quarta-feira, 17 de abril de 2013

Filme: Nome de Código : Paulette (2013)


Com diálogos humorísticos e arrojados, Nome de Código: Paulette é uma comédia leve que, sob a despretensão do seu cariz de entretimento, transporta mensagens válidas sobre a sociedade e os efeitos da crise. Lafont encontra-se fantástica.

Paulette (Bernadette Lafont) é uma idosa que acaba de cumprir dez anos de viuvez. Pobre, incapaz de se resignar com uma sociedade em crise com a qual não se identifica e mal-encarada pela família, decide traficar drogas no seu bairro. O negócio de Paulette cresce inesperadamente e transforma-se. Mas a nova vida, rodeada de perigos, obriga-a a uma reflexão sobre o seu comportamento, as suas amizades e a sua família.

Nome de Código: Paulette é uma comédia interessante e divertida, mas que só ganha dimensão e importância sempre que se decide a trocar a mera diversão pelo drama sincero que alude aos efeitos da crise e da globalização. Paulette, embora fisicamente engraçada e vocalmente cómica, é, na realidade, uma idosa inconformada com a nova sociedade e com as novas gerações. Despretensiosamente xenófoba, intrinsecamente inconformada e inevitavelmente arrogante, Paulette coloca as culpas da sua pobreza e da expropriação e penhora das suas propriedades naqueles que ignorou a vida toda e que, fruto dos tempos, se posicionaram mais fortemente na sociedade. É inevitável que a ironia se apresente a certo ponto no enredo e que Paulette recorra precisamente a indivíduos que tanto menosprezou para dar a volta à sua pobreza e aos sarilhos em que se enfia.

Paulette não é, porquanto, uma personagem moralmente correcta. Longe disso. É mal-educada, desrespeitadora e racista. O seu acto imoral vai ainda mais longe quando decide vender drogas para se rodear de mordomices, que vão além das necessidades básicas de sobrevivência. Mas é na sua imoralidade que Paulette acaba por, carinhosa e divertidamente, se reencontrar com o seu bom rumo e com a sua esperada redenção. Pelo caminho, torna-se uma traficante de respeito, até de recear, e constrói um negócio de pastelaria com substâncias ilícitas de sucesso. Se tudo servisse de pretexto para uma boa piada, o filme pouco proveito teria. Felizmente, mesmo que se renda a determinados convencionalismos inevitavelmente aborrecidos, é capaz de se tornar terno e decoroso e de tornar uma velha resmungona numa senhora que, no fundo, apenas nunca soube como lidar com a diferença e com a família.

Bernadette Lafont é uma actriz com uma presença cómica deliciosa, mas vende completamente o seu papel com a inteligência dramática omnipresente até nas cenas mais vulgares em que o espectador provavelmente desvia o olhar e se desconcentra. Ajuda Lafont que o diálogo seja afoito e provocador e que o argumento lhe dê, apesar de todas as contradições imorais, a dimensão de improvável heroína. O elenco de suporte tem a espaços o seu bom momento, mas nenhum chama mais a atenção, depois de Lafont, do que Françoise Bertin, interpretando uma bem-disposta, embora sempre ausente e desorientada, doente de Alzheimer.

A realização de Jérôme Enrico não engrandece e peca pouco. Exagera em estereótipos, particularmente no tratamento dos traficantes e dos maus-da-fita, e abunda em irrealismos, mas talvez parte da magia e da relativa inocência do filme resida precisamente nesses instrumentos. Nome de Código: Paulette, acompanhado por uma banda sonora deliciosa, é, assim, uma boa comédia e um melhor drama, quando o há. E sendo capaz de tornar a terceira idade numa nova e divertida fase de vida, apresenta-se com valor.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 valores


Trailer:

2 comentários:

  1. Alguém poderia me ajudar? Eu gostaria de saber o título da maravilhosa música que toca na abertura do filme "Paullete" de Jèrome Enrico. Muito obrigado.

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