Terra
Prometida é um trabalho desinspirado de Van Sant, que se extenua num
argumento auto-indulgente incapaz de terminar congruentemente o percurso prometido.
Steve Butler (Matt Damon) é consultor de uma
multinacional – Global Crosspower Solutions – especializada na extracção de gás
natural. Steve é enviado para uma pequena localidade agrícola na Pensilvânia
para convencer e aliciar os locais a permitir a extracção de gás nos seus
terrenos. O trabalho de Steve parece bem encaminhado, porém encontra um
obstáculo num professor, antigo cientista, que exige um voto popular. O
problema de Steve aumenta quando um elemento de um grupo ambientalista aparece
na localidade para condenar os processos extractivos da Global.
O argumento de
Terra Prometida, assinado pelos
actores Matt Damon e John Krasinski, trabalha a temática da exploração por parte
das grandes multinacionais de uma forma inopinada, colocando a narrativa a
favor do poder capitalista, reduzindo, e mesmo denegrindo, o papel do indivíduo
comum no processo de decisão, transformando-o num mero obstáculo, facilmente
removível, facilmente aliciado, envolto em inaptidão mental. Sendo a localidade
em foco na história um meio pequeno, isolado, onde todos se conhecem, o
argumento não resiste à estereotipagem, que aproveita, aliás, para alcançar
precisamente o efeito atrás referido. Os restantes indivíduos – aqueles que têm
algum poder para alterar o resultado da decisão sobre a instalação da empresa
Global Crosspower Solutions – surgem mais inteligentes, sarcásticos, munidos do
dom da palavra. A ideia do filme não é concretamente colocar o capitalismo num
pedestal: a consciencialização para os problemas que advém do cego interesse
económico ganha peso ao longo da narrativa, mas sempre de forma ineficaz, incapaz de alcançar a
desejada acuidade que impele a audiência à reflexão. Falhando nesse aspecto,
falha a premissa da sua existência.
O percurso de
consciencialização segue o percurso evolutivo de Steve Butler, consultor
temível, confortável com o seu trabalho, que começa a ponderar as questões
ambientais e de saúde pública que sempre rejeitou e refutou. O percurso de
Steve e a sua abertura aos problemas provocados pela sua empresa torna-se, no
entanto, subordinada à relação afectiva com uma popular, desprovendo o seu
carácter e o seu caminho de verdadeiro sentido de mudança. Ao contrário de que
certamente desejariam Damon e Krasinski, a mensagem de Terra Prometida autodestrói-se parcialmente, embora a interessante
reviravolta no final, ficando a impressão da dominância inviolável, impossível
de desafiar, do interesse económico, particularmente num cenário de crise que
afecta especialmente as pequenas populações.
Gus Van Sant é
um realizador inconstante, capaz de grandes filmes como o tocante Milk e de maus filmes como o
desnecessário e pretensioso remake de Psico.
Terra Prometida fica algures no meio,
primando no andamento calmo e descontraído e comprometendo na exposição ao
supérfluo e desinteressante. Aos actores não é dado muito a provar, pelo que
não se desdobram em interpretações brilhantes e memoráveis. Assumem, na
verdade, um à-vontade que chega a tornar-se num elemento dissuasor para a mensagem
principal. Os seus papéis são unidimensionais e descaracterizados. A localidade
agrícola, enquanto meio para o envolvimento narrativo, também não se encontra
propriamente retratada, nunca ficando muito clara a união entre o seu povo e o
poder que o parecer de um possui para afectar o dos restantes.
Terra Prometida não chega ao ponto
prometido pela sua narrativa, deixando pelo percurso uma sobremaneira negativa
opinião sobre o gás natural e o seu processo de extracção. Se há alguma intenção secundária, não é claro. Claro, sim, é o insucesso na transmissão e cumprimento
da premissa global.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://focusfeatures.com/promised_land
Trailer:
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