Com uma narrativa simples e diálogos perspicazes,
Assassinos de Férias, enquanto comédia
negra, mantém-se na senda do humor que não vai tão longe ao ponto de dissuadir,
nem fica tão em casa ao ponto de aborrecer.
Contrariando a vontade e os concelhos da sua
mãe, Tina (Alice Lowe) parte numa viagem pela estrada, numa simples caravana,
com Chris (Steve Oram). Partilhando o mesmo espaço pela primeira vez com
destino ao meio rural, Chris e Tina começam a revelar um ao outro as suas
psicopatias e os seus segredos obscuros. O encontro com desconhecidos
exponenciará fatalmente os seus problemas.
O humor negro
abunda no humor britânico e a sua capacidade de transformar um momento moralmente
maldoso num instante cómico é infalível. Assassinos
de Férias dá azo à premissa e continua a tendência de divertir com o pérfido
e condenável. Evitando a todo o custo, com relativo triunfo, arrastar-se para convencionalismos
e repetições, a comédia, no seu pavonear indie,
cobre-se com pretensões dramáticas enquanto explora a região rural britânica. O
resultado são sequências de exploração e visita paisagística que,
apresentando-se normais e encantadoras, escondem sempre um crime que
há-de acontecer sorrateira e inesperadamente.
Chris e Tina,
o casal que nos acompanha nesta viagem, parecem, à primeira vista, um par
perfeitamente normal, com os seus altos e baixos. A ideia, todavia, perde rapidamente
suporte. Tina, que vive uma extrema paixão por cães, é alguém que esconde consideráveis
frustrações pelas imposições da sua mãe, enquanto Chris se mostra incapaz de
tolerar e aceitar o erro e o sucesso alheios. A combinação de ambos, quando confinados
a uma pequena caravana, é explosiva e divertida; quando se cruzam com outros transeuntes,
é perigosa. Tina aproveita-se da psicopatia de Chris para exercer pequenas
vinganças, ao passo que Chris se aproveita da necessidade afectiva de Tina para
escapar impune às suas transgressões. A vivência é como a de qualquer casal com
problemas conjugais; o resultado é como nunca visto.
O realizador Ben
Wheatley expressa através da câmara um sentido de humor ímpar. A sua ideia
nunca é a de forçar o riso no espectador, porquanto cabe à audiência procurar o
seu instante cómico. Haverá, certamente, quem nunca se encontre com o seu, mas Wheatley
mostra pouca preocupação nesse sentido. Steve Oram e Alice Lowe, que também
assinam o argumento, interpretam as suas personagens com uma naturalidade admirável,
quiçá assustadora; a enfâse das suas actuações, mais do que na capacidade para
entreter e fazer rir, é na ambiência dramática que enquadra as particularidades
das suas personagens, enfâse que permite circunscrever o humor ao limite toleravelmente
negro. A mesma determinação para circunscrever ao limite toleravelmente negro reside
na música introspectiva ouvida ao longo do filme e na banda sonora composta por
Jim Williams que navega de quando em vez para o alienado.
Embora se perca
na última metade numa relativa exaustão de ideias, Assassinos de Férias é outra boa entrada do humor negro britânico. Não
agradará a todos e algumas particularidades da narrativa são potencialmente
polémicas e reprováveis, ou não fossem estas características distintivas do
género.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.sightseersmovie.com/
Trailer:
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