Com diálogos humorísticos e arrojados, Nome de Código: Paulette é uma comédia
leve que, sob a despretensão do seu cariz de entretimento, transporta mensagens
válidas sobre a sociedade e os efeitos da crise. Lafont encontra-se fantástica.
Paulette (Bernadette Lafont) é uma idosa
que acaba de cumprir dez anos de viuvez. Pobre, incapaz de se resignar com uma
sociedade em crise com a qual não se identifica e mal-encarada pela família,
decide traficar drogas no seu bairro. O negócio de Paulette cresce
inesperadamente e transforma-se. Mas a nova vida, rodeada de perigos, obriga-a
a uma reflexão sobre o seu comportamento, as suas amizades e a sua família.
Nome de Código: Paulette é uma comédia
interessante e divertida, mas que só ganha dimensão e importância sempre que se
decide a trocar a mera diversão pelo drama sincero que alude aos efeitos da
crise e da globalização. Paulette, embora fisicamente engraçada e vocalmente
cómica, é, na realidade, uma idosa inconformada com a nova sociedade e com as
novas gerações. Despretensiosamente xenófoba, intrinsecamente inconformada e
inevitavelmente arrogante, Paulette coloca as culpas da sua pobreza e da
expropriação e penhora das suas propriedades naqueles que ignorou a vida toda e
que, fruto dos tempos, se posicionaram mais fortemente na sociedade. É
inevitável que a ironia se apresente a certo ponto no enredo e que Paulette
recorra precisamente a indivíduos que tanto menosprezou para dar a volta à sua
pobreza e aos sarilhos em que se enfia.
Paulette não
é, porquanto, uma personagem moralmente correcta. Longe disso. É mal-educada,
desrespeitadora e racista. O seu acto imoral vai ainda mais longe quando decide
vender drogas para se rodear de mordomices, que vão além das necessidades básicas de
sobrevivência. Mas é na sua imoralidade que Paulette acaba por, carinhosa e
divertidamente, se reencontrar com o seu bom rumo e com a sua esperada
redenção. Pelo caminho, torna-se uma traficante de respeito, até de recear, e
constrói um negócio de pastelaria com substâncias ilícitas de sucesso. Se tudo
servisse de pretexto para uma boa piada, o filme pouco proveito teria.
Felizmente, mesmo que se renda a determinados convencionalismos inevitavelmente
aborrecidos, é capaz de se tornar terno e decoroso e de tornar uma velha
resmungona numa senhora que, no fundo, apenas nunca soube como lidar com a
diferença e com a família.
Bernadette
Lafont é uma actriz com uma presença cómica deliciosa, mas vende completamente o
seu papel com a inteligência dramática omnipresente até nas cenas mais vulgares
em que o espectador provavelmente desvia o olhar e se desconcentra. Ajuda
Lafont que o diálogo seja afoito e provocador e que o argumento lhe dê, apesar
de todas as contradições imorais, a dimensão de improvável heroína. O elenco de
suporte tem a espaços o seu bom momento, mas nenhum chama mais a atenção,
depois de Lafont, do que Françoise Bertin, interpretando uma bem-disposta,
embora sempre ausente e desorientada, doente de Alzheimer.
A realização
de Jérôme Enrico não engrandece e peca pouco. Exagera em estereótipos,
particularmente no tratamento dos traficantes e dos maus-da-fita, e abunda em
irrealismos, mas talvez parte da magia e da relativa inocência do filme resida
precisamente nesses instrumentos. Nome de
Código: Paulette, acompanhado por uma banda sonora deliciosa, é, assim, uma
boa comédia e um melhor drama, quando o há. E sendo capaz de tornar a terceira
idade numa nova e divertida fase de vida, apresenta-se com valor.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 valores
Trailer:
Alguém poderia me ajudar? Eu gostaria de saber o título da maravilhosa música que toca na abertura do filme "Paullete" de Jèrome Enrico. Muito obrigado.
ResponderEliminarEternal Love ?
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