quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Filme: Operação Outono (2012)


Operação Outono não é de visualização fácil. Tecnicamente comprometido, inclui algumas interpretações interessantes. Mas o argumento, que devia ser o seu trunfo, é pobre, indiferente e trivial.

Humberto Delgado (John Ventimiglia) encontra-se refugiado na Argélia depois das eleições fraudulentas que o viram eleito pela população portuguesa, mas derrotado e perseguido pela PIDE e pelo Estado Novo. Enquanto procura outra forma de depor Salazar, os agentes da PIDE traçam um plano para o eliminar. Quando os dois objectivos se cruzam, a Operação Outono acaba tragicamente a 13 de Fevereiro de 1965 em Los Almerines, Badajoz. Mas quem tem realmente culpa?

Operação Outono é minimalista na abordagem histórica e na caracterização psicológica dos seus vários elementos. Ainda que tal distanciamento funcione algumas vezes a favor do filme, resulta maioritariamente contra, impedido qualquer elo emocional entre o espectador e a personagem, conheça ele ou não os factos históricos. A própria necessidade da Operação Outono pela PIDE nunca é adequadamente estabelecida, sobrevivendo a ligação lógica do filme no conhecimento que o espectador tenha do Estado Novo, o que pode (deve) ser verdade para o espectador português, mas incerto (ou completamente desconhecido) para o espectador internacional. Se o filme consegue sobreviver sem estas substruções, consegue, mas transverte-se num trabalho muito mais insosso, numa construção de situações e conversas encaixadas umas nas outras sem qualquer beleza cinematográfica.    

Tecnicamente, Operação Outono é incongruente. Filmado exclusivamente em 16mm, a fotografia faz uma reconstrução de época legítima e interessante, ainda que não seja bonita ou colorida, ou sequer bem iluminada. O objectivo também nunca foi ser esteticamente agradável. A edição de som é péssima e desarticulada da imagem e a dobragem de John Ventimiglia estranha sempre e nunca entranha. A música de Dead Combo é completamente desassociada da história e da época e a sua inexistência não seria lamentada. Uma montagem da música de Paulo de Carvalho “E Depois do Adeus” com imagens da revolução do 25 de Abril de 1974 é possivelmente o auge técnico do filme.

As interpretações do vasto elenco são boas, sobretudo se se ativer a falta de registos audiovisuais e históricos das várias personagens que necessitaram de uma reinvenção e caracterização pelos actores. Carlos Santos é distintamente espantoso e conquista todas as cenas em que está presente, criando falta nas restantes. John Ventimiglia pouco acrescenta ao General Sem Medo com a sua experiência norte-americana e o seu trabalho reduz-se a expressões gestuais que qualquer actor português conseguiria (talvez melhor). A escolha de Ventimiglia só pode ser justificada pela vontade de internacionalizar o filme, o que enfrenta o bicudo problema já acima mencionado.

Um thriller político que se veste a intervalos de espionagem, Operação Outono consegue apenas levantar algumas questões sobre o assassinato de Delgado, o envolvimento da PIDE e a actuação possivelmente compactuada do Tribunal de Santa Clara. Não mostra culpa nem culpados até à última cena, e mesmo essa, pela maneira como se apresenta, não é para ser levada a sério. Com um estilo que poderá ser considerado amador para muitos espectadores, Operação Outono é mais fracasso que sucesso. Quanto muito, abre caminho e necessidade para outras adaptações (aprofundadas) de Delgado, da sua vida e da sua morte. 

CLASSIFICAÇÃO: 2 em 5 estrelas

Trailer:

2 comentários:

  1. No deja de ser curioso que el actor que interpreta a Barbieri Cardoso tenga el mismo apellido que el portugués asesinado en el secuestro del Santa María cuya esposa había dado luz ocho dias antes. "Nascimento".

    ResponderEliminar
  2. Se podría haber rodado en el mismo sitio del crimen pues está intacto, casi no ha variado. El actor mas parecido a los reales es Camané que dobla a Antonio Gonçalves Semedo que era el jefe de puesto de la frontera de San Leonardo en Mourao. Los otros actores no guardan parecido. Creo que el director del film se tendría que haber documentado mejor.

    ResponderEliminar