sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Filme: Crónica (2012)


E se três adolescentes ganhassem da noite para o dia habilidades sobre-humanas? E se as usassem para fins lúdicos? Parecem as premissas de um banal filme hollywoodesco que sacrifica o desenvolvimento emocional e psicológico das personagens por cenas de acção de abrir o olho. Se o Crónica é alguma coisa, é tudo menos isso.

Através do estilo “câmara-única” que tem conquistado o seu lugar nas produções cinematográficas desde que O Projecto Blair Witch tomou de surpresa as audiências mundiais em 1999, e que subiu à proeminência com filmes como Actividade Paranormal (e respectivas [pre]sequelas) em 2007 e Cloverfield em 2008, o Crónica surge do nada para inovar/reciclar uma vez mais o conceito da origem de hercúleos humanos. Aliás, o filme parece mesmo pedir emprestado alguma da tonalidade característica desses filmes – o tom pertubador de Blair Witch e Actividade Pananormal e a espectacularidade terrível de Cloverfield.

O primeiro acto mostra-nos Andrew Detmer (Dane DeHaan), um adolescente que começa a relatar o seu dia-a-dia numa câmara recentemente comprada (a objectiva através da qual corre a maioria do filme). O ambiente familiar de Andrew cedo mostra-se complicado: a sua mãe tem cancro em fase terminal e necessita de caríssimos medicamentos; o seu pai é um reformado bombeiro forçado a se aposentar por causa de uma lesão e recebe uma pensão vitalícia que mal chega para suportar os encargos financeiros da família. Inconformado, o pai de Andrew afoga as mágoas em álcool e culpa o filho por tudo o que corre mal. Mas se a vida de Andrew em casa não é fácil, na escola é ainda pior. Impopular e diferente, Andrew é vítima de bullying às mãos dos seus colegas.

Uma noite, Matt Garetty (Alex Russell), primo de Andrew, entusiasta pela filosofia, leva-o a uma rave perto dos bosques. Ali perto, um misterioso buraco no chão que emite um som alto e estranho é descoberto. Matt e Steve Montgomery (Michael B. Jordan), candidato a presidente da associação de estudantes – lembrando um carismático Barack Obama na adolescência –, convencem Andrew a entrar com eles para que a aventura possa ser relatada por inteiro na sua câmara. Lá dentro, os três jovens encontram um brilhante objecto – algo que encaixaria perfeitamente num sci-fi como o recente Super 8 de J.J. Abrams – que parece ser a origem do estranho som e de fenómenos que contrariam as leis da física. Algo acontece, algo que o espectador não vê, uma escolha de direcção que funciona bem e lança um excelente mistério que pode muito bem ocupar o argumento de uma sequela.

O segundo acto começa semanas depois do incidente no buraco. Os três jovens, agora amigos íntimos, começam a desenvolver poderes sobre-humanos. Com a mente são capazes de mover, atirar e parar objectos. Depressa descobrem que também conseguem inverter o efeito da gravidade e voar. Mas também depressa descobrem que as suas acções podem ser perigosas quando um inadvertido acidente põe um homem no hospital.

Conscientes do perigo que o mau uso das suas habilidades pode causar, optam por não demonstrá-las em público. Mas esta regra é quebrada quando Andrew procura melhorar a sua popularidade na escola num concurso de talentos. Quando o plano falha, e com crescentes problemas em casa de Andrew, a amizade dos três jovens é posta em causa, encaminhando-nos para um fenomenal terceiro acto que rivaliza com (e ultrapassa) as sequências de acção das recentes megalómanas produções de Michael Bay (o Crónica foi produzido com um modesto orçamento de 15 milhões de dólares).

O Crónica funciona como uma película sobre as origens de super-heróis porque mantém o seu foco do início ao fim no coração das personagens, nas suas motivações e nos seus problemas. É das forças e fraquezas de cada um que grandes decisões são feitas e que caminhos desvirtuosos são tomados. Se alguma, esta é a grande mensagem que o Crónica propõe-se a passar à sua audiência em cerca de 85 minutos. Com um elenco jovem e à-vontade no seu papel, o filme surge como uma aragem fresca na panóplia de produções inúteis que têm preenchido os estúdios de Hollywood nos últimos tempos. Com pouco dinheiro, Josh Trank, com apenas 26 anos, prova que é possível realizar um filme merecedor de atenção e nome. Max Landis, também com 26 anos, assina o original argumento.

Crónica tem estreia agendada em Portugal para 3 de Fevereiro de 2012.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1706593/

Site Oficial: https://www.facebook.com/Chronicle

Trailer:


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