Adaptado da biografia Twelve Years a Slave de Solomon Northup, 12 Anos Escravo é um triunfo completo. Uma obra-prima de Steve
McQueen, inspirada pelas brilhantes actuações de Chiwetel Ejiofor, de Michael
Fassbender e de Lupita Nyong'o. Poderoso e incontornável!
Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um
negro livre numa América pré-Guerra Civil dividida e ainda agarrada a desumanas
tradições. Certo dia, sobre o pretexto de um novo trabalho, Solomon é raptado,
vendido e transformado em escravo. Durante doze anos, passando por diferentes
donos, árduos trabalhos e extensas plantações, Solomon tenta sobreviver às
injustiças e à violência diária, sonhando pelo dia em que a liberdade voltará a
si.
12 Anos Escravo é um filme brilhante,
uma lição para tempos vindouros sobre um dos grandes flagelos da humanidade.
Através do olhar afligido de Solomon Northup, a escravatura é colocada à vista
na sua forma mais crua, mais realística e mais chocante, sem pretensões de
revoltas morais ou de heróis improváveis. O olhar é calmo, terrivelmente calmo,
arrastando-se na mesma apatia dos subjugados, na mesma indolência dos
subjugadores. Nem a beleza da natureza se reduz e se distrai na interpretação
cinematográfica pelas mãos de Sean Bobbitt, mantendo-se indiferente e bela na sua
congénita imperturbalidade aos agravos humanos. Tudo é indiferente à maldade
perpetuada e mesmo homens de coração mais bondoso se retraem perante o peso e a
autoridade da tradição. Steve McQueen captura esta indiferença de forma
superior e a vergonha que a dureza das suas imagens provoca na audiência é
mesclada na pavorosa constatação da hirteza que ainda tomará conta da História
por mais uma centena de anos após os tempos tortuosos de Solomon Northup.
Ainda que
parco em acção, 12 Anos Escravo é
provavelmente mais violento que um filme de guerra. Há cenas capazes de fazer
virar o estômago; não completamente efeito da dureza das imagens (que são
deveras duras e imperdoáveis), mas daquilo que representam sobre a capacidade e
a inclinação para a selvajaria do carácter humano. Puxando barreiras, Steve
McQueen não se coíbe nem filtra o seu olhar omnipresente; não é o seu estilo e
causalmente 12 Anos Escravo sobe a um
patamar artístico que muitos poucos, embora a força das suas histórias,
conseguem alcançar. Steve McQueen segue a narrativa de modo amorfo, sem
desnecessárias exposições e apresentações, saltando entre personagens, cenários
e eventos com a leveza de um verdadeiro mestre da sua arte, no completo domínio
das suas capacidades.
A história de
Solomon Northup é suficientemente emocionante e horrível para construir algo
com valor cinematográfico, mas o leque de brilhantes interpretações dá-lhe um
toque extra de qualidade e personalidade que a torna inesquecível. Chiwetel
Ejiofor é incrível, comovedor e suavemente heróico na sua interpretação de
Solomon. Michael Fassbender, noutro grande registo da sua carreira, é
profundamente hipnotizante no seu papel de irremissível e bruto esclavagista. A
estreante Lupita Nyong'o, enquanto a consideravelmente maltratada Patsey,
apresenta-se numa impressionante tour-de-force;
Lupita Nyong'o é uma agradável revelação. O restante elenco, com mais ou menos
tempo de ecrã, exibe-se em bom plano, com destaque para Benedict Cumberbatch e
Sarah Paulson.
Steve McQueen
rodeia-se de valores de produção de alta qualidade para construir o melhor
filme da sua carreira. No plano da música, Hans Zimmer oferece um dos seus
melhores trabalhos, uma banda sonora que se encaixa com perfeição quer nos
momentos cortantes, quer nos momentos emocionantes. A fotografia equilibrada de
Sean Bobbitt, a montagem meticulosa de Joe Walker e o argumento escrupuloso de
John Ridley são outros pontos fortes. Usando a crueldade de Fome e a impudência de Vergonha, Steve McQueen constrói um
filme ainda mais visceral e de visualização mais difícil e indispensável; é-lhe
certamente o trabalho mais próximo e a sua imaginável e definidora obra-prima.
CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.12yearsaslave.com/
Trailer:
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