quinta-feira, 7 de março de 2013

Filme: Oz - O Grande e Poderoso (2013)


Oz – O Grande Poderoso é, individualmente, um trabalho decente e, conjuntamente, uma menos decente prequela de uma consideravelmente superior obra. Recria Oz com todo o encanto que a tecnologia permite, mas a magia está ausente e a narrativa atinge a trivialidade.

Oscar Diggs (James Franco) é um mágico num pequeno circo ambulante. Com poucos espectadores e um espectáculo que não emociona, Oscar sonha em juntar-se a grandes nomes como Houdini e Edison. Certo dia, no Kansas, quando um espectáculo corre mal, Oscar acaba em fuga num balão de ar quente. Quando o balão se perde num tornado, Diggs vê-se num mundo completamente diferente: Oz. Em Oz, Oscar aprende sobre uma profecia que o envolve a ele, a Oz e ao seu povo. Oscar poderá ser o salvador do mágico mundo, mas muito dependerá das intenções de três bruxas: Theodora (Mila Kunis), Evanora (Rachel Weisz) e Glinda (Michelle Williams).

Oz – O Grande e Poderoso é a concretização de um longo projecto da Disney para reavivar o fabuloso mundo de Oz – criado por L. Frank Baum – que ganhou forma e cor com O Feiticeiro de Oz, encantando audiências em 1939 e incontáveis espectadores desde então. O Feiticeiro de Oz tornou-se num clássico e numa referência cultural e da fantasia. Com O Grande e Poderoso, pretende provavelmente a Disney capitalizar sobre o fenómeno e reconstruir o mundo de Oz com as mais inovadoras técnicas cinematográficas. É previsível que a produtora retire lucros do seu empreendimento, mas a intenção de ressuscitar Oz e de lhe dar outra vida esbarra num resultado final que, embora mergulhado num sem-número de efeitos especiais de encher o olho, não consegue capturar a magia e a beleza cinematográfica alcançada com métodos comparativamente rudimentares em 1939.

Não significa que os ditos efeitos, que o CGI e que os grandiosos cenários multicolores, não acrescentem nada ao mundo de Oz. Conseguem torná-lo mais palpável, mais extenso e mais vibrante. O problema – a falta de magia e de beleza cinematográfica – encontra-se acorrentado à história, a um argumento pobre, que não transpira a mesma jornada moral de auto-descoberta e auto-capacitação, singelamente evidenciados no original de 1939 e quase completamente ausentes aqui. A história da origem do feiticeiro de Oz (cuja não é totalmente despropositada) exigia semelhante jornada. O que existe, no lugar, é uma torrente de sucedimentos novelescos que desacreditam a própria essência do mundo de Oz, que se aproveitam do espectáculo visual para distrair o espectador das débeis fundações que os sustentam.

A realização de Sam Raimi é inesperadamente desinspirada, tendo em conta o material imaginativo à sua disposição. Sucumbe à estilização, à falta de substância. A técnica pode ter funcionado na trilogia de Homem-Aranha, mas não aqui, onde a força não reside na acção ou na computorização, mas no acto primordial de contar uma história. O melhor momento de Raimi fica logo no início, num prólogo no Kansas, a preto e branco, reutilizando a mesma técnica empregada por Victor Fleming no original de 1939, num prólogo semelhante. Pena que Raimi não tenha seguido a inspiração daí para a frente. A música de Danny Elfman, raramente desencantadora, é igualmente desinspirada e desinteressante, desdobrando-se em coros apagados e em auges ruidosos. As interpretações são rotineiras e unidimensionais, sem momentos memoráveis. James Franco é um decente Oscar Diggs e um melhor feiticeiro de Oz. Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams não se empenham muito, mas não comprometem. A personagem mais encantadora encontra forma, curiosamente, numa adorável boneca de porcelana, com a voz da jovem Joey King.

O Grande e Poderoso consegue eventualmente estabelecer a desejada ponte com O Feiticeiro de Oz e transformar Oscar Diggs na figura que lança Dorothy Gale na sua fabulosa aventura. Mas apraz muito pouco, pobremente, quando a moeda de troca são duas horas de artifícios visuais vazios e aborrecidos, de estereótipos e narrativas que já não são novos, ou entusiasmantes. Se O Grande e Poderoso acaba por fazer alguma coisa bem é tornar O Feiticeiro de Oz numa obra cinematográfica ainda mais venerável e obrigatória.   

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


Trailer:

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