quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Filme: Extremamente Alto, Incrivelmente Perto (2012)


Extremamente Alto, Incrivelmente Perto pretende ser um filme emocionante. Pelo menos os elementos necessários estão lá. Mas quando o momento da catarse chega, resulta insatisfatória e incompleta.

Adaptado do romance homónimo de Jonathan Safran Foer, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto mostra-nos a tocante ligação entre Oskar Schell (Thomas Horn) e o seu pai, Thomas Schell (Tom Hanks). Oskar Schell é um menino de dez anos que aparentemente sofre de Aspergers (embora o diagnóstico não seja conclusivo). Com dificuldade para estabelecer relacionamentos, para compreender comportamentos e para ultrapassar fobias múltiplas, Oskar depende do seu pai para aos poucos e poucos ir ultrapassando todas as adversidades. Para tal, Thomas desenvolve um conjunto de missões de reconhecimento para o seu filho, motivando-o a sair de casa e a passear pela cidade de Nova Iorque à procura de pistas para o que ele acredita ser o mítico sexto burgo. Uma manhã, a escola de Oskar fecha portas mais cedo. Oskar regressa a casa e repara que o gravador de chamadas tem várias mensagens. São do seu pai. É a manhã de 11 de Setembro de 2001 e Thomas Schell encontra-se no 105º andar da Torre Norte do World Trade Center. No início do filme, Oskar conta que se o Sol explodir a humanidade não saberá que está perto do seu fim durante 8 minutos, os 8 minutos que a luz demora a chegar ao planeta Terra. Durante esses minutos, afirma ele, a humanidade é feliz. Um ano depois da tragédia, do “pior dia”, Oskar teme que os 8 minutos da morte do seu pai estejam a terminar e que irá perdê-lo para sempre. Cada vez mais fechado e receoso, Oskar descobre nos bens do seu pai uma misteriosa chave de fechadura incógnita. Crendo que se trata de outra pista para a sua missão de reconhecimento pelo sexto burgo, Oskar aventura-se pela cidade de Nova Iorque.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem os elementos necessários para uma história comovente e incontornável. Com temas como aceitação, coragem e amor, a película podia ser um grande filme. Antes desta produção Stephen Daldry realizou O Leitor (em 2008). N’O Leitor, Daldry mostra impecável direcção e sabe pontuar os momentos certos do enredo com emoção e surpresa. Em Extremamente Alto, Incrivelmente Perto, Daldry falha incrivelmente. Mesmo que o material (a obra de Safran Foer) não pudesse ser grandemente modificado para uma tradução mais acertada ao grande ecrã, Daldry (e o argumentista Eric Roth por extensão) devia ter sido capaz de mover as peças do enredo na altura certa, na medida certa, em vez de tentar forçar comoções e sorrisos com cenas manipuladas. A catarse falha por isso mesmo: não resulta de um pay-off complicado e batalhador.

O jovem actor Thomas Horn pode não ter sido a melhor decisão de casting. Embora desempenhe muito bem a grande parte do seu papel, quando é chamado aos momentos de maior emoção e expressão Horn fica muito aquém do desejado, por muito que os actores adultos ao seu redor tentem retirar dele a maior genuinidade (particularmente Sandra Bullock).

Ainda assim, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem os seus grandes momentos, como uma comovedora cena entre Thomas Horn e Max van Sydow sobre as seis mensagens que o pai de Oskar deixou no gravador no “pior dia”. Acresce também a agradável (às vezes deslocada) banda sonora de Alexandre Desplat.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme e de Melhor Actor Secundário para Max van Sydow. A nomeação para Melhor Filme é incompreensível (sobretudo quando se tem em conta que ficaram de fora grandes filmes como Melancolia de Lars von Trier). A nomeação para Melhor Actor Secundário faz mais sentido - van Sydow, apesar de não pronunciar uma única palavra durante todo o filme, oferece uma performance comovedora.

O que podia ter resultado numa história extraordinária acaba numa história razoável. Quanto muito, Extremamente Alto, Incrivelmente Perto é uma boa reflexão sobre as adversidades e a melancolia de alguém que perdeu uma pessoa que lhe era muito próxima e inestimável, que era o seu mundo e a sua coragem.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto tem data de estreia em Portugal a 1 de Março de 2012.


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas




Trailer:

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