sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Filme: Hitchcock (2013)


A intenção de Hitchcock é a de homenagear o trabalho do realizador britânico e a produção de um dos seus mais famosos – se não o mais marcante de todos eles – filmes. Embora triunfe satisfatoriamente nesse aspecto, alicerçado numa actuação maravilhosa de Anthony Hopkins, erra absolutamente na sua injustificada ambição de dramatizar o desnecessário.  

Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins) é um conceituado realizador que se encontra sem um novo projecto e que se sente ameaçado com o cenário de fim de carreira. Assombrado por alguns projectos televisivos de pouco sucesso, sente a necessidade de um projecto arrojado que volte a colocar o seu nome na ribalta. Alfred encontra um livro baseado num assassino em série e decide adaptá-lo, contra a vontade da sua mulher Alma (Helen Mirren). A sua determinação levá-lo-á a concretizar um dos mais conceituados filmes de sempre: Psico.

Psico é, discutivelmente, o maior sucesso do britânico Alfred Hitchcock. É certamente o seu maior sucesso de bilheteira e uma incontornável obra-prima do suspense que redefiniu os limites do horror e introduziu um novo nível concebível de ansiedade e aflição no espectador. Mas a rodagem de Psico não foi natural. Negada por várias produtoras, o realizador foi forçado a efectuar um investimento próprio, encarado pela indústria como de risco e irreparável. Alfred Hitchcock levou a sua ideia, o seu turbilhão criador, avante e o resultado é um dos filmes mais conceituados da história do cinema. Adaptado do livro Alfred Hitchcock and the Making of Psycho, de Stephen Rebello, Hitchcock propõe-se a recriar a teimosia, a inspiração e o método do aclamado realizador. Até certo ponto, Hitchcock consegue cumprir satisfatoriamente o seu propósito, mas, ao contrário da obra do homem que lhe serve de fundação, sacia-se apenas com o fazer bem, sem pretensões de excelsas características, não fugindo, ou evitando a importância, de convencionalismos dramáticos.

Os convencionalismos rodeiam quase sempre Alma e a sua relação com o argumentista Whitfield Cook. Hitchcock pretende estabelecer uma dicotomia sucesso-insucesso da filmografia de Alfred apoiada na qualidade da relação com a Alma: quando a rodagem de Psico se encontra encalhada e designada ao fracasso, a relação de Alfred com Alma encontra-se tensa e ameaçada, e vice-versa. Mas que Hitchcock dê demasiada importância ao mexerico que constitui a relação de trabalho entre Alma e Whitfield constitui um rudimentar mecanismo para o verdadeiro propósito desta dramatização: aliar Alma a todo o êxito do britânico. Desnecessário, pois a autoridade de Alma nos projectos do realizador foi desde sempre reconhecida e partilhada por ele próprio.

Hitchcock prende finalmente a atenção quando concentra os seus esforços na essência da sua premissa: a rodagem de Psico. Hitchcock corria o risco de funcionar como um rotinizado olhar documental aos bastidores, e não evita alguns automatismos, mas desperta interesse no seu recontar de eventos, envolvendo Alfred numa maré de desafios – de produção, de aprovação, de sedução, de obsessão – que vão introduzindo novas dinâmicas ao longo do enredo e vão colocando questões inesperadas sobre as capacidades – e até a sanidade – do britânico. Anthony Hopkins desaparece no ecrã, encarando notavelmente o seu compatriota, reproduzindo os seus maneirismos, a sua voz e a sua forma despretensiosa de estar com classe.   

Talvez por não ter um estilo próprio – é a sua primeira longa-metragem (não considerando o documentário Anvil: The Story of Anvil) –, ou em homenagem a Alfred Hitchcock, ou talvez ambos, Sacha Gervasi procura reproduzir ao longo do filme muitas das então inovadoras técnicas do britânico. Designadamente, tenta introduzir alguma categoria de suspense no argumento escrito por John J. McLaughlin, com planos súbitos, luzes reduzidas e edições frenéticas. É particularmente evidente quando recria a filmagem da famosa cena do chuveiro de Psico, mas noutras também, embora nem sempre com sucesso ou competência.  

No fim de contas, Hitchcock consegue tornar mais pessoal o trabalho e a envolvência de Alfred em Psico, estabelecendo uma motivação – para a necessidade de filmar – aliada à idade e à concepção do fim da carreira. Falha em quase todos os aspectos que escapam à temática de Psico, mas consegue pelo menos glorificar o trabalho do mestre do suspense e mostrar, com uma certa dose de humor, as relações nos estúdios de Hollywood e os pequenos tabus instalados. Basta, satisfaz, mas apenas isso.

CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas

Trailer:

Sem comentários:

Enviar um comentário