Raptadas
é um thriller intenso, sóbrio e absorvente, pautado por boas interpretações e
uma boa direcção de Denis Villeneuve. Hugh Jackman segura a narrativa pelas
rédeas e dá outra demonstração das suas capacidades.
Na Pensilvânia, no Dia de Acção de Graças,
as famílias vizinhas Dover e Birch reúnem-se para celebrar a festividade. Anna
Dover e Joy Birch, as duas crianças de cada família, saem de casa para brincar
na rua. Anna e Joy não voltam. A polícia é chamada ao local e o detective Loki
(Jake Gyllenhaal) toma conta do caso. Com o alongar da investigação sem
resultados concretos, Keller Dover (Hugh Jackman) e Franklin Birch (Terrence
Howard) decidem agir pelos seus próprios meios sobre aquele que consideram
responsável pelo rapto das duas crianças.
Raptadas demora o necessário para
desenrolar as potencialidades da sua narrativa, usando a por vezes rara
consciência e soberania sobre o tempo para construir um apropriado cenário
sorumbático e tristonho. Com os segredos da narrativa guardados a sete chaves
pela maior parte do tempo, Raptadas
coloca o espectador numa investigação paralela à que se desenrola
paulatinamente no grande ecrã. Se o detective Loki tem as suas pistas e
suspeitas sobre o desaparecimento de Anna e Joy, o espectador, que dispõe de
uma clarividência superior, poderá ter uma visão inteiramente distinta. O
triunfo de Raptadas, além do
sorumbático tom construído, reside na forma como questiona e faz questionar e
mantém a audiência num palpitante jogo de gato e rato até à revelação final.
O tom
religioso que supervisiona o filme desde a primeira linha prenuncia uma relação
moral, e não defrauda. As diversas decisões tomadas pelos intervenientes da
narrativa manifestam um desenlace amoral como resultado da decisão imoral do
rapto das duas crianças. Em particular, a captura e consequente tortura por
parte de Keller Dover do presumível raptor caracteriza magnificamente a dose
incontrolável de desespero e incerteza resultante da primeira imoralidade;
demonstra também a ténue limítrofe a que um pai se circunscreve para recuperar
a sua filha. A intenção de Raptadas
não é colocar o espectador do lado de Keller, nem contra ele; é meramente
coadunar-se com a sua essência humana.
Raptadas perde algumas engrenagens à
entrada do último acto e transparece a ideia de que o final poderá empalidecer
em comparação com o que veio anteriormente. Efectivamente, alguma da sobriedade
esgota-se. As até então ponderadas vias de investigação – à moda antiga – são
abandonadas e o caso resolve-se por intervenção externa com o reaparecimento
súbito e inexplicado de uma das crianças. Não invalida a investigação que vinha
sendo feita, por Loki, Keller ou pelo espectador, mas não lhe permite uma
conclusão com clímace.
O canadiano
Denis Villeneuve faz um bom trabalho atrás das câmaras, apresentando uma
realização segura e instruída. A ambiência que cria, com a fotografia turva (a
chuva que cai é muita), a música ora tensa ora soturna e a montagem certeira,
absorve o espectador e envolve-o na insegurança que também envolve as suas
personagens. Denis Villeneuve obtém dos seus actores interpretações fortes.
Hugh Jackman apresenta-se em grande nível e comanda o filme; intenso,
impaciente e ameaçador, Keller Dover é uma vítima perpetradora que inflige mais
medo no espectador que o reprovável acto que é premissa para esta história.
Jake Gyllenhaal, sem ombrear com Hugh Jackman, apresenta-se em bom plano, bem
como o restante elenco.
Raptadas é um dos melhores thrillers dos
últimos meses. É um thriller que não se preocupa em mostrar o resultado, mas sim
o processo para lá chegar, tomando pelo caminho as providências necessárias
para manter a audiência agarrada à mesma esperança que move as suas
personagens, não obstante a envolvência tristonha que prenuncia um final menos
agradável.
CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas
Site Oficial: http://prisonersmovie.warnerbros.com/
Trailer:
O filme é excelente, contudo penso que este seja longo demais. "Prisoners" tem também uma ou outra ponta solta, mas isso não baixa a excelência desta grande produção cinematográfica.
ResponderEliminarO final de "Raptadas" foi bem estruturado de maneira a pôr o espetador no lugar do personagem e isso faz o público pensar, o que a meu ver é excelente e também bastante intrigrante.
5*