sexta-feira, 12 de abril de 2013

Filme: Esquecido (2013)


Esquecido é um filme de ficção científica decente, com uma linha de narrativa que se revela lentamente, à medida dos seus panoramas pós-apocalípticos. É menos inteligente do que a atmosfera sóbria pretende passar, e ainda menos exigente.

Jack (Tom Cruise) é o mecânico de drones do sector 49, um dos que ficou para trás num planeta Terra destruído por uma avassaladora guerra com uma força alienígena sessenta anos antes. A cerca de duas semanas de se juntar ao resto do seu povo no satélite Titã, Jack executa uma arriscada missão que coloca em risco todo o seu trabalho e até tudo aquilo em que acredita.

A história de Esquecido, resultante de um trabalho prévio, não publicado, do realizador Joseph Kosinski, começa de forma rotineira, prototípica, estabelecendo as regras e as origens do desfigurado mundo que se abre em planos extensos ao espectador. A deformação do planeta Terra, em apenas sessenta anos, é de tal modo avassaladora que o mecânico de drones Jack divaga, entre sobressaltos de pouca monta, pelos vestígios de emblemáticas estruturas que outrora tornavam Nova Iorque num símbolo do mundo moderno. Kosinski revela-se incapaz de resistir à força visual do pós-apocalíptico, ultrapassando necessidades de enquadramento geográfico em claros traços Emmerichianos. Por mais interessante e visualmente impressionante que seja, o exercício turístico de reconhecer famosas estruturas nova-iorquinas esgota-se rapidamente.

A narrativa de Esquecido, que sofreu um tratamento final por Michael Arndt, abrange expedientes de ficção científica que já não são propriamente originais. Possivelmente por essa razão, Esquecido delonga-se deliberadamente durante a primeira metade, conservando os seus principais trunfos para a segunda. A primeira metade é essencialmente expositiva, humorada, saltando entre momentos que sugerem uma reflexão superficial à humanidade e à resistência da sua alma e momentos de acção maioritariamente suportados no que de espectacular a nave em forma de libelinha consegue produzir. O retardar intencional provoca a paciência do espectador, não ajudando que ao lado de Jack apareça uma Victoria essencialmente genérica e monocórdica.     

A segunda metade destapa, enfim, o enigma. A imaginação por detrás de Esquecido, exibida finalmente nas suas forças e fraquezas, desilude um pouco, faltando-lhe uma pitada de inovação e de evolução temática. Felizmente, a abordagem de Kosinski à segunda metade melhora consideravelmente e os elementos cinematográficos alinham-se na medida certa: a banda sonora liberta-se da amarra electrónica a imitar Hans Zimmer e a fotografia do recentemente galardoado Claudio Miranda nivela-se na balança, entre o sépia do passado e o azul-acinzentado do presente. O último acto é estimulante, particularmente para os amantes de ficção científica, cujos se verão embrenhados em ramos de possibilidades.

 As interpretações em Esquecido não são, ironicamente, memoráveis. Tom Cruise nunca demonstra a carga psicológica que Jack, em conflito interno e de identidade, deve estar a sentir. Andrea Riseborough cria uma Victoria aborrecida. Morgan Freeman tem um papel relativamente curto e insignificante – a sua presença deve ficar a dever-se à necessidade de incluir outro conceituado nome no elenco. Olga Kurylenko, dos quatro, apresenta-se melhor, mas as circunstâncias a envolver a sua personagem são também as mais cativantes.

Esquecido rodeia-se de momentos vulgares. A originalidade não abunda tanto quanto pretende. Nem mesmo a imagem incisiva de uma Lua fragmentada impressiona – não é novo e já enchia o olho em A Máquina do Tempo. Esquecido melhora consideravelmente conforme avança para o seu último acto. Nele, redime-se o suficiente para não tornar tudo completamente esquecível.

CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas


Trailer:

2 comentários:

  1. Bom dia André.

    Pesssoalmente falando, achei o filme bastante interessante e com uma banda sonora ainda melhor.
    Não será um filme perfeito concerteza, com direito a passereles vermelhas nos óscares, mas os cerca de 124 minutos de duração passam num instante só tendo pena que não durasse um pouco mais.
    No final do filme, enquanto ouvia a fabulosa música Oblivion dos M83, vejo-me a pensar que o filme embora tivesse potencialidades para muito mais cumpriu o seu objectivo. Um sério candidato para ser adquirido em Bluray quando tiver disponível.

    Paulo

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  2. É um bom filme. Só...isso.

    abraço e parabens pelo blog

    marcelokeiser.blogspot.com.br

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