Aos cinquenta anos de idade, Bond ganha uma
nova vida e, num mundo de blockbusters
dominado por heróis de banda-desenhada e adaptações de best-sellers, volta a ser
relevante. Mais do que isso, volta a ser a escala de comparação para as fitas
de espionagem e para as fitas de acção em geral.
James Bond
(Daniel Craig) encontra-se numa importante missão em Istambul para recuperar um
disco rígido que contém informação confidencial e sensível sobre agentes da
Nato infiltrados em organizações terroristas. Na iminência de perder o
assaltante, M (Judy Dench), a partir do centro de operações em Londres, dá uma
ordem de fogo que acaba na aparente morte de Bond e na fuga definitiva do assaltante.
Quando as informações contidas no disco começam a ser libertadas na Internet e
o próprio centro de operações do MI6 é atacado, Bond regressa para ajudar M e parar
o homem por detrás dos ataques. Mas o perigo pode ser mais familiar do que Bond
e M imaginam.
Skyfall dá praticamente por esquecidos
os acontecimentos dos últimos dois filmes (os primeiros com Craig) e introduz
na icónica série uma nova brisa e uma renovação necessárias e bem-vindas. Se
Bond faz uma breve ressurreição em Skyfall,
Skyfall faz uma ressurreição na série
de vinte e três filmes do famoso espião de Ian Fleming. E torna Bond novamente
pertinente ao reconhecer a idade do seu espião, as alterações no mundo da
espionagem e o fenómeno do terrorismo cibernético e individual que não é
necessariamente apoiado por um grupo, movimento ou ideologia. Os tempos da
guerra-fria acabaram, a espionagem já não pode ter apenas nações em conta e o
poder do bit é de todas a ferramenta
mais útil e poderosa (e também a mais perigosa).
A nova missão
de Bond tem momentos de acção deslumbrantes – a sequência de abertura, em perfeito
testemunho, é tão fluida e integrada que não é possível questionar a
plausibilidade de uma perseguição de carro (e depois de mota) acabar no topo de
um comboio em movimento numa belíssima ponte. Mas Skyfall não dispensa diálogos ponderados e panoramas de reflexão pela
acção apenas pela acção – a acção surge como um complemento, um acessório per se, a um olhar às raízes, às
escolhas e ao envelhecimento do MI6 e do próprio Bond. A história lida com cada
um destes três aspectos individualmente, e depois em conjunto, e no final a
questão transforma-se num problema mais familiar do que institucional, nas simples problemáticas humanas da maternidade, da rejeição e da desforra, em que Bond se encontra no epicentro de uma vingança física e emocional de um "irmão" espião à mulher que os criou.
Skyfall também olha para um Bond mais
velho num MI6 mais novo numa era mais informatizada. Bond procura o seu lugar
na nova realidade, mas sem querer abandonar por completo os antigos hábitos e
maneirismos. A Bond girl, por
exemplo, tem muito menor impacto na história que em versões anteriores, como
também tem o recurso a equipamentos de espionagem de vanguarda. Skyfall, na
verdade, é muito tradicional nos seus recursos, saudosista dos primeiros Bonds,
e funciona como elo entre o engenho desses e ligeireza dos mais recentes.
As actuações
em Skyfall são muito boas, mas a nota
de destaque vai conjuntamente para Judy Dench e Javier Bardem. A primeira
mostra um lado frágil de M, de fim de ciclo, que se desconhecia e o segundo
cria um vilão emocionalmente perturbado, sexualmente confuso, com um provável
complexo de Édipo. Craig não deve ser, porém, esquecido – o seu Bond é mais
maduro e ponderado que anteriormente. A fotografia é deslumbrante, equilibrando
tons frios e quentes, nitidez e luz com profundidade – realça sempre
brilhantemente as belíssimas paisagens onde decorre a acção, quer nos confusos
mercados de Istambul pelo dia ou no caos luminoso de Xangai e Macau pela noite.
Mas é a fotografia no último acto, na Escócia, que se torna no grande momento (possivelmente
premiado) de Roger Deakins. A banda sonora de Thomas Newman é outro aspecto
notável: dramática, pulsante e suspensiva. Skyfall
não está, todavia, isento de falhas. Algumas transições não são decentemente
explicadas (como o súbito anoitecer no último acto) e Bardem é, infelizmente,
subutilizado, aparecendo apenas na segunda metade do filme quando poderia ter
colocado mais desafios e interacções.
Em última
análise, Skyfall faz muito por James Bond. Reaviva a série, apresenta caras
novas, traz-lhe humor, drama e acção e potencia um futuro de nova glória para o
espião britânico. Sam Mendes partilhou que se inspirou no Cavaleiro das Trevas
de Christopher Nolan. E não surpreende. Se o Cavaleiro das Trevas transformou
os filmes de super-heróis, Skyfall transformará os filmes de espionagem. E
transformará porque soube olhar para trás, para os primeiros Bonds, e tirar inspirações e métodos. A certo ponto em Skyfall, M pergunta a Bond para onde vão. Bond
responde simplesmente: “De volta ao passado.” E isso basta.
CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.skyfall-movie.com/site/
Trailer:
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