quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Filme: Rush - Duelo de Rivais (2013)

Rush – Duelo de Rivais, alinhado na força motora de um argumento de alta cilindragem, recria no grande ecrã a intensa rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt com dedicação e compreensibilidade, destinado a fãs e a não-fãs.

Niki Lauda (Daniel Brühl) e James Hunt (Chris Hemsworth) são rivais desde o início da sua carreira, no palco fora da ribalta da Fórmula 3. Lauda e Hunt chegam eventualmente ao grande palco da Fórmula 1 e a sua rivalidade atinge popularidade mundial. Na época de 1976, a discussão pelo título de campeão atinge a maior ferocidade entre os dois. No entanto, Lauda sofre um terrível acidente no Grande Prémio da Alemanha que pode colocar um ponto final na disputa. 

A rivalidade na Fórmula 1 entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt marcou uma era do desporto motorizado. O realizador Ron Howard transporta para o grande ecrã a intensidade rival entre os dois pilotos com toda a exuberância visual apoiada na energia automobilística. Servindo-se apropriadamente de um argumento equilibrado de Peter Morgan, Ron Howard começa por recuar na famigerada história, apresentando ao espectador a raiz da rivalidade no meio menor e mais obscuro da Fórmula 3, onde Lauda e Hunt se cruzam pela primeira vez, Lauda como um indivíduo sisudo e compenetrado e Hunt como um indivíduo imaturo e mimado. Embora as quase antagónicas diferenças de personalidade, ambos os novatos pilotos partilham uma imensa paixão pela velocidade e um conflito de vontades com as respectivas famílias. Hunt e Lauda, após um primeiro embate que os coloca de sobreaviso sobre as potencialidades do outro, seguem caminhos separados e dificuldades distintas. Lauda chega à Fórmula 1 graças ao seu conhecimento de mecânica e à seriedade com que encara o seu trabalho, enquanto Hunt chega ao campeonato de primeira linha com patrocínio interno e convicção no talento bruto.

No caminho para o topo e para a incontornável época de 1976, Ron Howard refreia-se do impulso de acção e trabalha cuidadosamente o lado pessoal e privado de cada um dos pilotos, desvendando o lado singelamente humano de cada lenda. Lauda mostra-se alguém com dificuldade de relacionamento, alguém que encara melhor uma corrida perigosa do que uma prova de afecto e amizade. Quando Marlene Knaus se cruza no seu caminho, Lauda enfrenta provavelmente o maior desafio da sua vida; nunca se transforma verdadeiramente no indivíduo carinhoso, para Marlene ou para o espectador, mas transforma-se aos poucos e poucos na alma e no coração da história. Hunt, por outro lado, é desde o princípio alguém sem barreiras relacionais, carismático e galanteador, com quem todos gostam de estar, mas que poucos reconhecem valor. Curiosamente, é nos momentos em que Lauda e Hunt interagem que os problemas de cada um parecem minimizados, e quando competem que são completamente superados. A rivalidade não é meramente competitiva: serve para dar força e propósito para a vida pessoal.

O acidente de Lauda na perigosa pista de Nürburgring na Alemanha é um momento de enorme consequência para o filme, momento em que Rush – Duelo de Rivais se transforma em algo especial. Nos momentos sequentes, incluindo a impressionante recuperação de Lauda, Ron Howard, apoiado em bons valores de produção dos quais se destacam a música vibrante e emotiva de Hans Zimmer e a fotografia contrabalançada de Anthony Dod Mantle, cria uma experiência intensa e fascinante ao som fremente dos motores e ao batuque cardíaco das emoções em jogo. O desfecho da época de 1976 não é nenhuma surpresa, mas Ron Howard estabelece a ambiência necessária para criar a ilusão no espectador de que é possível torcer por outro desenlace; afinal, este é um filme também construído, ou mesmo essencialmente construído, para não seguidores da Fórmula 1.

Chris Hemsworth apresenta-se no melhor papel da sua carreira. O lado playboy e despreocupado de James Hunt assenta-lhe que nem uma luva, mas Hemsworth mantêm-se moderado e dá mais atenção ao lado emocional e o intimamente frágil de Hunt. É, todavia, em Daniel Brühl que se descobre a melhor representação. O seu Lauda tem várias e tão distintas facetas e Brühl trata cada uma com a mesma importância e pormenor. A jornada de Lauda de um indivíduo distante e pouco relacionável para um Lauda heróico e sensível é impressionante, mas é o seu trabalho a partir do acidente em Nürburgring que é verdadeiramente notável. Aqui, Brühl prende a atenção do espectador, choca-o com a crueza das feridas de Lauda e conquista o seu bem-querer até ao final.


Rush – Duelo de Rivais é ainda pontuado por momentos de humor na forma de inteligentes diálogos. É o melhor filme de Ron Howard desde Frost/Nixon. É um filme pronto para agradar fãs de Fórmula 1 e aqueles que, não acompanhando ou se interessando pelo desporto, procuram uma boa história de rivalidade, perseverança e heroicidade; uma que acontece ser real.   

CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


Trailer: 

1 comentário:

  1. Boa Noite,

    Foi talvez o melhor que filme que vi este ano no cinema! Para quem conhece, obviamente que a história será sempre previsível, mas ainda assim muito surpreendente. Desde o argumento cuidado, à fotografia soberba até mesmo a aptidão dos 2 actores principais, o filme revela-se em 120 minutos! (...) E que final poético!

    Foi sem dúvida um dos melhores momentos cinematográficos deste ano!

    Excelente Blog,
    Cumprimentos!

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