quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Filme: Como um Trovão (2013)

Absorvente e ousado, Como um Trovão é uma envolvente história de casualidades e aspirações sem meias-medidas levadas a cabo por um elenco compenetrado.

Luke Glanton (Ryan Gosling) realiza acrobacias com a sua moto para viver. Quando descobre ter um filho de uma relação anterior em Schenectady, Nova Iorque, Luke desiste do seu trabalho e decide usar as suas habilidades para assaltar os bancos da localidade para melhor prover a sua criança. Um dia, Luke perde a cabeça e o assalto corre mal. O polícia Avery Cross (Bradley Cooper) pára Luke e é considerado um herói em Schenectady. Mas a nova realidade de Avery não é tão limpa quando deseja, nem o motivo para o seu heroísmo tão enaltecedor.

Como um Trovão começa com um certo grau de incerteza quanto à natureza da sua narrativa. O que inicialmente parece uma história de um pai que procura conquistar o amor e a confiança de um filho cuja existência acaba de tomar conhecimento, transmuta-se para uma longa crónica sobre causas e consequências e o prélio geracional, onde a perspectiva do espectador, reproduzindo igual transmutação, passa por filtros de indulgência. A intenção de Como um Trovão não é criar lados, nem de servir de advogado do diabo; antes, é o de meramente acompanhar, livre da pressão de moralismos, o impacto interpessoal de decisões pessoais. Neste aspecto, Como um Trovão é verdadeiramente absorvente.

As mudanças de perspectiva podem bater como um murro. A primeira, em particular, da qual resulta a despedida prematura de Luke, não parece real, nem se coaduna com o que até ali parecia ser o caminho seguido. Habituar-se pode constituir um desafio, mas é neste decisivo processo que Como um Trovão se liberta de alguma rotina e manifesta a sua real essência. É aqui que se se apercebe que este não é um estudo de personagem, mas sim um estudo de lugar, de influências e inevitabilidades, onde todos os caminhos se mostram necessariamente entrelaçados, onde as acções de um assaltante de bancos, de um bando de polícias corruptos e de um aspirante a Procurador-Geral estão intrinsecamente correlacionadas e dependentes. 

A principal falha de Como um Trovão é não ter dimensão suficiente para o escopo da narrativa. Ainda que sem comprometer o filme, o realizador Derek Cianfrance mostra-se um pouco à deriva, possivelmente incapacitado pela extensão e pela característica crónica do seu próprio argumento. Este não é, afinal, Blue Valentine – Só Tu e Eu, onde a história, embora no mesmo sentido crónico, era mais elementar e objectiva. Em Como um Trovão, a abordagem exige ser menos contida e Derek Cianfrance, preso pela perspectiva, tende para o oposto. Pela positiva, a ambiência conseguida é exemplar. Derek Cianfrance rodeia-se de excelentes valores de produção, onde se destacam a fotografia e a música sorumbáticas. A maneira como a câmara acompanha as sequências de maior acção mantendo-se presa ao próprio veículo da acção é impressionante.

No campo da representação, Ryan Gosling e Bradley Cooper mostram-se no melhor do seu registo e complicam a criação de juízos de valor sobre os comportamentos amorais das suas personagens. Se por um lado as decisões das suas personagens são injustificáveis, Gosling e Cooper fazem compreender o âmbito e a necessidade das mesmas; depois, ante a relativa aceitação do espectador, são capazes de dar a volta e torná-las novamente repreensíveis. Eva Mendes, num papel mais reduzido, trabalha bem a sua personagem; numa fase posterior, Dane DeHaan apresenta-se excepcional.

Como um Trovão, não obstante o refreamento excessivo de Derek Cianfrance, é globalmente outro bom registo do norte-americano, que continua a ser um talento a ter em conta. Aqui não há nem heróis nem malfeitores, nem a estrutura crónica até à geração seguinte permite uma observação de fenómenos psíquicos tão profunda. Como um Trovão é menos drama e mais um relatar cru de verdades cruas, onde o provimento geracional é motriz. 


CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer:



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