O novo projecto de Terrence Malick não
segue convenções cinematográficas. É um projecto abstracto, preso, para o bem e
para o mal, à experiência visual e à capacidade (e à vontade) do espectador
para se permitir transcender.
Neil (Ben Affleck) encontra-se dividido
entre duas paixões: Marina (Olga Kurylenko), uma europeia que viajou coma sua
filha para os Estados Unidos para estar com ele, e Jane (Rachel McAdams), uma
velha paixão sua com quem volta a reencontrar-se. A indecisão de Neil causa um
tumulto na vida de ambas as mulheres e a estabilidade e a perfeição nunca
parecem alcançáveis. Na mesma cidade, o Padre Quintana (Javier Bardem)
encontra-se dividido entre a sua paixão pela vida e a sua paixão pelo seu deus.
A Essência do Amor requer empenho
do espectador. As temáticas apresentadas não são claras; são difusas e
abertas a interpretação. É relativamente fácil identificar a problemática do
conflito conjugal e da distância emocional que ganha espaço com o evoluir de
uma relação. Mas o objectivo máximo e moral da história não-linear de Malick
raramente é evidente ou palpável. A necessidade de transcendência para o
maravilhoso e perfeito através do amor por parte das suas personagens, e em
particular de Marina e do Padre Quintana, parece ser o grande motivo a fornecer
sentido a toda a ambígua narrativa; é pelo menos a mais congruente. Tal como
tantas outras necessidades e desejos do ser humano, encontra obstáculos na característica
humana de relacionamento, de depender a sua felicidade completa da felicidade
completa do receptáculo das suas necessidades.
Malick apresenta
o ser humano como incompleto e moralmente dúbio, que assenta a sua existência
na procura constante do superior e ininteligível. Já assim era em A Árvore da Vida, onde a desmitificava num
acaso da escolha entre o caminho da Graça e o caminho da Natureza. Em A Essência do Amor, Malick mitifica a
procura mistificando todo o processo, tornando obsoleta qualquer conclusão que
o espectador tivesse formado em A Árvore
da Vida. A interpretação da sua mensagem global volta à estaca zero, mas
desta vez Malick fornece poucos instrumentos para a sua prossecução. O diálogo
é quase nulo e a tradução moral que não advém da análise visual resulta da narração
à vez de cada personagem de pontos-chave, se não rotinados, dos seus âmagos.
A direcção de
Malick, circunscrevida ao detalhe e ao bonito, é fragmentada e vertiginosa, mas
com demasiada inconsequência. Talvez Malick não estivesse inteiramente seguro daquilo
que pretendia. Talvez a sua cisma pelo transcendente teve mais pés do que
cabeça. Para um projecto irremediavelmente apressado que baseia a sua premissa
na procura do maravilhoso e perfeito, A
Essência do Amor parece quase tão perdido nessa jornada quanto as suas
personagens. Quase se perde por se agarrar com demasia força à experiência
visual, mesmo que ao som da brilhante música de Hanan Townshend, e nunca a
largar ou folgar até ao fim. Falta a A Essência
do Amor clareza e abertura. Falta o espaço para interpretações convictas e norteadas.
Falta menor vagueza e mais essência.
CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.magpictures.com/tothewonder/
Trailer:
Sem comentários:
Enviar um comentário