Elysium,
olhando por alto pertinentes temáticas políticas e sociais, é um decente filme
de ficção-científica que não chega perto de Distrito 9, mas que continua a expressar
a imensa criatividade de Neill Blomkamp.
No ano de 2154 a Terra encontra-se
sobrepovoada. Os desfavorecidos vivem no planeta moribundo e os favorecidos habitam
uma estação luxuosa, Elysium, a orbitar o planeta. Quando Max Da Costa (Matt
Damon) sofre um grave acidente de radiação na fábrica onde trabalha, Max
percebe que a sua única salvação é chegar à estação e curar-se. Em Elysium, a
Secretária da Defesa Jessica Delacourt (Jodie Foster) não tolera a aproximação
de qualquer ilegal; o seu agente na Terra, C.M. Kruger (Sharlto Copley), fará o
necessário para se assegurar disso.
Ao contrário
de Distrito 9, que consagrou a
entrada no grande plano do sul-africano Neill Blomkamp, Elysium não é um projecto de ficção-científica tão espontâneo e
inesperado. Ao segundo filme, Blomkamp, embora sem nunca perder sentido da sua engenhosa
criatividade, revela-se pecaminosamente comodista, parecendo, aliás, temer
aprofundar o âmbito e a crítica política e social com que tão bem lidou em Distrito 9. Questões de segregação
racial permanecem lá, a que se juntam as discussões do fosso entre a classe mais
rica e a classe mais pobre, da imigração e do sistema de saúde; todavia, não
querendo parecer reivindicativo, Blomkamp evita expor-se demasiado ao
espectador, desconsiderando a ideia de que um filme também pode ser – e em
alguns casos deve efectivamente ser – uma manifestação das crenças do seu
realizador.
A concepção de
um lugar como Elysium, onde os privilegiados vivem e prosperam, retirada directamente
da mitologia grega, coloca ainda sobre o filme uma carga moral e religiosa onde
a personagem Max Da Costa funciona como o profetizado salvador que irá repor o
equilíbrio na sociedade. Através de um engenho que lhe fornece força e rapidez
superiores, Max transforma-se inevitavelmente no herói provável. Tal como na
mitologia grega, Max é um herói, um semideus se se quiser, que procura
conquistar o seu lugar no Elísio, no Elysium de Blomkamp. Lá do céu, a
personagem Jessica Delacourt funciona como o deus insurrecto, constantemente à
procura do poder total, que se sente desafiado por Max; na terra, Kruger é o
agente negro de Delacourt encarregue de impedir o herói Max.
Criatividade à
parte, Blomkamp coloca excessiva ênfase na batalha de Max com Kruger, onde não
falta a dama em apuros que torna a tarefa de Max mais ambígua. Negligencia na
maioria a envolvente terráquea (a ideia de que o espanhol será a língua
dominante na América é curioso); o foco está sempre voltado para cima, para
Elysium, quando o interesse narrativo e moral está em baixo. A sua execução
técnica é extremamente eficiente e cuidadosa e particularmente impressionante nas
sequências a envolver a estação Elysium, abrilhantadas por uma banda sonora
apoteótica de Ryan Amon. As actuações de Matt Damon e de Sharlto Copley puxam Elysium para a frente: Damon apresenta a
dose certa de pujança física e cansaço emocional para tornar o seu herói interessante,
enquanto Copley é estranho o suficiente para tornar o seu vilão imprevisível. A
empurrar Elysium para trás contam uma
interpretação estranhamente desinspirada de Jodie Foster e uma performance
corriqueira de Alice Braga.
Os derradeiros
momentos de Elysium são uma mostra do
filme que podia ter sido, mas que, em última análise, não foi: um olhar sobre a
intemporal luta social entre a classe desfavorecida e a classe privilegiada.
Não é de forma alguma um mau filme, nem de todo um grande filme. Seguindo Distrito 9, confirma que Neill Blomkamp
não é um acaso de um só projecto e que ainda tem muito para dar. Tenha mais
bravura, a sua criatividade não servirá apenas de utensílio visual.
CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.elysium2013-movie.com/
Trailer:
Gostei imenso da análise e vai de encontro, em muitos pontos, à minha opinião.
ResponderEliminarElysium: 4*
ResponderEliminarRevi este filme e acho que é bastante atual e reparei que a Delacourt, personagem interpretada por Jodie Foster, é parecida a Donald Trump politicalmente falando.
Cumprimentos, Frederico Daniel.