Absorvente e ousado, Como um Trovão é uma envolvente história
de casualidades e aspirações sem meias-medidas levadas a cabo por um elenco
compenetrado.
Luke Glanton (Ryan Gosling) realiza
acrobacias com a sua moto para viver. Quando descobre ter um filho de uma
relação anterior em Schenectady,
Nova Iorque, Luke desiste do seu trabalho e decide usar as suas habilidades
para assaltar os bancos da localidade para melhor prover a sua criança. Um dia,
Luke perde a cabeça e o assalto corre mal. O polícia Avery Cross (Bradley
Cooper) pára Luke e é considerado um herói em Schenectady. Mas a nova realidade
de Avery não é tão limpa quando deseja, nem o motivo para o seu heroísmo tão
enaltecedor.
Como um Trovão começa com um certo grau
de incerteza quanto à natureza da sua narrativa. O que inicialmente parece uma
história de um pai que procura conquistar o amor e a confiança de um filho cuja
existência acaba de tomar conhecimento, transmuta-se para uma longa crónica
sobre causas e consequências e o prélio geracional, onde a perspectiva do
espectador, reproduzindo igual transmutação, passa por filtros de indulgência.
A intenção de Como um Trovão não é
criar lados, nem de servir de advogado do diabo; antes, é o de meramente
acompanhar, livre da pressão de moralismos, o impacto interpessoal de decisões
pessoais. Neste aspecto, Como um Trovão
é verdadeiramente absorvente.
As mudanças de
perspectiva podem bater como um murro. A primeira, em particular, da qual
resulta a despedida prematura de Luke, não parece real, nem se coaduna com o
que até ali parecia ser o caminho seguido. Habituar-se pode constituir um
desafio, mas é neste decisivo processo que Como
um Trovão se liberta de alguma rotina e manifesta a sua real essência. É
aqui que se se apercebe que este não é um estudo de personagem, mas sim um
estudo de lugar, de influências e inevitabilidades, onde todos os caminhos se
mostram necessariamente entrelaçados, onde as acções de um assaltante de
bancos, de um bando de polícias corruptos e de um aspirante a Procurador-Geral
estão intrinsecamente correlacionadas e dependentes.
A principal
falha de Como um Trovão é não ter
dimensão suficiente para o escopo da narrativa. Ainda que sem comprometer o
filme, o realizador Derek Cianfrance mostra-se um pouco à deriva, possivelmente
incapacitado pela extensão e pela característica crónica do seu próprio
argumento. Este não é, afinal, Blue
Valentine – Só Tu e Eu, onde a história, embora no mesmo sentido crónico,
era mais elementar e objectiva. Em Como
um Trovão, a abordagem exige ser menos contida e Derek Cianfrance, preso
pela perspectiva, tende para o oposto. Pela positiva, a ambiência conseguida é
exemplar. Derek Cianfrance rodeia-se de excelentes valores de produção, onde se
destacam a fotografia e a música sorumbáticas. A maneira como a câmara
acompanha as sequências de maior acção mantendo-se presa ao próprio veículo da
acção é impressionante.
No campo da
representação, Ryan Gosling e Bradley Cooper mostram-se no melhor do seu
registo e complicam a criação de juízos de valor sobre os comportamentos
amorais das suas personagens. Se por um lado as decisões das suas personagens
são injustificáveis, Gosling e Cooper fazem compreender o âmbito e a
necessidade das mesmas; depois, ante a relativa aceitação do espectador, são
capazes de dar a volta e torná-las novamente repreensíveis. Eva Mendes, num
papel mais reduzido, trabalha bem a sua personagem; numa fase posterior, Dane
DeHaan apresenta-se excepcional.
Como um Trovão, não obstante o
refreamento excessivo de Derek Cianfrance, é globalmente outro bom registo do
norte-americano, que continua a ser um talento a ter em conta. Aqui não há nem
heróis nem malfeitores, nem a estrutura crónica até à geração seguinte permite
uma observação de fenómenos psíquicos tão profunda. Como um Trovão é menos drama e mais um relatar cru de verdades
cruas, onde o provimento geracional é motriz.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.theplacebeyondthepinesmovie.com/
Trailer:
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