Matt Reeves assume a herança de Rupert
Wyatt sem reservas e, melhorando sobre o já convincente Planeta dos Macacos: A Origem em todos os aspectos, cria em Planeta dos Macacos: A Revolta uma
película memorável comandada pela tour de force de Andy Serkis enquanto o
carismático Caesar.
Dez anos após a disseminação do que passou a
ser designado por vírus símio, a população humana encontra-se quase
completamente exterminada. Em São Francisco, onde a propagação do vírus teve
origem num laboratório, Malcolm (Jason Clarke) e Dreyfus (Gary Oldman) lideram
uma pequena comunidade de sobreviventes. Quando é traçado um plano para trazer
independência energética à comunidade, Malcolm aventura-se na floresta de Muir
Woods para reactivar uma barragem. Malcolm dá de caras com o grupo símio
inteligente (resultante do mesmo vírus) que habita o território, liderado pelo
chimpanzé Caesar (Andy Serkis). Caesar mostra-se disponível para ajudar os
humanos, mas nem todos na sua tribo, e o bonobo Koba (Toby Kebbell) em
particular, concordam com a sua abordagem.
Depois do
sucesso inesperado em 2011 de Planeta dos
Macacos: A Origem, que tentou o remake
que Tim Burton não conseguiu em 2001 com Planeta
dos Macacos, Planeta dos Macacos: A
Revolta procura ser a rara sequela que melhora sobre o seu predecessor e
lança definitivamente uma saga com pernas para andar. Em todos e mais alguns
aspectos, Planeta dos Macacos está
mais vivo do que nunca. Se, ao contrário de Tim Burton, Rupert Wyatt
compreendeu que a força da saga original, iniciada cinematograficamente em 1968
com a adaptação do romance de Pierre Boulle, se concentrava na raça símia e
menos na raça humana, Matt Reeves vai mais longe, entregando o protagonismo por
inteiro àqueles que, no fim de contas, dão o nome e o mote à saga. O êxito de
Matt Reeves começa por aqui.
A narrativa de
Planeta dos Macacos: A Revolta não
divide humanos e símios em duas fracções epistemologicamente claras. Ambas têm
razões para as suas acções, para as suas confianças e desconfianças. Ambas
querem ter o direito ao seu espaço. A trégua existe; a coabitação tem lugar. Na
sua essência, quando a disputa começa, não acontece por uma questão meramente
territorial, mas por algo tão basilar como a família, a organização social e a
lealdade. Caesar e Malcolm procuram a paz, enquanto Koba e Dreyfus procuram o
conflito. A narrativa sugere que nenhum lado é melhor que o outro, que nenhum
tem mais direito à terra que o outro. A solução passa efectivamente pela
coexistência, pela harmonia; mas é uma solução que esbarrará nos interesses
próprios, de um lado e do outro.
Sempre que a
tribo de Caesar figura no grande ecrã, Planeta
dos Macacos: A Revolta fica riquíssimo de informação, de emoção, de
espanto. A forma como a tribo se organizou socialmente e como desenvolveu a sua
própria linguagem após os eventos de Planeta
dos Macacos: A Origem é nada menos que extraordinária. O efeito perde-se
quando o plano desce sobre o que resta em São Francisco da raça humana. Quiçá o
filme dispensaria completamente esta interacção. Talvez seja o passo definitivo
que falta dar na saga, a novidade que Matt Reeves trará num filme sequente. É
um testemunho da indubitável qualidade de Andy Serkis, da Weta e de toda a
produção que tal sensação fique a pairar no ar. Toda a emotividade de Andy
Serkis transpira através de Caesar, mas nunca deixa Caesar de ser o chimpanzé
que deve ser. Andy Serkis domina completamente a arte da motion performance. A força da sua interpretação contagia o
restante elenco símio, com Toby Kebbell enquanto o maquiavélico Koba em
destaque.
Os efeitos
visuais estão de tal forma amadurecidos neste filme que se mesclam incrível e
facilmente com os planos da natureza, com a luz e com a sombra, com os objectos
móveis e imóveis. O primeiro plano do filme, num close-up de Caesar, demonstra de um zás todas as potencialidades. O
pêlo dos símios parece palpável, os movimentos são credíveis. Os estúdios da
Weta provam estar, uma vez mais, na vanguarda da tecnologia. Importa que haja,
do outro lado, um realizador disposto a arriscar e a puxar as barreiras do
improvável. Matt Reeves é esse realizador. O seu trabalho não se deixa
restringir por aquilo que pode ou não ser possível através da montion performance. A sua câmara filma
a acção com a confiança plena de que o efeito visual será concretizável e que o
alto nível de realismo não será colocado em causa. Exemplo da confiança de Matt
Reeves é um plano a 360º capturado em cima de um taque, com o caos total
instalado à volta, mesclando facilmente efeitos práticos com efeitos visuais.
Poderia não ter resultado, mas Matt Reeves nunca parece ter duvidado.
Por mais que
espectaculares, os planos de acção não são o trunfo do filme. O trunfo reside
na emoção que Matt Reeves nunca dispensa. Em momentos tão simples mas
incrivelmente comovedores e poderosos como o plano em que o filho mais novo de
Caesar, ainda criança, sobe ao ombro de Ellie, esposa de Malcolm. É este
momento, a par de planos semelhantes, envolvidos na sublime composição de
Michael Giacchino, que coloca Planeta dos
Macacos: A Revolta noutro patamar, inalcançável para tantos blockbusters: num patamar em que efeitos
visuais se colocam quase exclusivamente à disposição da interpretação, da
emoção e da narrativa. Do início ao estilo de 2001: Odisseia no Espaço ao fim ao estilo de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, Planeta dos Macacos: A Revolta perfila-se entre os melhores
registos de ficção científica. O futuro só pode ser auspicioso.
CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.dawnoftheplanetoftheapes-movie.com/
Trailer:
Sem comentários:
Enviar um comentário