quinta-feira, 24 de julho de 2014

Filme: A Emigrante (2014)

A história de luta e de desespero de A Emigrante é notável. Todavia, a direcção de James Gray, bem como o sofrível argumento, destroem qualquer hipótese de tornar A Emigrante num trabalho excepcional, por maior que o esforço do trio Cotillard- Phoenix-Renner. 

No auge da emigração para os Estados Unidos da América, Ewa Cybulska (Marion Cotillard), polaca de nascença, é uma das incontáveis pessoas que procuram uma nova oportunidade de vida do outro lado do Atlântico. Todavia, a chegada de Ewa à América é tudo mesmo fácil. Quando a sua irmã é impedida de entrar no país por suspeitas de tuberculose e quando a dignidade de Ewa é colocada em causa, Ewa recorre à ajuda de Bruno Weiss (Joaquin Phoenix), e mais tarde à de Emil (Jeremy Renner), para libertar a sua irmã. No entanto, o caminho de Ewa não será fácil, nem decoroso.

Na teoria, A Emigrante tem todos os ingredientes para se tornar num filme de época destacável. O elenco é de luxo e de provas dadas, enquanto a história do sacrifício de uma irmã pela outra, incessantemente à procura do sonho americano, da segurança e da oportunidade nos anos áureos da imigração norte-americana parece cativante. Onde é que A Emigrante falha? Embora o ritmo demorado, a música exangue e o foco incerto sejam razões suficientes para hipotecar a qualidade de qualquer filme, o mais grave e visível problema de A Emigrante reside na forma amorfa como James Gray trata a narrativa, que assina com Ric Menello, estabelecendo compromissos emocionais e morais demasiado elevados sem permitir o indispensável espaço para a criação de elos efectivos com as personagens, nomeadamente com a Ewa. Basta apontar qualquer momento de maior tensão em A Emigrante e reconhecer a ausência de gravidade para compreender como James Gray falha redondamente neste capítulo.

A montagem que James Gray permite no seu filme, por sua inteira decisão ou não, obsta momentos essenciais para a ligação emocional à personagem, ocultando factos relevantes para a história e para a luta de Ewa. Logo no início de A Emigrante, o espectador é confrontado com a decisão pouco convencional de progredir sem grande sustentáculo no desenvolvimento da personagem quando Ewa, para conseguir o dinheiro que garante os melhores cuidados de saúde à sua irmã, se torna numa dançarina no teatro de Bruno. Neste momento, em que Ewa se mostra simultaneamente frágil e determinada, James Gray dá um salto na narrativa, mostrando Ewa já enquanto dançarina em palco. O mesmo sucede quando Ewa toma o caminho da prostituição. Tais momentos são essenciais para transformar Ewa e para tornar o seu sofrimento, a sua luta e a sua redenção mais poderosos aos olhos do espectador, pelo que a sua ausência, mais do que manifesta, é devastadora.

A desestabilizar A Emigrante do seu propósito estão também os diálogos sofríveis nos quais nem o próprio elenco parece depositar confiança. Embora laudável o esforço de Marion Cotillard, de Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner, não deixa de se manifestar desconforto em cada interpretação, na forma como planos moralmente carregados são compactuados com discursos pobres e vulgares. Olhando para o produto final, é difícil de explicar a presença de Marion Cotillard, de Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner. Talvez tenham sido aliciados com a promessa do potencial de A Emigrante e com o currículo do seu realizador, o mesmo aliciamento que erroneamente levará o espectador ao seu visionamento. Não está aqui implicado que o espectador reprovará inteiramente o filme, cujo tem de facto os seus méritos (a caracterização da época, por exemplo, mostra-se impecável), mas garantidamente não obterá a absorção cinematográfica que contava ter, uma que, não fosse a forma teatralizada que James Gray escolhe para transmitir a sua visão, poderia naturalmente ter.   


 CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


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