quinta-feira, 8 de março de 2012

Filme: Margin Call – O Dia antes do Fim (2012)


Margin Call – O Dia antes do Fim é uma excelente estreia para o realizador e argumentista J. C. Chandor. Com ritmo adequado, ambiente dramático e representações fortes, Margin Call é garantidamente um bom filme. O único problema é intrínseco à sua própria essência: a linguagem económica demasiado técnica que domina o argumento é um desmotivador para a audiência menos habituada.

Um banco de investimento realiza um severo downsizing em todos os seus departamentos. Seth Bregman (Penn Badgley) e Peter Sullivan (Zachary Quinto), analistas de risco, respiram fundo por terem sobrevivido aos despedimentos. Porém, a mesma sorte não cabe a Eric Dale (Stanley Tucci), chefe de Seth e Peter e responsável por todo a departamento de gestão de risco. Antes de abandonar a empresa, Eric entrega a Peter uma pen drive contendo o seu último, e por finalizar, projecto. Peter conclui o projecto e faz algumas descobertas que podem pôr a sobrevivência de toda a companhia em risco, bem como provocar um tumulto na economia.

Margin Call baseia-se no caso da falência de um banco de investimento (Lehman Brothers ?) que funciona como um gatilho para a crise financeira de 2008. O filme oferece uma curiosa perspectiva sobre os bastidores e as decisões do mundo financeiro, dos seus executivos e dos seus funcionários. O relacionamento entre os diferentes níveis hierárquicos está sublimemente representado e permite compreender bem os jogos de poder, de chantagem e de interesses envolvidos – naturalmente, tudo à volta do dinheiro. Com o movimento Occupy Wall Street nas ruas a protestar contra os “1%”, Margin Call parece querer funcionar em várias alturas como uma reflexão dicotómica sobre as duas realidades (os “99%” vs os “1%”) – uma pequena cena no elevador envolvendo dois executivos e uma empregada da limpeza é a clara expressão dessa intenção. Senão isso, Margin Call pretende pelo menos alertar para a avidez sem escrúpulos dos grandes decisores do panorama financeiro.

Apesar do ensemble cast, Kevin Spacey, Jeremy Irons e Zachary Quinto destacam-se dos seus companheiros de ecrã. Sobretudo Irons – quando entra em cena rouba completamente os holofotes com a sua fantástica dicção e com a sua forma de representação tão natural e convincente. Se não fosse um actor, talvez Irons fosse mesmo um CEO de uma grande empresa.

Chandor realiza o seu primeiro filme com talento. Escreveu o argumento original com mais arte ainda (até lhe valendo uma nomeação para o Óscar respectivo). Sendo este um filme independente, é provável que passe despercebido pelas audiências de massa. Mas vale a pena ser considerado e visualizado, mesmo que a sua linguagem seja difícil e, para muitos, pouco interessante. Afinal, a crise de 2008 ainda tem profundas réplicas na sociedade e é útil conhecer, ou pelo menos especular, o tipo de decisões que levaram a tal situação. É tal como Margin Call termina: com a personagem de Spacey a abrir uma cova para o seu falecido animal de estimação – uma perfeita metáfora para o que a empresa representada no enredo (qualquer que ela seja), tal como tantas outras homogéneas, fez à economia.

Margin Call estreia a 08/03/2012


CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer:

1 comentário:

  1. Vi ontem o filme e achei interessante. Mas, de facto, a linguagem demasiado técnica acaba por ser uma entrave à boa compreensão do filme..

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