quarta-feira, 13 de março de 2013

Filme: Robô e Frank (2013)


Simples, divertido e inesperadamente comovedor, Robô e Frank utiliza inteligentemente elementos de diferentes géneros cinematográficos para construir uma relação improvável e, mais intimamente, detalhar a velhice, a família e o hábito.

Num futuro próximo, Frank Weld (Frank Langella) é um velho pai e um reformado ladrão de jóias que vive isolado da família. Progressivamente incapaz de manter a sua memória norteada, Frank é relutante em aceitar um robô-mordomo (Peter Sarsgaard) que o seu filho oferece para realizar as tarefas do dia-a-dia e mantê-lo mental e fisicamente activo. Robô é, precisamente, o instrumento que Frank precisa para recuperar alguma genica, a suficiente para planear um novo roubo. Mas Robô irá recuperar mais em Frank do que ele imagina.

Robô e Frank é um filme particularmente incomum, agregando elementos de vários géneros cinematográficos para construir uma história que se revela mais profunda do que aparenta inicialmente. Muito mais do que a história de uma inopinada relação entre um idoso, ainda apegado à simplicidade da tecnologia do passado, e um robô-mordomo, com uma programação encantadora e inteligente, é um olhar desintricado e agradavelmente simples sobre a velhice, a família e o hábito. Na velhice, confronta a senilidade e a diminuição de capacidades. Na família, a inevitabilidade dos rumos individuais e dos erros cometidos. No hábito, a perpetuidade do vício, já transformando em mania e em doença. Agregando os três numa personagem – Frank – nem sempre moralmente adequada, mas circunspectamente encantadora e relutantemente tocada por afabilidade, Robô e Frank cria um género próprio para escapar a comodidades e convencionalismos, embora, com franqueza, não chegue a libertar-se nem de um nem de outro. Não obstante, o pouco que consegue satisfaz. E satisfaz graças, sobretudo, a uma notável e até inesperada revelação final que muda consideravelmente o cariz da história e da sua pertinência moral.

O carácter de ficção científica nunca assume uma dimensão que aliene audiências mais desconfiadas. Na verdade, serve mais como um adereço, repleto de curiosidade, para o enredo principal, particularmente quando Robô ultrapassa a barreira do apetrecho tecnológico para se transformar numa voz da consciência sempre presente e correcta para um Frank progressivamente absorto. O carácter de comédia não abunda ou abusa, tomando até um lugar mais secundário do que se possa estar à espera, criando mais espaço para o desenvolvimento do drama despretensioso, mas cônscio e sorrateiramente activo. Robô e Frank, que mostra preocupação com as suas personagens principais, perde-se na marginalização das suas personagens secundárias, cujas se tornam num mero expediente para avanços e recuos de enredo, com pouca ou nenhuma carga moral e afectiva associada. Perde-se mais um pouco na narrativa do roubo de algumas jóias valiosas e numa acção policial minimamente improvável.

Frank Langella sustenta quase por completo os sucessos do filme com a sua presença emocionalmente inteligente, sem nunca precisar de abrir o seu semblante para transformar um momento vulgar num momento cómico, ou um momento reflectivo num momento de inesperada desorientação. Mérito é também atribuído a Peter Sarsgaard, que dá a voz a Robô com carga emotiva disfarçada na formalidade da acção aparentemente fria de algo tecnológico, sem vida. Pouco há a apontar ao restante elenco, bom ou mau, porquanto a sua acção é reduzida e limitada ao convencional.

A primeira realização de Jake Schreier prima pela simplicidade com que trata e mistura os vários géneros e protege os trunfos do argumento – similarmente o primeiro – de Christopher D. Ford. Mesmo que Schreier, que previamente realizara uma curta-metragem em 2005, revele alguma ingenuidade na maneira como se ocupa das histórias e das personagens secundárias, mostra natural aptidão. Robô e Frank é demonstração disso, tal como é demonstração de que é possível usar conjuntamente ingredientes de receitas diferentes com resultados mais do que satisfatórios.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


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