Na Terra de Sangue e Mel marca a estreia de
Anjelina Jolie na cadeira de realização. Enquanto a crueldade, a brutalidade e
o medo da Guerra da Bósnia são cuidadosamente explorados pelo olho de Jolie, o
filme sofre de apatia crónica. No seu intento de dar a conhecer uma guerra
largamente marginalizada pela comunidade internacional acaba da mesma forma por
deixar de lado as motivações e as razões do pior conflito na Europa desde a
Segunda Guerra Mundial.
Na Terra
de Sangue e Mel conta a história de um romance proibido entre dois elementos de
etnias inimigas da antiga região da Jugoslávia – entre Danijel (Goran Kostić),
um soldado dos sérvios da Bósnia, e Ajla (Zana Marjanović) uma muçulmana da Bósnia capturada e
escravizada por uma unidade de soldados sérvios. Danijel e Ajla conhecem-se
ainda antes da guerra começar. Surgem logo na primeira cena do filme num café,
a dançar – Ajla é uma pintora e Danijel um polícia. Mas tudo muda quando, ainda
nesse café, acontece uma explosão que os afasta tanto fisicamente quanto
mentalmente. Quatro meses depois, com a guerra já estabelecida e o território
completamente transformado, Ajla é levada por soldados sérvios para o quartel
da sua unidade. Ali, as mulheres bósnias muçulmanas são escravizadas e violadas
constantemente. Danijel é o capitão daquela unidade. Descobre Ajla e procura protegê-la
sem levantar suspeitas ou insurreições. Com todo o conflito e genocídio que
acontece à volta, Danijel e Ajla envolvem-se num romance proibido e perigoso.
Jolie escreveu, produziu e
realizou Na Terra de Sangue e Mel com o intuito de mostrar a guerra da Bósnia
ao mundo. O tom crítico em relação à impassibilidade da comunidade
internacional é demonstrado em várias alturas do filme, como numa cena em que
dois soldados bósnios muçulmanos, encarando a escassez de alimento e a
destruição do território, comentam a proximidade da Itália, da despreocupação e
da calma que lá existe, dos “passeios ao sol”. Jolie pretende claramente condenar
a política do “esperar para ver” da comunidade internacional, nomeadamente do
seu próprio país. Aliás, faz mesmo crer que os Estados Unidos só intervêm mais
tarde porque Bill Clinton procurara parecer bem para tentar a reeleição. Jolie
também quer mostrar os crimes de guerra e não teme fazê-lo de maneira crua e sórdida
– da maneira como tais crimes realmente aconteceram.
Com tudo o que Jolie quer
passar para o seu público, acaba por não conseguir balancear os diversos
elementos da melhor maneira. Em primeiro lugar, nunca explica as motivações da
guerra ou as motivações por detrás das suas personagens. Elas estão lá,
compreende-se pela forma como agem – o que resulta certamente da escolha de
fazer o casting com verdadeiros
sobreviventes do conflito –, mas nunca de uma forma completa ou explícita a
ponto de esclarecer a audiência. Aliás, o argumento de Jolie é demasiado
partidário dos bósnios muçulmanos, escondendo sempre que alguns crimes de
guerra dos sérvios também foram cometidos pelos bósnios, ainda que em muito
menor escala. Em segundo lugar, o romance entre Danijel e Ajla não é
convincente, torna o ritmo do filme lento e liga os vários elementos e cenários
da história de forma imprecisa e pouco interessante.
A produção do filme esteve envolvida
em várias controvérsias, embargos e delongas. Apesar de tudo, Na Terra de
Sangue e Mel é uma estreia positiva para Jolie. A sua câmara acompanha sempre
todas as duras realidades com preciosismo e dedicação. Muitos não a julgariam
capaz de realizar um filme, mas a verdade é o que faz com relativo talento. Se
alguma coisa fica provada, é que Jolie é melhor realizadora do que é
argumentista. Mas também é preciso que fique claro que Jolie nunca pretende que
o seu argumento vá demasiado longe. Afinal, apesar da paz, as feridas ainda não
se encontram totalmente saradas na região da Bósnia-Herzegovina. O argumento de
Jolie questiona e supõe, não resolve. Nunca quer resolver, que este foi afinal
um conflito que também ninguém queria resolver.
CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas
Trailer:
Sem comentários:
Enviar um comentário