Diana
é um pobre retrato e um mau exemplo biográfico de uma das mulheres mais famosas
e influentes de sempre. Naomi Watts encarna a Princesa do Povo de forma
espantosa, mas nada pode fazer quando o argumento é artificial como este.
Após o fim da sua mediática e conturbada
relação com o Príncipe Carlos, Diana, Princesa de Gales (Naomi Watts), sempre
debaixo dos holofotes, não consegue dar um rumo à sua vida. Certo dia, Diana
conhece o cardiologista Hasnat Khan (Naveen Andrews), com quem tem uma relação
secreta. Quando o relacionamento se torna inevitavelmente público, Diana e
Hasnat têm dificuldade em lidar com a pressão mediática e uma decisão tem que
ser tomada.
Para um filme
que se propõe a homenagear a Princesa de Gales, Diana largamente marginaliza e é desrespeitoso para com o legado
deixado. O trabalho humanitário é copiosamente desprezado, salvo quando a sua
inclusão pode servir de pretexto para alavancar o romance com Hasnat. O romance
é, porquanto, o foco deste trabalho; não é biográfico, nem uma expressão de
Diana enquanto sujeito de virtudes e defeitos. É uma tentativa quase atroz de
humanizar pela via do romance alguém já sobejamente conhecido e eternizado pela
sua humanização e pelos seus actos de bondade e caridade. Nos seus derradeiros
anos, a Princesa Diana era já alguém com os pés assentes na terra; não
satisfeito, o realizador Oliver Hirschbiegel projecta a Princesa do Povo para o
ar, para um meio de alguma instabilidade psicológica, a fim de puxá-la à sua
maneira, no âmbito da sua perspectiva, para a terra. O espectador não necessita
que Diana faça esse percurso moral de descida; precisa sim de acompanhar aquilo
que, com os pés assentes na terra, fez para eternizar com tanta nostalgia e
afecto o seu nome. E nisto Oliver Hirschbiegel falha completamente,
apresentando uma Diana sem vida e sem capacidade de decisão, um caco cujo
encanto e admiração não trespassa o ecrã.
Esta Diana,
adaptada do livro Diana: Her Last Love
de Kate Snell, tem algo de Marilyn Monroe por cima. A dependência emocional
pelo sexo masculino é semelhante, a fama transformada em infâmia a mesma e o
caminho trágico, quase shakespeariano, escreve-se pelas mesmas linhas. Mas
enquanto os complicados relacionamentos de Marilyn Monroe fazem parte da sua
imortalização, a imortalização de Diana, e a razão pela qual é relembrada com
tanta nostalgia, resulta do seu trabalho e da sua ambição humanitária. É quase indecente
que, na tela preta final, na ânsia catártica, seja feita menção ao que de
positivo resultou postumamente do seu trabalho quando tanta desconsideração
mereceu durante todo o filme. Diana,
provavelmente de forma não intencional fomentada pela montagem descontrolada,
levanta discretamente uma questão polémica: se o cariz humanitário da Princesa
se trata de verdadeira compaixão ou de uma meticulosa acção de relações
públicas. Diana, obviamente, não
apresenta resposta a esta questão; nem é evidente que se aperceba da sua
existência.
Naomi Watts
tem um trabalho ingrato. A sua personificação da Princesa Diana é admirável e
emula os sui generis maneirismos com
uma facilidade tremenda. Contudo, o incansável esforço de Naomi Watts não chega
para dissimular um argumento débil e moribundo, de diálogos exagerados, parca
intensidade emocional e desadequação de transições. Naomi Watts e Naveen
Andrews mostram desconforto em cenas tentativamente mais românticas e proferem
os seus diálogos como se ainda numa fase ensaística estivessem; em sua defesa,
era difícil conseguir melhor com a material à disposição. Por mais esforços de
Naomi Watts e Naveen Andrews para outorgar uma carga emotiva à narrativa, nada
podem alcançar quando a montagem é tão desorganizada como esta e quando a
realização procura tão cegamente a despretensão que tomba sobre o peso da sua
insignificância. A inabilidade de Oliver Hirschbiegel não surpreende; para o
espectador que visualizou A Invasão,
de 2007, o repto estava lançado.
A interpretação
de Naomi Watts poderá ser duradoura e referenciável, mas Diana cairá no esquecimento. Pelo melhor, porquanto outro projecto
mais adequadamente ambicioso e dignificante pode tomar o seu lugar.
CLASSIFICAÇÃO: 2 em 5 estrelas
Site Oficial: http://embankmentfilms.com/films/diana.html
Trailer:
Concordo, em especial com o último parágrafo.
ResponderEliminarO filme é bom, mas podia ser muito melhor, eu classifiquei-o com três estrelas.