A
Ressaca – Parte III consegue proporcionar bons momentos e as diabruras da
Matilha são alucinantes com nunca. Como fim, no entanto, a Parte III deixa um sabor amargo, imprimindo uma identidade que não
se identifica integralmente com a premissa da trilogia.
Quando o pai de Alan falece após outra
travessura do seu filho, a Matilha reúne-se para realizar uma intervenção. Phil
(Bradley Cooper), Doug (Justin Bartha) e Stu (Ed Helms) concordam que Alan (Zach
Galifianakis) entre numa clínica de reabilitação e acompanham-no até ao Arizona.
Porém, a fuga de Leslie Chow (Ken Jeong) da sua prisão em Banguecoque coloca um
criminoso, Marshall (John Goodman), que sabe que Chow apenas comunica com Alan,
na senda da Matilha.
A terceira
parte de A Ressaca é exaustivamente
anunciada como o fim da saga, mas não parece ser a história com que o
realizador Todd Phillips tencionava acabar o seu projecto. A evidência manifesta-se
na hilariante sequência que o realizador americano presenteia à sua audiência
no pós-créditos finais. Nessa cena, Phillips parece admitir aquela que seria a
sua intenção original, uma que terá abdicado, ou que terá sido forçado a
abdicar, por via do forte coro de reprovações à ausência de originalidade na
segunda parte da trilogia. Efectivamente, A
Ressaca – Parte II é uma reprodução exageradamente fiel de A Ressaca; é um produto “contrafeito” –
com produção ironicamente oriental – que se limita a mudar de nome e de exíguos
elementos visuais para estabelecer diferenças. Todavia, o pecado de Phillips na
Parte II encaminha-o a um acto de
contrição na Parte III que
descaracteriza por completo a essência da trilogia e da sua premissa original.
Se A Ressaca – Parte II é uma mostra
de tudo aquilo que o realizador não fez a nível de inovação, A Ressaca – Parte III é uma mostra de tudo
aquilo que fez a mais; a mudança é tão alongada que este produto já nem é
contrafeito: é um produto reles. A cena no pós-créditos finais seria,
porventura, o meio-termo que Phillips procurava, mas nunca se saberá.
A Parte III estabelece desde o início uma relação
casual com os dois primeiros filmes, transformando o tal fim anunciado numa
consequência acidentada das endiabradas acções da Matilha em Las Vegas e em Banguecoque.
Os responsáveis são, uma vez mais, Alan, progressivamente tresloucado e
infantilizado, e a sua estranha mas divertida relação com o criminoso Chow. Alan
é a alma da trilogia A Ressaca e,
discutivelmente, o maior responsável pelo seu sucesso. Na Parte III, todavia, embora com um começo promissor, Alan passa de
um amável irresponsável para um leviano enervante e previsível. Chow atravessa
uma transformação semelhante, uma apenas justificável pela exposição de
personagens unidimensionais a excessivos tratamentos. O antecipado regresso a Las
Vegas não é um estrondo tão grande quando se esperaria; é, na realidade, algo oco
e disparatado.
O enredo é
simples. O objectivo é provocar o maior número de gargalhadas possível. Nesse
aspecto, a Parte III aproxima-se mais
do primeiro filme, embora não abunde tanto em momentos inacreditáveis que instigam
histerismos na audiência. A adição de John Goodman como Marshall ao elenco é
inconsequente. Marshall nunca se torna num vilão de levar a sério e as suas
ameaças nunca ganham um tom grave, não obstante Marshall se revelar capaz de trair
os seus próprios seguidores. Jamais paira a desconfiança de que a Matilha e
Doug (novamente fora de combate) estejam em verdadeiro perigo. Nem as suas façanhas
são tão corajosas quanto se ostentam.
A Ressaca – Parte III arranca
gargalhadas e provoca boa disposição. Se a única razão de ser de uma comédia é
essa, o filme prevalece. Se se ativer, no entanto, ao carácter de conclusão de
uma saga, a Parte III é claramente diminuta;
quiçá, nem é o que Phillips desejava contar. A possibilidade de uma sequela,
apesar de toda a informação contrária, não está completamente fora de mão, mas já
vai tarde.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.hangoverpart3.com/
Trailer:
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