sexta-feira, 1 de março de 2013

Filme: Agora fico Bem (2013)

Agora fico Bem, com actuações satisfatórias, pode iludir com a pretensão emocional da sua história, mas o carácter estereotipado e barato de todo o argumento é indisfarçável e lamentável. 

Tessa (Dakota Fanning) é uma adolescente de 17 anos que se encontra na fase terminal de leucemia. Cansada e infeliz com as várias viagens ao hospital que pouca qualidade de vida lhe têm acrescentado, decide suspender todos os tratamentos e aproveitar o tempo e os momentos que lhe restam para viver ao máximo e satisfazer todos os seus desejos. A vida de Tessa melhora quando conhece Adam (Jeremy Irvine), tornando a sua escolha – de mais nenhum tratamento – ao mesmo tempo difícil e essencial.  

A história de Agora fico Bem, adaptado do livro Before I Die de Jenny Downham, é um testemunho interessante sobre a fase derradeira, terminal, de uma terrível doença. Desperta especialmente a curiosidade por retratar uma doente que decide enfrentar o seu irrevogável destino, aceitando-o com a maior das virtuosidades em vez de intentar penosos e infelizes tratamentos de pouco adiamento. Contudo, o filme nunca abandona a corrente de convencionalismos a que inexplicavelmente se prende, preterindo o efeito agonizante e redentor de uma resoluta doente de leucemia por triviais dramas juvenis fundamentalmente descontextualizados. E embora bem tencionada, a ideia de tornar a narrativa num conjunto de momentos significantes apenas contribui para uma desestruturação ilógica e pouco emocionada.

De Agora fico Bem é exigido muito mais; muito mais do que o filme mostra coragem. Várias são as temáticas a que a narrativa alude – na família: o desolador inconformismo de um pai, a terrível passividade de uma mãe e a venturosa ingenuidade de um irmão; na vida: os contidos receios de um novo namorado e o desconsolo e a solidão de uma amiga de longa data. Infelizmente, Agora fico Bem fica-se pela mera alusão na maioria das situações, rejeitando sinceras vantagens para se refugiar e refrear nas situações mais digeríveis e mais emocionalmente acessíveis. É, pelo menos, decente a mostrar a visão de Tessa sobre a vida e sobre o medo que a cerca. E sobre a sobriedade da lista de últimos desejos que elabora, mesmo que o filme não chegue a mostrar ou a executar a maioria deles.  

As interpretações são o ponto mais forte de Agora fico Bem, particularmente da jovem Dakota Fanning, com um interessante sotaque britânico, que volta a confirmar as suas qualidades depois de alguns projectos recentes menos bem-sucedidos. Jeremy Irvine, depois de Cavalo de Guerra, torna a mostrar uma disponibilidade e maleabilidade emocional agradável. Os britânicos Paddy Considine e Olivia Williams, enquanto pais de Tessa, primam pela capacidade de tornar dois papéis marginalizados em duas actuações importantes para moderar o marasmo da teia dramática juvenil. A realização de Ol Parker – o seu segundo trabalho – é relativamente exotérica, sem contribuir com sinal mais ou menos para o panorama geral. 
  
Agora fico Bem é, sobretudo, penalizado por uma história mal abordada e emocionalmente simplificada, fazendo lembrar a instantes uma adaptação de um dos muitos romances de Nicholas Sparks. A ideia até pode ter sido a de se relacionar com tal público. Pena que Ol Parker não se tenha dignado a pensar nos restantes espectadores. Talvez não tivesse comprometido Agora fico Bem tanto à partida.    

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


Trailer:

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