J. Edgar é atraiçoado pela sua própria narrativa. Dividido entre o crescimento e a influência do FBI e a vida particular de John Edgar Hoover, o filme é ultimamente incapaz de mostrar cada uma das ramificações da sua história com a ponderação necessária. Pelo menos, entrega a DiCaprio outra oportunidade para brilhar e provar que não é um mero actor de ocasião.
O filme começa com um envelhecido John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) no último período como director do Federal Bureau of Investigation (FBI). Hoover pede que lhe seja enviado ao escritório um escritor. O seu objectivo: contar as origens do FBI para o bem comum. A história olha para o passado. É 1919 e Hoover trabalha no Departamento da Justiça sob as ordens do Procurador-Geral. Quando o Procurador-Geral escapa a uma tentativa de assassinato, Hoover é colocado à frente de uma divisão criada para encontrar os culpados. Mais tarde, depois da sua investigação resultar na detenção e deportação de vários suspeitos, e já sob as ordens de um novo Procurador-Geral, Hoover é apontado director do recém-criado FBI. Reunindo à volta um conjunto de homens de confiança, com formação superior e inabalável dedicação, Hoover muda a face do combate ao crime para sempre. No “presente”, a saúde de Hoover começa a declinar, enquanto parece começar a perder o controlo do FBI e o seu braço-direito de longa data, Clyde Tolson (Armie Hammer), se retira do serviço.
Querendo ao mesmo tempo explorar a formação e aumento de poder do FBI (e, por extensão, a nova forma de investigação e procedimento criminal) e a vida e carácter de John Edgar Hoover, o filme sofre de alguma desorientação e falta de foco. Enquanto a parte do argumento (por Dustin Lance Black) debruçada sobre os primeiros anos do FBI se revela bastante interessante, coerente e cativante (ainda que nas linhas de um livro que pode, afinal, não estar completamente preciso) – nomeadamente a investigação sobre o caso Lindbergh –, a parte sobre os últimos anos de Hoover e o seu esforço para manter o seu poder e influência e manter o país livre de ameaças externas resulta desinteressante, convoluta e desnecessária. Talvez esse espaço pudesse ter sido aproveitado para explorar melhor a vida pessoal de Hoover – designadamente a relação quase acriançada com a mãe, a obsessão com o comunismo e conspiradores internos e, por último, a relação platónica com Clyde Tolson.
Mas quando J. Edgar está aplicado na boa parte do seu argumento, o filme é magnífico. DiCaprio agarra-se ao papel com distinção, capaz de compreender e reproduzir o homem que representa na plenitude das suas reflexões. É pena que a caracterização não tenha feito mais por ele. Se DiCaprio se pode queixar de alguém por não ter recebido uma nomeação para a Academia será do responsável pela caracterização. Tão má se apresenta no Hoover envelhecido que a expressão que DiCaprio pretende dar à sua representação fica limitada e deficiente. Pior é no envelhecido Clyde Tolson – Hammer nunca deveria ter permitido tal atrocidade de maquilhagem.
Clint Eastwood tem estado aquém nos seus filmes mais recentes. Ao Invictus faltou aquele cunho característico de Eastwood que torna um argumento absolutamente fascinante e incontornável (embora o potencial estivesse lá). Hereafter – Outra Vida foi um claro tiro ao lado; nem parecia um filme do homem que o realizou – mas Eastwood também avisou que aquele era um projecto algo experimental (o seu primeiro drama sobrenatural). Agora com J. Edgar, Eastwood dá esperança que o grande realizador de filmes como Cartas de Iwo Jima, Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos e Mystic River possa estar de volta em breve – J. Edgar é já pelo menos um modesto passo nessa direcção.
J. Edgar não é um mau filme. Definitivamente não é. Mas podia ser muito melhor que o produto final. Ao menos, dá oportunidade ao público geral para conhecer mais intimamente o carácter, a ambição e as motivações de um homem que chegou a ser o mais poderoso dos Estados Unidos da América (sim, mesmo mais poderoso que o próprio presidente), à frente do FBI durante 37 anos, cobrindo os mandatos de seis presidentes. O FBI nunca será indissociável de J. Edgar Hoover, e J. Edgar Hoover será sempre relembrando como o homem que introduziu uma nova forma de combate ao crime, menos física e mais científica.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1616195/
Site Oficial: http://jedgarmovie.warnerbros.com/
Trailer:
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