A história de luta e de desespero de A Emigrante é notável. Todavia, a
direcção de James Gray, bem como o sofrível argumento, destroem qualquer
hipótese de tornar A Emigrante num
trabalho excepcional, por maior que o esforço do trio Cotillard- Phoenix-Renner.
No auge da emigração para os Estados Unidos
da América, Ewa Cybulska (Marion Cotillard), polaca de nascença, é uma das
incontáveis pessoas que procuram uma nova oportunidade de vida do outro lado do
Atlântico. Todavia, a chegada de Ewa à América é tudo mesmo fácil. Quando a sua
irmã é impedida de entrar no país por suspeitas de tuberculose e quando a
dignidade de Ewa é colocada em causa, Ewa recorre à ajuda de Bruno Weiss
(Joaquin Phoenix), e mais tarde à de Emil (Jeremy Renner), para libertar a sua
irmã. No entanto, o caminho de Ewa não será fácil, nem decoroso.
Na teoria, A Emigrante tem todos os ingredientes
para se tornar num filme de época destacável. O elenco é de luxo e de provas
dadas, enquanto a história do sacrifício de uma irmã pela outra, incessantemente
à procura do sonho americano, da segurança e da oportunidade nos anos áureos da
imigração norte-americana parece cativante. Onde é que A Emigrante falha? Embora o ritmo demorado, a música exangue e o
foco incerto sejam razões suficientes para hipotecar a qualidade de qualquer
filme, o mais grave e visível problema de A
Emigrante reside na forma amorfa como James Gray trata a narrativa, que
assina com Ric Menello, estabelecendo compromissos emocionais e morais
demasiado elevados sem permitir o indispensável espaço para a criação de elos
efectivos com as personagens, nomeadamente com a Ewa. Basta apontar qualquer
momento de maior tensão em A Emigrante
e reconhecer a ausência de gravidade para compreender como James Gray falha
redondamente neste capítulo.
A montagem que
James Gray permite no seu filme, por sua inteira decisão ou não, obsta momentos
essenciais para a ligação emocional à personagem, ocultando factos relevantes
para a história e para a luta de Ewa. Logo no início de A Emigrante, o espectador é confrontado com a decisão pouco
convencional de progredir sem grande sustentáculo no desenvolvimento da
personagem quando Ewa, para conseguir o dinheiro que garante os melhores
cuidados de saúde à sua irmã, se torna numa dançarina no teatro de Bruno. Neste
momento, em que Ewa se mostra simultaneamente frágil e determinada, James Gray
dá um salto na narrativa, mostrando Ewa já enquanto dançarina em palco. O mesmo
sucede quando Ewa toma o caminho da prostituição. Tais momentos são essenciais
para transformar Ewa e para tornar o seu sofrimento, a sua luta e a sua
redenção mais poderosos aos olhos do espectador, pelo que a sua ausência, mais
do que manifesta, é devastadora.
A
desestabilizar A Emigrante do seu
propósito estão também os diálogos sofríveis nos quais nem o próprio elenco
parece depositar confiança. Embora laudável o esforço de Marion Cotillard, de
Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner, não deixa de se manifestar desconforto em
cada interpretação, na forma como planos moralmente carregados são compactuados
com discursos pobres e vulgares. Olhando para o produto final, é difícil de
explicar a presença de Marion Cotillard, de Joaquin Phoenix e de Jeremy Renner.
Talvez tenham sido aliciados com a promessa do potencial de A Emigrante e com o currículo do seu
realizador, o mesmo aliciamento que erroneamente levará o espectador ao seu
visionamento. Não está aqui implicado que o espectador reprovará inteiramente o
filme, cujo tem de facto os seus méritos (a caracterização da época, por
exemplo, mostra-se impecável), mas garantidamente não obterá a absorção
cinematográfica que contava ter, uma que, não fosse a forma teatralizada que
James Gray escolhe para transmitir a sua visão, poderia naturalmente ter.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://weinsteinco.com/films/the-immigrant/
Trailer:
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