O Fantástico Homem-Aranha nunca é um filme
aborrecido. Intercala-se com momentos de humor, momentos de acção e momentos
de reflexão. A aposta neste reboot
tão prematuro poderia redundar-se num falhanço crasso, mas O Fantástico Homem-Aranha
consegue superar a problemática da familiaridade do enredo e sustentar-se a si
mesmo como um reinício válido.
Peter Parker
(Andrew Garfield) é um dos muitos adolescentes na sua escola. Invisível e geeky, Peter repudia os actos de bullying e desafia os transgressores.
Assombrado pela morte prematura dos seus pais, Peter decide averiguar os factos
que envolveram o acidente que os vitimou. A sua investigação leva-o à OsCorp,
uma empresa especializada em avanços científicos e tecnológicos que empregava o
seu pai. Ali encontra-se com o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), antigo colega do
seu pai que pode saber alguns dos segredos do projecto em que ele trabalhava. Peter decide ir mais longe na sua investigação e descobre o
laboratório na OsCorp onde se encontra o antigo projecto do seu pai. Mas algo
corre mal e Peter sofre uma transformação que o leva a envergar a máscara do
Homem-Aranha e que o aproxima da sua paixão, Gwen Stacy (Emma Stone).
Possivelmente
inspirado pelo que Christopher Nolan fez com Batman, Marc Webb entrega a oO Fantástico Homem-Aranha um tom mais sombrio e misterioso. É um projecto mais psicológico,
e também mais ambicioso, que a trilogia original de Sam Raimi. E a indicação de
que a transformação de Peter pode estar directamente relacionada com o trabalho
do seu pai do que a mera coincidência da “hora certa no local certo” proposta
por Raimi confere a este reboot uma mão
mais refinada de questões éticas. Aliás, uma das temáticas mais frequentes
neste novo filme é a perfeição humana e o limite da investigação e aplicação científica.
E tal como na trilogia original, encontram-se também presentes as temáticas do
heroísmo e da vendeta – nem sempre sendo fácil desmarcar uma da outra.
Andrew
Garfield encaixa melhor no papel de Peter Parker/Homem-Aranha que Tobey Maguire.
O seu Peter Parker é mais destemido e inteligente (confrontando os
transgressores mesmo antes da sua transformação) e o seu Homem-Aranha parece
mais ágil e astuto. A química entre Garfield e Emma Stone é também melhor que a
de Maguire e Kirsten Dunst – é sobretudo superior pela decisão de tornar a
personagem de Stone consciente da identidade secreta de Peter, que encaminha a diálogos
bem construídos entre as duas personagens sobre os limites do Homem-Aranha. No
fim, Peter é só um miúdo.
Mas o
Fantástico Homem-Aranha não está isento de falhas. A familiaridade do enredo é
o grande fantasma que assombra. É certo que muito não pode ser alterado de uma
fonte que é comum aos dois trabalhos (de Raimi e Webb), mas o argumento peca
por ser malandro. Certos meios empregues (e reciclados) são desnecessários, em
particular a morte do tio de Peter Parker a funcionar como catalisador para a
emergência do Homem-Aranha – parecia evidente que a investigação sobre a morte
dos pais de Peter bastaria; ou as vozes que o Dr. Curt Connors ouve do seu
alter-ego negro, à la Dr. Norman
Osborn no primeiro filme de Raimi.
Tecnicamente,
o Fantástico Homem-Aranha é quase brilhante – a única falha é o CGI menos bem
conseguido do Lagarto, que a momentos é tão claramente computorizado que o
espectador se pensa num filme de animação. Uma cena na Williamsburg Bridge é
absolutamente incrível e os momentos finais na torre da OsCorp são de cortar a
respiração. A música de James Horner, embora sem um tema icónico como a de
Danny Elfman, contribui para aumentar a tensão, ou aliviá-la, nos
momentos-chave.
O Fantástico
Homem-Aranha promete ir às origens e mostrar uma história do Homem-Aranha nunca
dantes contada. Em parte é verdade, em parte é mentira. Mas vale a pena ficar 136min
a distinguir o que é novo do que não é e maravilhar-se com um excelente elenco
muito mais à vontade nos seus papéis e com um realizador que utiliza todas as
técnicas de ponta para proporcionar momentos de abrir o olho. E se o Fantástico
Homem-Aranha está para Webb como Batman – O Início está para Nolan, então
talvez o segundo empreendimento de Webb, já solto do constrangimento da familiaridade
da transformação de Peter Parker, seja verdadeiramente fantástico.
CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.theamazingspiderman.com/
Trailer:
Sem comentários:
Enviar um comentário