
Mason Evans Jr. (Ellar Coltrane) e a sua
irmã Samantha (Lorelei Linklater) vivem com a sua mãe Olivia (Patricia
Arquette) no Texas. O pai, Mason Sr. (Ethan Hawke), separado de Olivia, vive e
trabalha no Alasca. Sempre à procura do melhor para os seus filhos e para si
mesma, Olivia anda de cidade em cidade, de trabalho em trabalho e até de
casamento em casamento enquanto Mason Jr. e Samantha, sempre com um contacto
próximo do seu pai, aprendem, crescem e tomam decisões.
O compromisso
de Richard Linklater com uma produção de nada menos do que doze anos é notável.
Por si só, este facto é suficiente para encher Boyhood – Momentos de uma Vida de obrigatoriedade de visualização.
Afinal, o espectador não está meramente a acompanhar uma cópia dos vários anos
por que a narrativa passa, reconstituídos por valores de produção precisos e
louváveis; está literalmente a visualizá-los tal como eram, com os seus
estilos, as suas modas, os seus pensamentos, uma janela para o passado
raramente tão fidedigna, pois é ela própria parte desse tempo. Para alguém
próximo da geração de Mason Evans Jr., o efeito é ainda mais avassalador. As
experiências por que Mason passa, os jogos com que se entretém, as roupas que
veste e até mesmo o lançamento mundial de um capítulo de Harry Potter, em
livro, extravasam a fronteira cinematográfica para trazer à tona verdadeiras
memórias.
A
incontornável beleza de Boyhood –
Momentos de uma Vida não se fica, todavia, pelo período da sua produção. A
narrativa que Richard Linklater desenvolveu e adaptou às circunstâncias do seu
elenco e da sociedade em constante mudança é por si só meritória e digna das
mais sinceras reflexões sociais no cinema. Nunca se viu nada assim. A história
de Boyhood – Momentos de uma Vida é
tão terra-a-terra, tão próxima das nossas próprias vivências e experiências,
dos momentos bons e dos momentos maus. É impressionante a quantidade de pessoas
com que alguém contacta num período de doze anos, que entram e saem de uma
vida, essenciais a dado momento e completamente esquecidas noutro; no caso
particular de um jovem na fase ascendente da sua adolescência, o efeito é ainda
mais destroçador. Entristece e reconforta ao mesmo tempo. Tudo muda, nada é
constante. A vida é isto mesmo. Momentos.
Ellar Coltrane
pode ter demorado doze anos para ter a sua grande estreia – não contabilizando
a participação fugaz em Geração Fast Food
(também de Richard Linklater) e em três outras pequenas produções –, mas fá-la
em grande. A forma como Manson Jr. literalmente cresce diante dos nossos olhos
– a montagem de Sandra Adair executa a transição de planos (e de idades) de
forma brilhante – torna a sua personagem única. Ellar Coltrane é provavelmente
a revelação do ano. Talvez ninguém tenha evoluído tanto no cinema diante dos
nossos olhos como o jovem actor; a sua capacidade e a sua qualidade de
representação evoluem e amadurecem do início ao fim do filme, conforme também
Ellar Coltrane cresce e amadurece. Importante ainda destacar as dedicações de
Ethan Hawke e de Patricia Arquette, a última em particular pela personagem
fidedigna que interpreta, em papéis soltos com (certamente) muitas
oportunidades de improvisação. E ainda a de Lorelei Linklater, filha do
realizador, no papel da irmã de Manson Jr.
Richard
Linklater pode muito perfeitamente ter em mãos o filme da sua carreira.
Qualquer galardão que esteja no seu caminho será perfeitamente justificado,
como o será para o próprio filme, realizado de forma independente e sem
compromissos, com risco e coragem. Boyhood
– Momentos de uma Vida mostra que a cega dedicação à arte cinematográfica
não está perdida. Existe, continua a ser nutrida e produz resultados
assombrosos. No caso de Boyhood –
Momentos de uma Vida, prova-nos que uma história concretizada na medida e
no tempo certos é potencialmente a mais cabal e a mais próxima do espectador e
das suas vivências.
CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.ifcfilms.com/films/boyhood
Trailer: