Longo e estereotípico, e renunciando qualquer perspectiva moralizante, Trip de Família é outra comédia americana de Verão que se rege pelos mínimos para satisfazer uma audiência desinteressada.
Quando David Clark (Jason Sudeikis), um traficante local pela meia-idade, perde todo o seu depósito e todo o seu dinheiro amealhado num assalto evitável, David vê-se em maus lençóis perante o seu chefe. Para dar a volta à situação, Clark aceita viajar até ao México para transportar um depósito de droga para os Estados Unidos. Para passar a fronteira em segurança, Clark decide criar uma família falsa: os Millers. Contudo, a travessia não será tão tranquila quanto Clark supõe.
Trip de Família nunca chega a exceder as expectativas mínimas a que o espectador já se acostumou a rodear perante tão habituais comédias americanas de Verão cujo mero intuito, entre algumas situações forçadas e algumas situações improváveis, é o de levantar um pequeno sorriso. Seguindo um caminho formulista, Trip de Família introduz uma problemática comum – neste caso, as contrariedades de dois adultos pela meia-idade sem qualquer estatuto ou aspiração social e as dificuldades de dois adolescentes sem protecção familiar – para elaborar uma narrativa a espaços agradável, contudo maioritariamente estapafúrdia e ilógica, onde as paragens na estrada imperam por nenhuma razão em especial. Tendencialmente ofensivo, a comédia, que a dupla Bob Fisher e Steve Faber assina, não se salva de alguma inclinação xenófoba no tratamento da envolvência mexicana e do seu povo. O preconceito demonstrado é inteiramente evitável e não deve ser desconsiderado em obséquio da comédia fácil. Nem deve a típica ponderação dramática e moral no último acto servir de expiação ou descanso.
Mas nem tudo é integralmente mau em Trip de Família. Há uma cómica actuação de Nick Offerman e de Kathryn Hahn enquanto o casal Fitzgerald, contrabalançado, durante o tempo em que o casal está presente, a prestação distante e desinteressada de Jason Sudeikis e de Jennifer Aniston, o primeiro a apresentar-se sem critério e a segunda a pavonear-se por conveniência da sua formosura física. Will Poulter, como Kenny Rossmore, aparece à mistura como o bobo da festa, a quem os mais inverosímeis infortúnios sucedem; Emma Roberts, como Casey Mathis, a rebelde de serviço, cumpre o suficiente para não tornar Mathis completamente esquecível. Enquanto uma família de fachada onde a qualidade relacional deve sofrer necessárias dinâmicas, as interacções entre Sudeikis, Aniston, Poulter e Roberts mantém-se relativamente inalteradas do início ao fim, abdicando na maioria de situações conflituosas e criando ab initio cumplicidades afectivas.
O trabalho do realizador Rawson Marshall Thurber é, na soma das partes, desinspirado. Marshall Thurber perde tempo e insiste demasiado em cenas de humor que, no seu processo de montagem com Michael L. Sale, certamente considerou mais engraçadas do que efectivamente se revelam ao espectador, perdas de tempo que globalmente prolongam o filme além do sadiamente ideal. No conjunto, Trip de Família não diverte muito, mas não é completamente desprovido de comicidade e de uma ou outra sequência admissivelmente hilariante; não são, no entanto, em número e qualidade suficiente para colmatar as limitações de um argumento pobre e sem espírito.
CLASSIFICAÇÃO: 2 em 5 estrelas
Site Oficial: http://werethemillers.warnerbros.com/
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