Simples, divertido e inesperadamente comovedor,
Robô e Frank utiliza inteligentemente
elementos de diferentes géneros cinematográficos para construir uma relação
improvável e, mais intimamente, detalhar a velhice, a família e o hábito.
Num futuro próximo, Frank Weld (Frank Langella) é um velho pai e
um reformado ladrão de jóias que vive isolado da família. Progressivamente
incapaz de manter a sua memória norteada, Frank é relutante em aceitar um robô-mordomo
(Peter Sarsgaard) que o seu filho oferece para realizar as tarefas do dia-a-dia
e mantê-lo mental e fisicamente activo. Robô é, precisamente, o instrumento que
Frank precisa para recuperar alguma genica, a suficiente para planear um novo
roubo. Mas Robô irá recuperar mais em Frank do que ele imagina.
Robô e Frank é um filme particularmente
incomum, agregando elementos de vários géneros cinematográficos para construir
uma história que se revela mais profunda do que aparenta inicialmente. Muito
mais do que a história de uma inopinada relação entre um idoso, ainda apegado à
simplicidade da tecnologia do passado, e um robô-mordomo, com uma programação encantadora
e inteligente, é um olhar desintricado e agradavelmente simples sobre a
velhice, a família e o hábito. Na velhice, confronta a senilidade e a diminuição
de capacidades. Na família, a inevitabilidade dos rumos individuais e dos erros
cometidos. No hábito, a perpetuidade do vício, já transformando em mania e em doença.
Agregando os três numa personagem – Frank – nem sempre moralmente adequada, mas
circunspectamente encantadora e relutantemente tocada por afabilidade, Robô e Frank cria um género próprio para
escapar a comodidades e convencionalismos, embora, com franqueza, não chegue a
libertar-se nem de um nem de outro. Não obstante, o pouco que consegue satisfaz.
E satisfaz graças, sobretudo, a uma notável e até inesperada revelação final que
muda consideravelmente o cariz da história e da sua pertinência moral.
O carácter de
ficção científica nunca assume uma dimensão que aliene audiências mais
desconfiadas. Na verdade, serve mais como um adereço, repleto de curiosidade,
para o enredo principal, particularmente quando Robô ultrapassa a barreira do
apetrecho tecnológico para se transformar numa voz da consciência sempre
presente e correcta para um Frank progressivamente absorto. O carácter de
comédia não abunda ou abusa, tomando até um lugar mais secundário do que se
possa estar à espera, criando mais espaço para o desenvolvimento do drama despretensioso,
mas cônscio e sorrateiramente activo. Robô
e Frank, que mostra preocupação com as suas personagens principais, perde-se na marginalização das suas personagens secundárias,
cujas se tornam num mero expediente para avanços e recuos de enredo, com pouca
ou nenhuma carga moral e afectiva associada. Perde-se mais um pouco na narrativa
do roubo de algumas jóias valiosas e numa acção policial minimamente
improvável.
Frank Langella
sustenta quase por completo os sucessos do filme com a sua presença emocionalmente
inteligente, sem nunca precisar de abrir o seu semblante para transformar um
momento vulgar num momento cómico, ou um momento reflectivo num momento de
inesperada desorientação. Mérito é também atribuído a Peter Sarsgaard,
que dá a voz a Robô com carga emotiva disfarçada na formalidade da acção aparentemente
fria de algo tecnológico, sem vida. Pouco há a apontar ao restante elenco, bom
ou mau, porquanto a sua acção é reduzida e limitada ao convencional.
A primeira realização
de Jake Schreier prima pela simplicidade com que trata e mistura os vários géneros
e protege os trunfos do argumento – similarmente o primeiro – de Christopher D.
Ford. Mesmo que Schreier, que previamente realizara uma curta-metragem em 2005,
revele alguma ingenuidade na maneira como se ocupa das histórias e das
personagens secundárias, mostra natural aptidão. Robô e Frank é demonstração disso, tal como é demonstração de que é
possível usar conjuntamente ingredientes de receitas diferentes com resultados mais
do que satisfatórios.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://robotandfrank-film.com/
Trailer:
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