sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Filme: The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 (2014)

Embora continue a ser um mostruário predilecto para o talento de Jennifer Lawrence, eleve o tom político e lance adequadamente os dados para a última visita a Panem, The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 não escapa à sensação de não-evento de uma narrativa desnecessariamente partida em dois.

Após os eventos dos últimos Jogos da Fome, que Katniss (Jennifer Lawrence) terminou de forma abrupta com um disparo certeiro do seu arco, o tributo do Distrito 12 encontra-se no afinal vivo e de pé Distrito 13 sob a guarida e as ordens da Presidente Coin (Julianne Moore). A revolta está mais perto do que nunca, mas há ainda um trabalho de persuadimento a fazer aos restantes distritos. Símbolo encarnado do Mimo-Gaio, Katniss torna-se no rosto da campanha pela revolta. Do lado do Capitólio, Peeta (Josh Hutcherson) é a voz do Presidente Snow (Donald Sutherland) e da sua política de repressão.

Considerando o historial dos congéneres – em género e em público-alvo – Harry Potter e Twilight, a decisão de dividir o terceiro e último capítulo da saga de Suzanne Collins em dois filmes dificilmente se revelaria uma escolha artisticamente justificada. The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 é um filme a dois tempos, a dois ritmos e mesmo a duas narrativas para uma história a duas metades, resultando quase invariavelmente numa sensação de um não-acontecimento. Durante cerca de duas horas, numa ambiência adequadamente sombria e contida, Francis Lawrence cria quase um jogo de gato e rato entre o evento e o não-evento, entre a iminente revolta e a delongadora propaganda política. A importância visual e moral do Mimo-Gaio personificado por Katniss Everdeen para a instigação da revolução parece efectivamente fundamentada, mas a resposta quase estritamente propagandista do Capitólio não parece coerente para um órgão soberano que nunca hesitou em antagonizar jovens numa arena até à morte.

O tom político em The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 é maior do que nunca. Se por um lado o Presidente Snow, do Capitólio, é alguém versado na política e nos seus mecanismos, a Presidente Coin apresenta amadorismo e dificuldade em converter a sua posição de poder numa revolta forte e vitoriosa. Snow, compreendendo a limitação da sua adversária e o poder do Mimo-Gaio, dirige o seu ataque à principal ameaça ao seu poder e estado das coisas: Katniss. Terrivelmente fragilizada e perturbada pelos dois Jogos da Fome, Snow desfere um golpe terrível no espírito de Katniss com a conversão de Peeta, capturado nos acontecimentos finais de The Hunger Games: Em Chamas, à vida e ao estilo do Capitólio. O efeito é devastador para Katniss. Provavelmente inconsciente para o fenómeno, é usada como um peão no jogo de xadrez que o Capitólio e o Distrito 13 disputam lentamente. Se por um lado Katniss apela de forma improvisada à insurreição directamente de um campo de batalha em chamas, Peeta apela à paz e ao fim do conflito de forma calculista numa sala tranquila e acolhedora, espicaçado pelo sempre promotor Caesar Flickerman. Durante esta Parte 1 do capítulo final, a revolta amiúde anunciada reduz-se quase singularmente a esta troca de propagandas.

O último acto introduz por fim uma demonstração de força das duas fracções do conflito, ainda que pequena e visualmente restringida. Sem a arena e com o constrangimento de uma primeira metade de uma narrativa, Francis Lawrence aposta todos os seus trunfos neste acto. Um bombardeamento ao Distrito 13 é quiçá a melhor sequência que Francis Lawrence constrói até ao momento na saga, colocando o espectador quase em pânico durante o desenrolar do acontecimento, sequência que parece realizar com algum alívio. Francis Lawrence é um realizador radiante por poder contar com Jennifer Lawrence. Num filme que é mais contemplativo do que outra coisa e em que não é possível desconstruir mais as personagens para além daquilo que a audiência já conhece, Jennifer Lawrence consegue trazer elementos novos a Katniss. A sua actuação apenas é suficiente para manter o espectador focado no grande ecrã, mesmo que verdadeiramente não esteja a acontecer muita coisa. The Hunger Games é tanto a muleta para o estrelato de Jennifer Lawrence como a actriz é uma muleta para o sucesso mundial da saga.    


Apesar da sensação de não-evento, The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 preludia adequadamente o último filme. É um prelúdio que, sacrificando-se para conter toda a condescendência, toda a dragagem e represada propaganda, faz antecipar um desfecho mais em força e com todo o deslumbramento devido, um em que todas as personagens podem brilhar pela última vez (com destaque para a última interpretação de Philip Seymour Hoffman) e em que o conflito de Panem ficará finalmente resolvido.

CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas


Trailer:

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