como Poppins, a tia Ellie chegou subitamente para
responder aos apelos de uma família em desespero; no entanto, Ellie não
conseguiu evitar o pior desfecho para Travers Goff, o pai de Pamela.
As histórias
de Mary Poppins são a tentativa de Pamela de reescrever a tragédia que abalou a
sua infância. A ideia de que Walt Disney pretende transformar a sua história
num musical abala-a e choca-a profundamente. Pamela descarta quase todas as ideias
da equipa de Walt Disney ao ponto de enlouquecer todas as pessoas envolvidas na
pré-produção. O único que não é demovido pela obstinação de Pamela é o próprio
Walt Disney, cujo, concomitante com uma infância triste, tudo faz para provar
que a história de Mary Poppins não perderá nenhuma da sua essência e que irá ao
encontro da salvação literária que Pamela guardou durante tantos anos para o
seu pai. O contraponto que John Lee Hancock faz entre a infância de Pamela e a
sua breve passagem por Los Angeles contribui para frisar a relação entre as
experiências de Pamela com Poppins e dessa Poppins com a Poppins da Disney. Sem
este constante confronto, Pamela Travers passaria por uma escritora de
meia-idade marcada por teimosias e rabugices indecifráveis.
Emma Thompson
é brilhante enquanto Pamela Travers, construindo uma personagem com inúmeros
maneirismos, em quem o não, embora verbalmente fácil de conciliar, permite
vislumbrar um conflito, uma solidão e uma saudade internas de enternecer. Esta
Pamela é incrivelmente diferente daquela que a surpreendente Annie Rose Buckley
interpreta na infância, com Thompson a transparecer em todos os momentos a dor
que a pequena Pamela, então Helen Goff, sentiu e nunca deixou de sentir com a
perda do seu pai. Ainda no campo da representação, Tom Hanks encarna
fantasticamente a personalidade forte e excêntrica de Walt Disney.
A realização
de John Lee Hancock é segura e encontra um bom balanço entre a infância de
Pamela na mais calma e paisagística Austrália e o período na vibrante Los
Angeles. Não obstante, Ao Encontro de Mr.
Banks pode passar uma imagem de exagerada e intencional propaganda ao
império da Disney. A viagem de Pamela à Disneylândia com o próprio Walt é um
exemplar momento, maioritariamente inconsequente para a narrativa, em que o
filme se bate no limiar da propaganda deliberada. A música do sempre ponderado
Thomas Newman volta a maravilhar e a engradecer as imagens que apadrinha,
entregando força adicional à prestação visual de Emma Thompson.
Ao Encontro de Mr. Banks, ora com
momentos de reflexão sobre a temática da paternalidade, ora com momentos de
diversão suportados nos trejeitos e na inflexão cómica de Emma Thompson, é um
filme interessante que, se não causar desbarato pela disneyzação abundante, cativa pela beleza da história de pano de fundo.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://movies.disney.com/saving-mr-banks/
Trailer:
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