Mandela:
Longo Caminho Para a Liberdade oferece uma visão maioritariamente ampla e a
espaços emotiva da vida e da luta contra o apartheid
de Nelson Mandela. Idris Elba é nada menos que fantástico na sua interpretação cônscia
do eterno líder sul-africano.
Na África do Sul, no final dos anos 50, o
regime do apartheid atinge proporções indecorosas. Nelson Mandela (Idris Elba)
é um dos líderes do movimento revolucionário do ANC (Congresso Nacional
Africano). Quando o movimento toma tácticas guerrilheiras em resposta a
atitudes mais violentas do governo sul-africano, Mandela é capturado e
condenado a uma pena de prisão perpétua. A sua mulher, Winnie Mandela (Naomie
Harris) toma as rédeas do movimento guerrilheiro.
Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade,
adaptado por William Nicholson da biografia Long
Walk to Freedom do eterno presidente sul-africano, é um filme sem um
equilíbrio definido, misturando momentos de beleza cinematográfica com momentos
de relativa banalidade. Como um todo, todavia, este trabalho de Justin Chadwick
encontra-se acima da média e, ancorado ao valor universal da mensagem de paz de
Mandela, agarra com força a atenção e as expectativas do espectador, mesmo que
no fim a recompensa emocional fique aquém daquilo que podia e devia ter sido
alcançado, e que vinha a ser brilhantemente preparado na primeira metade do
filme.
A primeira
metade de Mandela: Longo Caminho Para a
Liberdade, que se prolonga até ao momento do encarceramento de Nelson
Mandela na prisão da Ilha Robben, não dá nenhum passo em falso, agregando uma
narrativa fluida (desde a infância de Mandela) com uma montagem inteligente, transumanando
Mandela com defeitos a fim de elevar o seu caminho ao estatuto de figura moral.
Nesta parte do filme, o lado mais controverso de Mandela, e do seu papel no
armamento da ANC durante a fase mais negra do apartheid, é tratado com cuidado e tacto, colocando-o ante momentos
de aflição racial progressivamente graves que impactam o seu melhor
discernimento. Embora Mandela tome o caminho da luta armada, a sua aversão ao
mesmo é sempre observável; Mandela procura a paz e os instantes em que regressa
às suas raízes, algures no meio da grande e bela savana, para visitar a sua mãe
ou para se casar com Winnie, provam a sua vontade do tamanho do mundo de trazer
paz e igualdade.
Quando Mandela
é capturado e levado para a Ilha Robben, Mandela:
Longo Caminho Para a Liberdade muda de ritmo. Abranda consideravelmente e
perde o seu esplendor. Nelson Mandela, não obstante as enormes privações que
padece no seu longo e injusto cativeiro, fica mais distante do espectador e a
sua viagem moral torna-se mais imperceptível. A forma como Justin Chadwick
trabalha esta parte da vida do eterno líder sul-africano provoca a inquietante
ideia de que a transformação de Mandela durante o seu cativeiro se deve a algum
amolecimento da sua vontade de revolta, como um animal enjaulado que se vê
definhar as garras com a oscilação do pêndulo do tempo. Justin Chadwick
contrasta seriamente esta transformação com a de Winnie Mandela, que, moldada
por uma realidade de punição completamente diferente, parece impelida pelo
simples ódio, quiçá dissonante com as suas verdadeiras motivações.
Os momentos
que antecedem e se sucedem à libertação de Mandela carecem de alguma
solenidade, dependendo demasiado das imagens de arquivo que Justin Chadwick
reúne. No entanto, Justin Chadwick recupera nesta recta final algum do
esplendor perdido e consegue conduzir um desfecho condigno com o carácter de
Nelson Mandela: sentido, tranquilo e bonito; desfecho que carrega consigo uma
inflexão emotiva extra pelo falecimento recente do eterno líder sul-africano.
Justin Chadwick tem muito que agradecer a Idris Elba pela sua brilhante
actuação. Embora exageradamente encorpado para a correcta caracterização de
Mandela – problema particularmente mais presente nos anos mais avançados do
líder –, Idris Elba faz uma encarnação de personalidade, voz e natureza verdadeiramente
espantosa. É uma performance capaz de mudar o rumo da sua carreira. Naomie
Harris também traz qualidade ao papel de Winnie, ainda que sobeje a ideia de
que a sua personagem é subutilizada e que o seu lugar na narrativa é mal
colocado.
Os valores de
produção deste filme estão a bom nível, da vibrante fotografia de Low Crawley –
com fantásticos planos da savana sul-africana – ao apropriado guarda-roupa e à
música bela e pulsante de Alex Heffes. Mandela:
Longo Caminho Para a Liberdade pode não ser a mais perfeita interpretação
cinematográfica de Nelson Mandela – o acto intermédio é frustrantemente carente
–, mas é uma que vence na celebração a sua vida, das suas conquistas, e que
deixa saudades do seu memorável e já eternizado espírito.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.mandela-movie.co.uk/
Trailer:
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