Nunca tendo visto antes um filme mudo, entrei na sala de cinema para ver O Artista com alguma apreensão. Afinal, estavas prestes a ver um filme mudo em 2012 – uma produção de 2011! –, quase cem anos depois da época de ouro deste cinema. Qualquer apreensão que eu tivesse não podia estar mais fora de sítio. Não é raro que se atribua ao cinema a categoria de sétima arte, mas é raro que tal designação tinha verdadeira justeza. O Artista é por seu mérito uma aclamação da sétima arte.
O Artista introduz-nos George Valentin (Jean Dujardin) na ante-estreia do seu mais recente filme, em 1927. Em poucos minutos, Jean Dujardin e o seu alter-ego do ecrã preto e branco provam ser incríveis expressionistas na película, tal como Amadeo de Souza Cardoso era com a tela, controlando cada movimento do rosto com uma precisão tal que a ausência de discurso é dificilmente notada. Na rua, num grupo de fãs que aguardada ansiosamente a saída do seu ídolo e o encanto do seu sorriso, está Peppy Miller (Bérénice Bejo). Na confusão, Peppy esbarra acidentalmente com George e uma fotografia do momento acaba a fazer a capa na revista Variety, sob o título “Quem é esta rapariga?” (Who’s That Girl?). A audiência, por mérito do argumento ou de Bérénice Bejo, pergunta-se a mesma coisa. Com uma graciosidade que lembra Ingrid Bergman e uma desenvoltura que lembra Debbie Reynolds, Bérénice Bejo impõe-se no ecrã como uma musa fora-de-época que provavelmente terá Woody Allen à procura do argumento certo para outra estreia em Cannes.
George e Peppy tornam a encontrar-se mais tarde no set do novo filme de George, onde Peppy desempenha um pequeno papel de figurante. Depois de uma divertida sequência de takes mal conseguidos, em que a química entre os dois fica bem patente, George oferece a Peppy alguns conselhos que a colocarão no caminho do estrelato.
Passam-se dois anos e o cinema mudo perde notoriedade para o cinema falado (“talkies”). George recusa-se a aceitar a nova tendência e decide realizar e estrelar no seu próprio filme. Mas com popularidade cada vez mais pequena e com o crash na bolsa de 1929 que dá início à Grande Depressão, George perde tudo, dando oportunidade a Jean Dujardin para novamente puxar dos seus galões e outorgar ao seu papel outra dimensão. Com o companheirismo do seu cão Jack (o fabuloso e talentoso Uggie), George pode ainda ter uma oportunidade quando Peppy aparece para ajudá-lo.
A banda sonora de Ludovic Bource acompanha a história com uma magnitude belíssima, assinalando cada momento como uma ópera de duas dimensões. Michel Hazanavicius realiza o filme com uma técnica e coerência impressionantes, que resultam de extensivas pesquisas sobre os anos 20 de Hollywood e das artes usadas na época. Hazanavicius assina também o argumento.
O Artista surgiu de repente no panorama cinematográfico para fazer lembrar as velhas glórias de Hollywood e mostrar algumas direcções ao cinema moderno. Empregando em partes o tom reflectivo e trágico de Citizen Kane e em partes a paixão e a vivacidade de Serenata à Chuva, O Artista é um fenomenal melodrama. Nomeado para dez Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Actor Principal e Melhor Actriz Secundária, é quase certo que O Artista ocupará um merecido lugar no panteão dos clássicos do cinema.
As velhas artes não morrem e podem sempre regressar à glória no tempo moderno. Pela sétima arte, O Artista provou isso mesmo.
O Artista tem estreia agendada em Portugal para 3 de Fevereiro de 2012.
CLASSIFICAÇÃO: 5 em 5 estrelas
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1655442/
Site Oficial: http://weinsteinco.com/sites/the-artist/
Trailer:
Gostei da análise, quando regressa com o blog?
ResponderEliminarEu também gostei muito de ver "O Artista": 4*
O filme "O Artista" é uma lufada de ar fresco para a época em que estreou.
Mas este "The Artist" não é perfeito.
Cumprimentos, Frederico Daniel.