domingo, 15 de dezembro de 2013

Filme: Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade (2013)

Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade oferece uma visão maioritariamente ampla e a espaços emotiva da vida e da luta contra o apartheid de Nelson Mandela. Idris Elba é nada menos que fantástico na sua interpretação cônscia do eterno líder sul-africano.

Na África do Sul, no final dos anos 50, o regime do apartheid atinge proporções indecorosas. Nelson Mandela (Idris Elba) é um dos líderes do movimento revolucionário do ANC (Congresso Nacional Africano). Quando o movimento toma tácticas guerrilheiras em resposta a atitudes mais violentas do governo sul-africano, Mandela é capturado e condenado a uma pena de prisão perpétua. A sua mulher, Winnie Mandela (Naomie Harris) toma as rédeas do movimento guerrilheiro.  

Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade, adaptado por William Nicholson da biografia Long Walk to Freedom do eterno presidente sul-africano, é um filme sem um equilíbrio definido, misturando momentos de beleza cinematográfica com momentos de relativa banalidade. Como um todo, todavia, este trabalho de Justin Chadwick encontra-se acima da média e, ancorado ao valor universal da mensagem de paz de Mandela, agarra com força a atenção e as expectativas do espectador, mesmo que no fim a recompensa emocional fique aquém daquilo que podia e devia ter sido alcançado, e que vinha a ser brilhantemente preparado na primeira metade do filme.

A primeira metade de Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade, que se prolonga até ao momento do encarceramento de Nelson Mandela na prisão da Ilha Robben, não dá nenhum passo em falso, agregando uma narrativa fluida (desde a infância de Mandela) com uma montagem inteligente, transumanando Mandela com defeitos a fim de elevar o seu caminho ao estatuto de figura moral. Nesta parte do filme, o lado mais controverso de Mandela, e do seu papel no armamento da ANC durante a fase mais negra do apartheid, é tratado com cuidado e tacto, colocando-o ante momentos de aflição racial progressivamente graves que impactam o seu melhor discernimento. Embora Mandela tome o caminho da luta armada, a sua aversão ao mesmo é sempre observável; Mandela procura a paz e os instantes em que regressa às suas raízes, algures no meio da grande e bela savana, para visitar a sua mãe ou para se casar com Winnie, provam a sua vontade do tamanho do mundo de trazer paz e igualdade.

Quando Mandela é capturado e levado para a Ilha Robben, Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade muda de ritmo. Abranda consideravelmente e perde o seu esplendor. Nelson Mandela, não obstante as enormes privações que padece no seu longo e injusto cativeiro, fica mais distante do espectador e a sua viagem moral torna-se mais imperceptível. A forma como Justin Chadwick trabalha esta parte da vida do eterno líder sul-africano provoca a inquietante ideia de que a transformação de Mandela durante o seu cativeiro se deve a algum amolecimento da sua vontade de revolta, como um animal enjaulado que se vê definhar as garras com a oscilação do pêndulo do tempo. Justin Chadwick contrasta seriamente esta transformação com a de Winnie Mandela, que, moldada por uma realidade de punição completamente diferente, parece impelida pelo simples ódio, quiçá dissonante com as suas verdadeiras motivações.

Os momentos que antecedem e se sucedem à libertação de Mandela carecem de alguma solenidade, dependendo demasiado das imagens de arquivo que Justin Chadwick reúne. No entanto, Justin Chadwick recupera nesta recta final algum do esplendor perdido e consegue conduzir um desfecho condigno com o carácter de Nelson Mandela: sentido, tranquilo e bonito; desfecho que carrega consigo uma inflexão emotiva extra pelo falecimento recente do eterno líder sul-africano. Justin Chadwick tem muito que agradecer a Idris Elba pela sua brilhante actuação. Embora exageradamente encorpado para a correcta caracterização de Mandela – problema particularmente mais presente nos anos mais avançados do líder –, Idris Elba faz uma encarnação de personalidade, voz e natureza verdadeiramente espantosa. É uma performance capaz de mudar o rumo da sua carreira. Naomie Harris também traz qualidade ao papel de Winnie, ainda que sobeje a ideia de que a sua personagem é subutilizada e que o seu lugar na narrativa é mal colocado.  


Os valores de produção deste filme estão a bom nível, da vibrante fotografia de Low Crawley – com fantásticos planos da savana sul-africana – ao apropriado guarda-roupa e à música bela e pulsante de Alex Heffes. Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade pode não ser a mais perfeita interpretação cinematográfica de Nelson Mandela – o acto intermédio é frustrantemente carente –, mas é uma que vence na celebração a sua vida, das suas conquistas, e que deixa saudades do seu memorável e já eternizado espírito.    

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


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