O
Impossível é uma belíssima reprodução da entreajuda, da ternura e do amor
que une uma família separada pela tragédia e pela incerteza. A sua missão é a
de tornar o improvável exequível num cenário em que todas as probabilidades se
encontram a vermelho.
A 26 de Dezembro de 2004 um terramoto de elevada
magnitude acontece no Oceano Índico. O terramoto causa poucas vítimas e danos materiais.
Mas a partir do epicentro do evento natural começa um terrível tsunami que
atinge todo o sudeste asiático e que provoca incontáveis danos e centenas de
milhares de mortos e de feridos. Entre os atingidos encontra-se a família
Bennett, a passar o Natal numa estância turística na Tailândia. Separados pelas
águas e incertos do destino de cada um, os Bennett não desistirão uns dos
outros.
O impacto do tsunami que assolou o sudeste asiático
no final de 2004 teve efeitos devastadores a nível ambiental e a nível
económico. Mas foi ao nível humano que a tragédia mais arrasou, resultando na
morte de quase um quarto de milhão de pessoas. O Impossível recria as horríficas vivências de uma família instalada
num resort em Khao Lak, Tailândia,
colocando a força e a imprevisibilidade da natureza contra a força e a determinação
humanas. O filme começa pela tranquilidade, pela mundanidade e pela beleza do
destino turístico da família Bennett. É nestes instantes preludiais que as
ternas ligações entre Maria, Henry, Lucas, Tomas e Simon são instituídas e que
o choque de uma tragédia inopinada, de que o espectador é consciente e
impotente, começa a causar comoção. A calamidade chega sem surpresa e
impressiona com o poder de destruição e com a terrível pujança que Juan Antonia
Bayona e Óscar Faura recriam espectacularmente, colocando inicialmente o
espectador numa falsa posição de transeunte do mesmo resort da família Bennett. As grandes ondas separam a família
Bennett e o espectador apenas observa e sente a luta com as ferozes águas de
Maria e Lucas e as escolhas morais com que se confrontam. A sobrevivência de
Henry, Tomas e Simon é revelada a
posteriori.
Mas a sobrevivência
à brutalidade das águas não garante a sobrevivência final e O Impossível troca o desastre pela convalescença,
exibindo as difíceis condições e a escassez de meios que recebeu os
sobreviventes, uma outra calamidade que não pode ser ignorada. Todo o esforço
humanitário, ou falta dele, é apresentado, mas sempre num plano secundário, focando
no primeiro o caminho difícil da família Bennett para o reencontro, agravado pelas
mazelas da tragédia, pelas barreiras linguísticas e pelas informações erradas. A
convalescença não é só física: é também psicológica e afecta cada sobrevivente
de maneira diferente. Para a família Bennett, entranhada no amor que a une, significa
agarrar-se à esperança e à crença de que o tremebundo pesadelo terá um fim e
que tudo ficará bem. É esse mesmo anseio que acompanha o espectador e que o
enche de emoção quando o impossível se metamorfoseia num triunfo.
O Impossível sofre, no entanto, com a
sua ansiedade de querer mostrar tudo de uma vez, tornando o que é impossível,
ou muito difícil, num simples acaso de passiva orientação. E que a noção de
perigo nunca esteja verdadeiramente instalada, ou que a retribuição moral nunca
seja completa, encurta o nível de excelência. Felizmente, a execução é
maioritariamente favorável e as actuações são fortes. Naomi Watts é fabulosa,
Ewan McGregor é irrepreensível e Tom Holland, em particular, revela-se uma
surpresa e um jovem talento a manter olho em cima – momentos há em que,
confrontado com o sofrimento e com a necessidade de socorro, lembra um então jovem
Christian Bale em Império do Sol. A música de Fernando Velázquez é bonita e sensível,
mas há alturas em que extravasa a ocasião cinematográfica. A produção espanhola de O Impossível deve ser enaltecida e o
trabalho do seu realizador elogiado, provando que filmes de grande escala sobre
significativos eventos da História não estão apenas reservados aos grandes
estúdios de Hollywood.
CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.theimpossible-movie.com/
Trailer:
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