quinta-feira, 23 de maio de 2013

Filme: Grandes Esperanças (2013)


Grandes Esperanças, realizado por Mike Newell, é, sobretudo, uma adaptação contemplativa da obra de Charles Dickens, ignorando os marcantes aspectos sociais em favor de um romance que nunca chega a ser cativante e de um mistério que nunca impõe o seu grau de importância.

Em criança, ao visitar a campa dos seus pais, Pip (Jeremy Irvine) encontra Magwitch (Ralph Fiennes), um recluso evadido que lhe depreca por alimento e medicamentos. Pip, entre o medo e comiseração, traz a Magwitch o que ele lhe pedira; mas o recluso volta a ser capturado e os esforços de Pip são repreendidos. Por essa altura, Pip é chamado à casa da solteirona Miss Havisham (Helena Bonham Carter) para brincar com a sua filha Estella (Holliday Grainger), por quem se apaixona. Anos mais tarde, Pip descobre por intermédio do advogado Mr. Jaggers (Robbie Coltrane) que um anónimo benfeitor pretende transformá-lo num gentleman em Londres. A vida de Pip está prestes a mudar.

Para aqueles não familiarizados com a história de Dickens, a adaptação de Newell do argumento por David Nicholls pode ser dissuasoriamente confusa e vulgar. A evolução social de Pip é apressada e desajeitada, perdida numa montagem despreocupada com o cariz sociológico do enredo, numa montagem que perde tempo no corriqueiro e sem relevância. Uma infelicidade que nem o detalhado guarda-roupa ou os distintos cenários de uma Londres vitoriana, imunda e embrumada disfarçam. Embora a transformação social de Pip de mero aprendiz de ferreiro para empertigado gentleman nos elevados estrados sociais da capital britânica seja a narrativa de todo o filme, o cuidado de Newell, e bem assim o seu esmero, tende para o instante romântico e desventurado, ignorando quase completamente as transformações no carácter de Pip, desconsiderando o nível de arrogância e de desprezo que o novo meio origina nele. Mas são estas mudanças de carácter que marcam definitivamente Pip, que desiludem as grandes esperanças que há nele e que o encaminham, eventualmente, a uma dura constatação da realidade.

Na sua persecução do tratamento ideal do romance entre Pip e Estella, Newell ignora ainda o crucial trajecto do anónimo benfeitor de Pip, um trajecto que, analogamente invertido ao de Pip, se encontra prematuramente destinado ao trágico. A história do misterioso benfeitor é resolvida com pressa, quase por obrigação, desprovida de sentimento e de moral, embora se intrique com todos os restantes acontecimentos e resoluções do enredo. Os desfechos são igualmente apressados, um tanto desleixadamente; mesmo sendo este, afinal, um filme com pouco mais de duas horas de duração. E quanto, então, ao desejado romance? É supérfluo e inconsequente.

As actuações nesta adaptação são, afortunadamente, adequadas e o elenco complementa-se. Em particular, a Miss Havisham da sempre endiabrada Helena Bonham Carter é deliciosamente funesta e estranha e as presenças de Robbie Coltrane – novamente num papel de tutoragem – e de Ralph Fiennes não passam em vão. Jeremy Irvine e Holliday Grainger continuam a dar provas no registo de época. A fotografia de John Mathieson captura bem o ar sorumbático da Era Vitoriana com tons baços e ocasionais toques de lens flares que parecem assinalar as grandes esperanças do enredo.

O ritmo de Grandes Esperanças é relativamente moroso; talvez nada afectaria se, nos momentos marcantes, não acelerasse ou transitasse demasiado ao ponto de confundir. Para o espectador conhecedor da obra de Dickens, Grandes Esperanças não estará demasiado abaixo das suas expectativas; o restante espectador provavelmente desiludir-se-á e perder-se-á na mensagem de Dickens.

CLASSIFICAÇÃO: 2 em 5 estrelas


Trailer:


Sem comentários:

Enviar um comentário