quinta-feira, 10 de julho de 2014

Filme: Agentes Universitários (2014)

Embora num setting diferente, mas com uma narrativa semelhante, Agentes Universitários é uma cópia de carbono quase perfeita de Agentes Secundários, o que não impede humor e diversão q.b. A inovação é escassa, mas a dupla Jonah Hill e Channing Tatum compensa satisfatoriamente. 

Após o sucesso da sua missão à paisana numa escola do secundário, Jenko (Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill) pensam que as suas carreiras na polícia só podem ascender. Quando a sua mais recente missão falha redondamente, Jenko e Schmidt regressam a Jump Street e são enviados numa nova missão à paisana, desta feita para a universidade, onde Jenko se torna num popular jogador de futebol americano e Schmidt se envolve com uma jovem artista. 

Assim como o seu predecessor, Agentes Universitários caminha uma linha ténue entre a comédia inteligente e a comédia ao desbarato. Em Agente Secundários, a narrativa caminhava sobre esta linha com equilíbrio, combinando o humor de circunstância com o humor físico da acção alienada. Para o melhor e para o pior, Agentes Universitários repete tal-qualmente a fórmula, sem qualquer adição ou subtracção de maior, mudando apenas o cenário do seu ensaio. O secundário ficou para trás e Jenko e Schmidt, após mais uma missão inicial desastrada, voltam à taskforce Jump Street – agora no número 22 (o número 21 voltou para os seus antigos donos e o número 23 pode ficar vago em breve) – e são enviados à paisana para a universidade para investigar uma nova e perigosa droga que faz furor entre os estudantes. 

A partir deste momento, Agentes Secundários parece querer transformar-se num American Pie refinado, repescando toda a folia do género universitário mas sem nunca enveredar pelos habituais carnavais desgovernados. Afinal, a narrativa continua a tratar-se, na mais ínfima das suas essências, de uma investigação policial. É esta investigação policial que faz com que o filme mantenha os pés assentes na terra quando parece prestes a descambar ravina abaixo, quando por momentos mais longos do que o que seria saudável o espectador se esquece completamente da premissa da história e se questiona, por exemplo, se Jenko poderá tornar-se numa estrela de futebol, ou se Schmidt poderá desenvolver uma relação com Maya. Agentes Universitários não é, todavia, totalmente alheio a este efeito. Emprega-o, aliás, para proporcionar a situação mais hilariante e memorável de todo o filme, envolvendo Schmidt e Maya - uma situação que coloca toda a audiência em polvoroso.

Enquanto esta ocasião de total hilaridade, pelo seu carácter de surpresa, revigora o visionamento de Agentes Universitários, outras, pelo seu carácter de repetição, desgastam-no rapidamente. Exemplo desta dicotomia é a piada recorrente sobre a relação entre Jenko e Schmidt. O diálogo e a forma como interagem com terceiros quer apontar ao espectador a ideia de que os dois agentes são um casal, parceiros no sentido estrito. A primeira vez em que tal é sugerido é admissivelmente engraçado, mas a sua desnecessária e por vezes inoportuna recorrência desgastam velozmente o seu efeito cómico. Por outro lado, a ausência de um antagonista sério e credível coloca pressão excessiva no resultado do desenvolvimento da relação entre os dois agentes. É certo que o conceito de Agentes Universitários e de Agentes Secundários vive da camaradagem entre os seus protagonistas; todavia, nada impediria a existência de uma força contrária presente e ameaçadora o suficiente que colocasse pressão e pedisse sagacidade e soluções hilariantes. A forma como, no acto final, o real narcotraficante cai do céu é um testemunho desta lacuna.

A química entre Jonah Hill e Channing Tatum continua a dar provas do valor da nova geração de comediantes de Hollywood. Hill tem estado pelo papel dramático, enquanto Tatum se perdura no papel de acção. Agentes Universitários mostra que a veia cómica é forte tanto em Hill como em Tatum e que se mantém um trunfo para as suas carreiras em crescendo. Nota para a interpretação de Ice Cube, com uma prestação muito mais segura que a anterior. A realização da dupla Phil Lord e Christopher Miller segue as linhas orientadoras de Agentes Secundários, não inovando muito mais do que já tinham alcançado anteriormente, notando-se porém, particularmente no último acto, os frutos de um orçamento superior. Não será, contudo, pelo orçamento superior que Agentes Universitários atrairá o seu público. Fá-lo-á com comédia e os bons momentos de descontracção… e, nesse sentido, não obstante as suas falhas, o filme garante que o prometido é devido.  

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer:  


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