quinta-feira, 5 de abril de 2012

Filme: Na Terra de Sangue e Mel (2012)



Na Terra de Sangue e Mel marca a estreia de Anjelina Jolie na cadeira de realização. Enquanto a crueldade, a brutalidade e o medo da Guerra da Bósnia são cuidadosamente explorados pelo olho de Jolie, o filme sofre de apatia crónica. No seu intento de dar a conhecer uma guerra largamente marginalizada pela comunidade internacional acaba da mesma forma por deixar de lado as motivações e as razões do pior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Na Terra de Sangue e Mel conta a história de um romance proibido entre dois elementos de etnias inimigas da antiga região da Jugoslávia – entre Danijel (Goran Kostić), um soldado dos sérvios da Bósnia, e Ajla (Zana Marjanović) uma muçulmana da Bósnia capturada e escravizada por uma unidade de soldados sérvios. Danijel e Ajla conhecem-se ainda antes da guerra começar. Surgem logo na primeira cena do filme num café, a dançar – Ajla é uma pintora e Danijel um polícia. Mas tudo muda quando, ainda nesse café, acontece uma explosão que os afasta tanto fisicamente quanto mentalmente. Quatro meses depois, com a guerra já estabelecida e o território completamente transformado, Ajla é levada por soldados sérvios para o quartel da sua unidade. Ali, as mulheres bósnias muçulmanas são escravizadas e violadas constantemente. Danijel é o capitão daquela unidade. Descobre Ajla e procura protegê-la sem levantar suspeitas ou insurreições. Com todo o conflito e genocídio que acontece à volta, Danijel e Ajla envolvem-se num romance proibido e perigoso.

Jolie escreveu, produziu e realizou Na Terra de Sangue e Mel com o intuito de mostrar a guerra da Bósnia ao mundo. O tom crítico em relação à impassibilidade da comunidade internacional é demonstrado em várias alturas do filme, como numa cena em que dois soldados bósnios muçulmanos, encarando a escassez de alimento e a destruição do território, comentam a proximidade da Itália, da despreocupação e da calma que lá existe, dos “passeios ao sol”. Jolie pretende claramente condenar a política do “esperar para ver” da comunidade internacional, nomeadamente do seu próprio país. Aliás, faz mesmo crer que os Estados Unidos só intervêm mais tarde porque Bill Clinton procurara parecer bem para tentar a reeleição. Jolie também quer mostrar os crimes de guerra e não teme fazê-lo de maneira crua e sórdida – da maneira como tais crimes realmente aconteceram.

Com tudo o que Jolie quer passar para o seu público, acaba por não conseguir balancear os diversos elementos da melhor maneira. Em primeiro lugar, nunca explica as motivações da guerra ou as motivações por detrás das suas personagens. Elas estão lá, compreende-se pela forma como agem – o que resulta certamente da escolha de fazer o casting com verdadeiros sobreviventes do conflito –, mas nunca de uma forma completa ou explícita a ponto de esclarecer a audiência. Aliás, o argumento de Jolie é demasiado partidário dos bósnios muçulmanos, escondendo sempre que alguns crimes de guerra dos sérvios também foram cometidos pelos bósnios, ainda que em muito menor escala. Em segundo lugar, o romance entre Danijel e Ajla não é convincente, torna o ritmo do filme lento e liga os vários elementos e cenários da história de forma imprecisa e pouco interessante.

A produção do filme esteve envolvida em várias controvérsias, embargos e delongas. Apesar de tudo, Na Terra de Sangue e Mel é uma estreia positiva para Jolie. A sua câmara acompanha sempre todas as duras realidades com preciosismo e dedicação. Muitos não a julgariam capaz de realizar um filme, mas a verdade é o que faz com relativo talento. Se alguma coisa fica provada, é que Jolie é melhor realizadora do que é argumentista. Mas também é preciso que fique claro que Jolie nunca pretende que o seu argumento vá demasiado longe. Afinal, apesar da paz, as feridas ainda não se encontram totalmente saradas na região da Bósnia-Herzegovina. O argumento de Jolie questiona e supõe, não resolve. Nunca quer resolver, que este foi afinal um conflito que também ninguém queria resolver. 


CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas

Trailer: 



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