Argo
é um filme intenso, hábil e admirável. Ben Affeck revela uma vez mais
ambivalência de qualidades, à frente da câmara e atrás dela, e poderá
finalmente conseguir o reconhecimento que tem competentemente procurado na sua
incursão à realização.
Em 1979, rebenta
a Revolução Iraniana e o Xá Mohammad Reza Pahlevi é deposto do poder. Doente e vencido,
Pahlevi consegue asilo político nos Estados Unidos da América. Revoltado, o
povo iraniano exige o regresso do Xá e a 4 de Novembro de 1979 invade e toma
reféns na embaixada norte-americana. Na confusão, seis diplomatas americanos
fogem da embaixada e refugiam-se na casa do embaixador canadiano. O
especialista em extracções da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), desenvolve um
plano meticuloso para resgatá-los, envolvendo a produção fictícia de um filme
de ficção científica. Mas a secreta missão enfrentará muitos adversários e
desafios, tanto no Irão como nos próprios Estados Unidos da América.
Os eventos que
levaram ao resgate dos seis refugiados foram mantidos em segredo durante muitos
anos e só a partir de 1997 foram tornados públicos e o envolvimento de Tony
Mendez foi reconhecido publicamente. Enquanto, na realidade, o trabalho de Mendez
parece efectivamente algo retirado de um filme, Argo faz muito, e muito bem, para o tornar verosímil, detalhando
todo o processo com inteligência, humor e drama. E onde o argumento de Chris Terrio
se encontra consciente do processo de extracção, não se coíbe a contornar a
realidade e a reordenar e a relocalizar os eventos para criar espanto e gradualmente
elaborar um momento de altíssimo suspense que coloca a audiência numa angustiante
expectativa. Afinal, Argo é um filme,
um thriller, e não um documentário.
Meticulosamente
filmado, Argo combina imagens reais,
reproduz outras, com o seu lado fictício, nem sempre sendo óbvia a distinção
entre elas. A edição é de nível e é particularmente brilhante numa cena intercalada
em que o falso filme «Argo», da CIA, é apresentado em Hollywood e em Teerão os
reféns da embaixada são considerados espiões e ficam com as vidas em risco. A
fotografia é tendenciosamente escura, a intervalos baça, não só contribuindo
para dificultar a distinção entre os planos reais e os planos fictícios nos
momentos em que se concertam como para transmitir uma atmosfera encoberta tal
como aquela de um dia que antevê uma tempestade e o ruir dos esforços. A cadência
da banda sonora de Alexandre Desplat, afinada às variadas circunstâncias, envolve
em brio os esforços anteriores e torna a tensão e a angustiante expectativa
mais intensas ainda.
Se Argo tem um aspecto negativo de saltar à
vista terão que ser a falhadas breves sugestões de uma vida pessoal de Tony
Mendez fracassada e problemática, com um provável problema de alcoolismo. Nada
disso interessa para o guião central nem toma influência no sucesso ou
insucesso da missão. Nem é necessário para tornar o arriscado trabalho de
Mendez heróico e laudável. Mas da maneira como o filme corre, poucos se aperceberão
ou importarão com este menor lado.
Ben Affleck
desempenha o papel principal e está de corpo presente em quase todo o filme. Tão
bem quanto efectivamente está, é importante realçar a qualidade do restante
elenco, nomeadamente Bryan Cranston e Alan Arkin. Seguindo a tradição de
Hollywood de premiar filmes que mostram a competência norte-americana, Argo poderá estar a caminho de uma época
de prémios em cheio. A verdade, porém, é que merecerá a grande parte deles.
Merece, sobretudo, pela capacidade de transverter uma história acessória dos
eventos da Revolução Islâmica e da tomada de 444 dias da embaixada
norte-americana no mais notório acontecimento.
CLASSIFICAÇÃO: 4,5 em 5 estrelas
Site Oficial: http://argothemovie.warnerbros.com/
Trailer:
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