quarta-feira, 8 de maio de 2013

Filme: A Essência do Amor (2013)


O novo projecto de Terrence Malick não segue convenções cinematográficas. É um projecto abstracto, preso, para o bem e para o mal, à experiência visual e à capacidade (e à vontade) do espectador para se permitir transcender.

Neil (Ben Affleck) encontra-se dividido entre duas paixões: Marina (Olga Kurylenko), uma europeia que viajou coma sua filha para os Estados Unidos para estar com ele, e Jane (Rachel McAdams), uma velha paixão sua com quem volta a reencontrar-se. A indecisão de Neil causa um tumulto na vida de ambas as mulheres e a estabilidade e a perfeição nunca parecem alcançáveis. Na mesma cidade, o Padre Quintana (Javier Bardem) encontra-se dividido entre a sua paixão pela vida e a sua paixão pelo seu deus.

A Essência do Amor requer empenho do espectador. As temáticas apresentadas não são claras; são difusas e abertas a interpretação. É relativamente fácil identificar a problemática do conflito conjugal e da distância emocional que ganha espaço com o evoluir de uma relação. Mas o objectivo máximo e moral da história não-linear de Malick raramente é evidente ou palpável. A necessidade de transcendência para o maravilhoso e perfeito através do amor por parte das suas personagens, e em particular de Marina e do Padre Quintana, parece ser o grande motivo a fornecer sentido a toda a ambígua narrativa; é pelo menos a mais congruente. Tal como tantas outras necessidades e desejos do ser humano, encontra obstáculos na característica humana de relacionamento, de depender a sua felicidade completa da felicidade completa do receptáculo das suas necessidades.  

Malick apresenta o ser humano como incompleto e moralmente dúbio, que assenta a sua existência na procura constante do superior e ininteligível. Já assim era em A Árvore da Vida, onde a desmitificava num acaso da escolha entre o caminho da Graça e o caminho da Natureza. Em A Essência do Amor, Malick mitifica a procura mistificando todo o processo, tornando obsoleta qualquer conclusão que o espectador tivesse formado em A Árvore da Vida. A interpretação da sua mensagem global volta à estaca zero, mas desta vez Malick fornece poucos instrumentos para a sua prossecução. O diálogo é quase nulo e a tradução moral que não advém da análise visual resulta da narração à vez de cada personagem de pontos-chave, se não rotinados, dos seus âmagos.

A direcção de Malick, circunscrevida ao detalhe e ao bonito, é fragmentada e vertiginosa, mas com demasiada inconsequência. Talvez Malick não estivesse inteiramente seguro daquilo que pretendia. Talvez a sua cisma pelo transcendente teve mais pés do que cabeça. Para um projecto irremediavelmente apressado que baseia a sua premissa na procura do maravilhoso e perfeito, A Essência do Amor parece quase tão perdido nessa jornada quanto as suas personagens. Quase se perde por se agarrar com demasia força à experiência visual, mesmo que ao som da brilhante música de Hanan Townshend, e nunca a largar ou folgar até ao fim. Falta a A Essência do Amor clareza e abertura. Falta o espaço para interpretações convictas e norteadas. Falta menor vagueza e mais essência. 

CLASSIFICAÇÃO: 2,5 em 5 estrelas


Trailer:


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