terça-feira, 27 de agosto de 2013

Filme: A Gaiola Dourada (2013)

Absolutamente hilariante e sagaz, A Gaiola Dourada é simultaneamente uma cómica representação e uma adequada comemoração dos costumes e das idoneidades portuguesas onde as probabilidades de familiaridade são elevadas.     

Quando Maria (Rita Blanco) e José Ribeiro (Joaquim de Almeida), dois emigrantes portugueses a viver em França, descobrem que herdaram uma quinta da família no Norte de Portugal, têm que decidir pelo regresso à casa-mãe ou pela permanência no país acolhedor. O que Maria e José não imaginam, no entanto, é que o começo de um mexerico colocará toda a vizinhança em polvoroso, levando-os a avaliar toda a sua vida e todo o seu trabalho enquanto emigrantes.

Intrinsecamente português, A Gaiola Dourada é, antes de mais, uma brilhante e inteligente comédia expedita que nunca perde o timing do seu humor e a perspicácia das suas referências culturais. Mas é, tal-qualmente, não obstante a sua intenção primordial de entreter e causar boa disposição, uma sentida e sábia homenagem ao emigrante português e à sua constante luta em terras estrangeiras. É um tributo aos incontáveis sonhos e esperanças que corajosas gerações viram esbarrar em paredes de agressividade cultural e estratificação social; é um necessário reconhecer da marcante posição que tais gerações ocuparam em terras desconhecidas. A Gaiola Dourada combina inteligente e divertidamente a costumeira desvalorização do emigrante português com o inevitável reconhecimento do seu mérito, originando na cómica disseminação das novas sobre a herança adquirida pela família Ribeiro o abrir de olhos que coloca a relevância da competência portuguesa em perspectiva.  

Com um argumento simples e sem rodeios, A Gaiola Dourada faz das tradições e da muita característica forma de estar portuguesa o seu grande trunfo. Raro será o espectador que não se reverá em alguma das hilariantes situações representadas, nos muitos valores e nos muitos defeitos portugueses. Para o melhor e para o pior, a essência portuguesa é apresentada como se conhece, na amplitude da sua tipicidade e tradicionalidade, na variedade dos seus símbolos e preconceitos. E quando, mais para o fim da narrativa, A Gaiola Dourada se torna mais sério e preocupado, ante um importante choque geracional que concerne a todos, a essência portuguesa atinge a sua grandeza e o seu brio.

A Gaiola Dourada é um filme que toca especialmente o espectador português; ser-lhe-á extrema e positivamente íntimo, tal como o realizador luso-francês Ruben Alves se mostra a todas as alturas extrema e positivamente íntimo e compactuado com a envolvência narrativa. Na sua visão descomplicada da linha de acção, Ruben Alves raramente perde sentido do leque de mensagens que procura transmitir. Não prima em todas (em particular, o tema da vergonha e da rejeição parental a envolver a personagem Pedro Ribeiro fica abaixo do potencial prometido); todavia, nunca fica dissuasoriamente aquém. Ruben Alves beneficia de um elenco brilhante e à-vontade nos respectivos papéis, quer nos pesos da comédia, quer nos pesos do drama; particularizar uma ou outra interpretação é um exercício escusado, mas Rita Blanco, em virtude da sua incrível capacidade para criar uma autêntica dona de casa portuguesa, merece um destaque especial.  


A Gaiola Portuguesa faz rir, e rir muito; também dá muito que pensar. Além de uma incrível e apaixonante comédia, é uma importante difusão da cultura e da aptidão portuguesas; como tal, não pode ser ignorado.      

CLASSIFICAÇÃO:  4 em 5 estrelas


Trailer:

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