O
Grande Gatsby é visualmente rico e deslumbrante, mas a execução supérflua
atraiçoa a essência da história de F. Scott Fitzgerald, mesmo com uma
performance excepcional de DiCaprio.
Nick Carraway (Tobey Maguire), um diplomado
da Universidade de Yale e veterano da Primeira Guerra Mundial, encontra-se depressivo
e viciado no álcool. O seu psiquiatra aconselha-o a narrar as suas memórias
para encontrar a origem do seu problema, ao que Nick fala e escreve sobre o período
em que conheceu Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) quando foi viver para perto da
sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan) e do seu marido Tom (Joel Edgerton).
A nova adaptação
do clássico de F. Scott Fitzgerald pelas mãos do realizador Baz Luhrmann,
rodeada de todas as novidades técnicas, nunca se impõe de forma coerente ao
espectador. A primeira metade do filme, composta por transições vertiginosas e
banhada em excentricidade visual e sonora, deixa a impressão de uma direcção
perdida, embriagada – permita-se a ironia – como alguém numa das festas no
enorme palácio de Jay Gatsby. Sendo notório que Luhrmann tenciona projectar
negativamente a extravagância, a opulência e a superficialidade norte-americana
de uma época pós-guerra embebida em excessos que levariam, eventualmente, à
decadência na Grande Depressão, é também notória a futilidade que Luhrmann indirectamente
projecta no seu trabalho, particularmente na primeira – longa – metade.
Na sua
introdução aparatosa e ruidosa de Jay Gatsby, o filme parece amnésico durante
demasiado tempo ao caracter e aos motivos de tão misteriosa personagem, uma
que, afinal, consagra o ideal americano de escalada social. A opção é pelo divertimento
oco, acompanhado de forma desapontante por músicas modernas e desapropriadas;
como Nick Carraway refere a certo ponto, logo no começo, parece um parque de
diversões. Mas há muito mais em Jay Gatsby do que a adaptação quer saber:
Gatsby representa um sonho romântico, shakespeariano; alguém que se transverte
completamente por outro alguém que julga ser a sua inalterável cara-metade;
alguém disposto a conseguir tudo por essa cara-metade e disposto, da mesma
maneira, a perder tudo. A relativa e esperançosa inocência de Gatsby é
igualmente avassaladora e trágica. Luhrmann parece finalmente dar-se conta da
essência de Gatsby na segunda metade do filme e pausa um pouco, recupera da sua
embriaguez e desagarra-se de pretensões para o último – agradável – acto, mesmo
que a sua ressaca ainda o leve, aqui e ali, a desnecessárias distracções técnicas.
Encarnar
uma personagem tão mítica quanto o próprio título da obra não está ao alcance
de qualquer um, mas DiCaprio triunfa indiscutivelmente, criando um Gatsby tão
misterioso quanto inocente, tão galante quanto mendicante. O Grande Gatsby não agarra enquanto DiCaprio não surge em cena,
enquanto os marcados conflitos internos da sua personagem não ganham dimensão –
ou pelo menos a espécime que Luhrmann não esconde para si. Maguire, Mulligan e
Edgerton observam bem as particularidades dos respectivos papéis, mas às vezes
parecem perder-se na observância técnica e na magnificência dos valores de
produção.
Baz Luhrmann consegue
novamente em O Grande Gatsby o mesmo
que tinha conseguido em Austrália: um enorme projecto encabeçado por um elenco de luxo que não dispensa
orçamento ou escala e que é, em última análise, belo e grandioso por fora, mas vazio e descomprometido por dentro. O Grande Gatsby, perdido da sua autoridade
romântica, trágica e social, é pouco mais do que um decente Gatsby.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://thegreatgatsby.warnerbros.com/
Trailer:
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