terça-feira, 6 de novembro de 2012

Filme: Argo (2012)


Argo é um filme intenso, hábil e admirável. Ben Affeck revela uma vez mais ambivalência de qualidades, à frente da câmara e atrás dela, e poderá finalmente conseguir o reconhecimento que tem competentemente procurado na sua incursão à realização.

Em 1979, rebenta a Revolução Iraniana e o Xá Mohammad Reza Pahlevi é deposto do poder. Doente e vencido, Pahlevi consegue asilo político nos Estados Unidos da América. Revoltado, o povo iraniano exige o regresso do Xá e a 4 de Novembro de 1979 invade e toma reféns na embaixada norte-americana. Na confusão, seis diplomatas americanos fogem da embaixada e refugiam-se na casa do embaixador canadiano. O especialista em extracções da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), desenvolve um plano meticuloso para resgatá-los, envolvendo a produção fictícia de um filme de ficção científica. Mas a secreta missão enfrentará muitos adversários e desafios, tanto no Irão como nos próprios Estados Unidos da América.

Os eventos que levaram ao resgate dos seis refugiados foram mantidos em segredo durante muitos anos e só a partir de 1997 foram tornados públicos e o envolvimento de Tony Mendez foi reconhecido publicamente. Enquanto, na realidade, o trabalho de Mendez parece efectivamente algo retirado de um filme, Argo faz muito, e muito bem, para o tornar verosímil, detalhando todo o processo com inteligência, humor e drama. E onde o argumento de Chris Terrio se encontra consciente do processo de extracção, não se coíbe a contornar a realidade e a reordenar e a relocalizar os eventos para criar espanto e gradualmente elaborar um momento de altíssimo suspense que coloca a audiência numa angustiante expectativa. Afinal, Argo é um filme, um thriller, e não um documentário.  
     
Meticulosamente filmado, Argo combina imagens reais, reproduz outras, com o seu lado fictício, nem sempre sendo óbvia a distinção entre elas. A edição é de nível e é particularmente brilhante numa cena intercalada em que o falso filme «Argo», da CIA, é apresentado em Hollywood e em Teerão os reféns da embaixada são considerados espiões e ficam com as vidas em risco. A fotografia é tendenciosamente escura, a intervalos baça, não só contribuindo para dificultar a distinção entre os planos reais e os planos fictícios nos momentos em que se concertam como para transmitir uma atmosfera encoberta tal como aquela de um dia que antevê uma tempestade e o ruir dos esforços. A cadência da banda sonora de Alexandre Desplat, afinada às variadas circunstâncias, envolve em brio os esforços anteriores e torna a tensão e a angustiante expectativa mais intensas ainda.

Se Argo tem um aspecto negativo de saltar à vista terão que ser a falhadas breves sugestões de uma vida pessoal de Tony Mendez fracassada e problemática, com um provável problema de alcoolismo. Nada disso interessa para o guião central nem toma influência no sucesso ou insucesso da missão. Nem é necessário para tornar o arriscado trabalho de Mendez heróico e laudável. Mas da maneira como o filme corre, poucos se aperceberão ou importarão com este menor lado.  

Ben Affleck desempenha o papel principal e está de corpo presente em quase todo o filme. Tão bem quanto efectivamente está, é importante realçar a qualidade do restante elenco, nomeadamente Bryan Cranston e Alan Arkin. Seguindo a tradição de Hollywood de premiar filmes que mostram a competência norte-americana, Argo poderá estar a caminho de uma época de prémios em cheio. A verdade, porém, é que merecerá a grande parte deles. Merece, sobretudo, pela capacidade de transverter uma história acessória dos eventos da Revolução Islâmica e da tomada de 444 dias da embaixada norte-americana no mais notório acontecimento. 

CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas

Trailer:

Sem comentários:

Enviar um comentário