sexta-feira, 17 de maio de 2013

Filme: O Grande Gatsby (2013)


O Grande Gatsby é visualmente rico e deslumbrante, mas a execução supérflua atraiçoa a essência da história de F. Scott Fitzgerald, mesmo com uma performance excepcional de DiCaprio.
   
Nick Carraway (Tobey Maguire), um diplomado da Universidade de Yale e veterano da Primeira Guerra Mundial, encontra-se depressivo e viciado no álcool. O seu psiquiatra aconselha-o a narrar as suas memórias para encontrar a origem do seu problema, ao que Nick fala e escreve sobre o período em que conheceu Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) quando foi viver para perto da sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan) e do seu marido Tom (Joel Edgerton).

A nova adaptação do clássico de F. Scott Fitzgerald pelas mãos do realizador Baz Luhrmann, rodeada de todas as novidades técnicas, nunca se impõe de forma coerente ao espectador. A primeira metade do filme, composta por transições vertiginosas e banhada em excentricidade visual e sonora, deixa a impressão de uma direcção perdida, embriagada – permita-se a ironia – como alguém numa das festas no enorme palácio de Jay Gatsby. Sendo notório que Luhrmann tenciona projectar negativamente a extravagância, a opulência e a superficialidade norte-americana de uma época pós-guerra embebida em excessos que levariam, eventualmente, à decadência na Grande Depressão, é também notória a futilidade que Luhrmann indirectamente projecta no seu trabalho, particularmente na primeira – longa – metade.

Na sua introdução aparatosa e ruidosa de Jay Gatsby, o filme parece amnésico durante demasiado tempo ao caracter e aos motivos de tão misteriosa personagem, uma que, afinal, consagra o ideal americano de escalada social. A opção é pelo divertimento oco, acompanhado de forma desapontante por músicas modernas e desapropriadas; como Nick Carraway refere a certo ponto, logo no começo, parece um parque de diversões. Mas há muito mais em Jay Gatsby do que a adaptação quer saber: Gatsby representa um sonho romântico, shakespeariano; alguém que se transverte completamente por outro alguém que julga ser a sua inalterável cara-metade; alguém disposto a conseguir tudo por essa cara-metade e disposto, da mesma maneira, a perder tudo. A relativa e esperançosa inocência de Gatsby é igualmente avassaladora e trágica. Luhrmann parece finalmente dar-se conta da essência de Gatsby na segunda metade do filme e pausa um pouco, recupera da sua embriaguez e desagarra-se de pretensões para o último – agradável – acto, mesmo que a sua ressaca ainda o leve, aqui e ali, a desnecessárias distracções técnicas.     

                Encarnar uma personagem tão mítica quanto o próprio título da obra não está ao alcance de qualquer um, mas DiCaprio triunfa indiscutivelmente, criando um Gatsby tão misterioso quanto inocente, tão galante quanto mendicante. O Grande Gatsby não agarra enquanto DiCaprio não surge em cena, enquanto os marcados conflitos internos da sua personagem não ganham dimensão – ou pelo menos a espécime que Luhrmann não esconde para si. Maguire, Mulligan e Edgerton observam bem as particularidades dos respectivos papéis, mas às vezes parecem perder-se na observância técnica e na magnificência dos valores de produção.    

Baz Luhrmann consegue novamente em O Grande Gatsby o mesmo que tinha conseguido em Austrália: um enorme projecto encabeçado por um elenco de luxo que não dispensa orçamento ou escala e que é, em última análise, belo e grandioso por fora, mas vazio e descomprometido por dentro. O Grande Gatsby, perdido da sua autoridade romântica, trágica e social, é pouco mais do que um decente Gatsby.

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


Trailer:
       

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