Redenção
tem os seus momentos e a história, embora pobremente aprofundada, é interessante.
Redenção não evita, todavia, alguma sensação
de já visto e já feito. Statham apresenta-se bem num papel diferente.
Joseph 'Joey' Smith (Jason Statham) é um
ex-militar da Exército Britânico que desertou as suas funções após imperdoáveis
crimes de guerra. Agora um sem-abrigo na Londres clandestina, Joey limita-se a
sobreviver. Um dia, em fuga, Joey encontra um apartamento vazio e decide
assumir uma identidade falsa. Joey tenta mudar a sua imagem e a sua
personalidade, ao mesmo tempo que investiga o desaparecimento de uma amiga sua
e se aproxima de uma freira local, Irmã Cristina (Agata Buzek).
Steven Knight
é conhecido pelos seus argumentos, tal como o de Promessas Perigosas de David
Cronenberg. Redenção, que também
assina, constitui o seu primeiro projecto de realização. A intenção de Knight
de se provar capaz de segurar as rédeas de toda uma produção é logo visível na
forma como começa Redenção com um
primeiro quarto de hora essencialmente visual e escasso em diálogo, onde
apresenta o anti-herói Joey numa Londres clandestina e insegura. De momentos a
momentos, Knight parece homenagear Biutiful
de Alejandro González Iñárritu, onde outra grande cidade europeia (Barcelona) conhecida
pelas suas atracções turísticas é desconstruída e analisada sob uma lupa
escrupulosa e denunciante. Knight denuncia aqui os problemas londrinos,
mantendo o grande centro cosmopolita à distância na sua câmara como uma bonita visão
ilusória e inalcançável. Mas onde Iñarritu tinha uma narrativa segura e deslumbrante,
Knight tem uma que, não querendo ir mais longe, peca pela pouca singularidade,
a começar pela própria personagem de Joey, um ex-militar com transtorno de
stress pós-traumático já revisitado tantas vezes anteriores em incarnações mais
competentes.
Onde Knight reinventa
é na forma como lentamente transforma Joey num anti-herói que tanto pratica o
bem, procurando a sua redenção pelos crimes perpetrados na guerra do
Afeganistão, como o mal, prologando a sua espiral doentia e recessiva, pontuada
pelos sons agitados de beija-flores que remetem para a guerra e os seus vícios.
Assumindo numa feliz coincidência uma identidade falsa, Joey ganha alguns meses
para endireitar a sua vida, mas nunca procura a sua redenção completamente,
embora a espaços faça grandes esforços impensados nesse sentido; o seu caminho
contrasta com o da Irmã Cristina, uma jovem freira que também foge do seu
passado e procura activamente endireitar-se. Quando as intenções de Joey e
Cristina estão alinhadas, ambos se transformam; quando não estão, perdem-se, e
perdem também os carecidos da Londres clandestina.
Jason Statham
tem em Joey a oportunidade para mostrar que é mais do que um simples, e por
vezes reles, actor de filmes de acção e pancada. Statham consegue superar-se,
embora o estranho sotaque britânico que nunca lhe assenta muito bem. A acção
que existe em Redenção é meramente
acessória e Statham controla-se e evita exageros. É lamentável que Knight, no
entanto, não tenha visto em Statham uma oportunidade para explorar com outra
dimensão e profundeza a personagem Joey, cingindo-o a certo ponto da narrativa
a alguém concentrado numa vingança simples. A desconhecida polaca Agata Buzek
tem um papel interessante, e mesmo polémico, em Cristina, mas as suas
deficiências de representação são dissuasoriamente patentes.
Redenção representa dois caminhos
condenados pelas vicissitudes da vida e o final em aberto e distinto de cada um
aponta para o papel imperioso da vontade de mudança. Se há algo a extrair desta
produção, é esse e é pertinente. Tudo o resto é essencialmente genérico.
CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas
Site Oficial: http://hummingbirdmovie.co.uk/
Trailer:
Boa noite eu concordo em parte com a vossa análise, mas dou-lhe uma maior classificação.
ResponderEliminarDei quatro estrelas ao filme e eu cá gostei muito do desempenho da atriz Agata Buzek, tal como da química com o ator Jason Statham.
O que falhou a meu ver foi a pouca aprofundada relação do protagonista com a família, o pequeno papel atribuído a Ian Pirie e um final um pouco aberto que deixou-me a pensar “será sinal de sequela”.