Grandes
Esperanças, realizado por Mike Newell, é, sobretudo, uma adaptação
contemplativa da obra de Charles Dickens, ignorando os marcantes aspectos
sociais em favor de um romance que nunca chega a ser cativante e de um mistério
que nunca impõe o seu grau de importância.
Em criança, ao visitar a campa dos seus
pais, Pip (Jeremy Irvine) encontra Magwitch (Ralph Fiennes), um recluso evadido
que lhe depreca por alimento e medicamentos. Pip, entre o medo e comiseração,
traz a Magwitch o que ele lhe pedira; mas o recluso volta a ser capturado e os
esforços de Pip são repreendidos. Por essa altura, Pip é chamado à casa da
solteirona Miss Havisham (Helena Bonham Carter) para brincar com a sua filha
Estella (Holliday Grainger), por quem se apaixona. Anos mais tarde, Pip
descobre por intermédio do advogado Mr. Jaggers (Robbie Coltrane) que um
anónimo benfeitor pretende transformá-lo num gentleman em Londres. A vida de
Pip está prestes a mudar.
Para aqueles
não familiarizados com a história de Dickens, a adaptação de Newell do
argumento por David Nicholls pode ser dissuasoriamente confusa e vulgar. A
evolução social de Pip é apressada e desajeitada, perdida numa montagem
despreocupada com o cariz sociológico do enredo, numa montagem que perde tempo
no corriqueiro e sem relevância. Uma infelicidade que nem o detalhado
guarda-roupa ou os distintos cenários de uma Londres vitoriana, imunda e
embrumada disfarçam. Embora a transformação social de Pip de mero aprendiz de
ferreiro para empertigado gentleman nos
elevados estrados sociais da capital britânica seja a narrativa de todo o
filme, o cuidado de Newell, e bem assim o seu esmero, tende para o instante
romântico e desventurado, ignorando quase completamente as transformações no
carácter de Pip, desconsiderando o nível de arrogância e de desprezo que o novo
meio origina nele. Mas são estas mudanças de carácter que marcam
definitivamente Pip, que desiludem as grandes esperanças que há nele e que o
encaminham, eventualmente, a uma dura constatação da realidade.
Na sua
persecução do tratamento ideal do romance entre Pip e Estella, Newell ignora
ainda o crucial trajecto do anónimo benfeitor de Pip, um trajecto que, analogamente
invertido ao de Pip, se encontra prematuramente destinado ao trágico. A
história do misterioso benfeitor é resolvida com pressa, quase por obrigação,
desprovida de sentimento e de moral, embora se intrique com todos os restantes
acontecimentos e resoluções do enredo. Os desfechos são igualmente apressados,
um tanto desleixadamente; mesmo sendo este, afinal, um filme com pouco mais de
duas horas de duração. E quanto, então, ao desejado romance? É supérfluo e
inconsequente.
As actuações
nesta adaptação são, afortunadamente, adequadas e o elenco complementa-se. Em
particular, a Miss Havisham da sempre endiabrada Helena Bonham Carter é deliciosamente
funesta e estranha e as presenças de Robbie Coltrane – novamente num papel de
tutoragem – e de Ralph Fiennes não passam em vão. Jeremy Irvine e Holliday
Grainger continuam a dar provas no registo de época. A fotografia de John
Mathieson captura bem o ar sorumbático da Era Vitoriana com tons baços e ocasionais
toques de lens flares que parecem assinalar
as grandes esperanças do enredo.
O ritmo de Grandes Esperanças é relativamente moroso;
talvez nada afectaria se, nos momentos marcantes, não acelerasse ou transitasse
demasiado ao ponto de confundir. Para o espectador conhecedor da obra de
Dickens, Grandes Esperanças não
estará demasiado abaixo das suas expectativas; o restante espectador
provavelmente desiludir-se-á e perder-se-á na mensagem de Dickens.
CLASSIFICAÇÃO: 2 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.greatexpectationsmovie.co.uk/
Trailer:
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