quarta-feira, 10 de julho de 2013

Filme: Assassinos de Férias (2013)

Com uma narrativa simples e diálogos perspicazes, Assassinos de Férias, enquanto comédia negra, mantém-se na senda do humor que não vai tão longe ao ponto de dissuadir, nem fica tão em casa ao ponto de aborrecer.  

Contrariando a vontade e os concelhos da sua mãe, Tina (Alice Lowe) parte numa viagem pela estrada, numa simples caravana, com Chris (Steve Oram). Partilhando o mesmo espaço pela primeira vez com destino ao meio rural, Chris e Tina começam a revelar um ao outro as suas psicopatias e os seus segredos obscuros. O encontro com desconhecidos exponenciará fatalmente os seus problemas.  

O humor negro abunda no humor britânico e a sua capacidade de transformar um momento moralmente maldoso num instante cómico é infalível. Assassinos de Férias dá azo à premissa e continua a tendência de divertir com o pérfido e condenável. Evitando a todo o custo, com relativo triunfo, arrastar-se para convencionalismos e repetições, a comédia, no seu pavonear indie, cobre-se com pretensões dramáticas enquanto explora a região rural britânica. O resultado são sequências de exploração e visita paisagística que, apresentando-se normais e encantadoras, escondem sempre um crime que há-de acontecer sorrateira e inesperadamente.

Chris e Tina, o casal que nos acompanha nesta viagem, parecem, à primeira vista, um par perfeitamente normal, com os seus altos e baixos. A ideia, todavia, perde rapidamente suporte. Tina, que vive uma extrema paixão por cães, é alguém que esconde consideráveis frustrações pelas imposições da sua mãe, enquanto Chris se mostra incapaz de tolerar e aceitar o erro e o sucesso alheios. A combinação de ambos, quando confinados a uma pequena caravana, é explosiva e divertida; quando se cruzam com outros transeuntes, é perigosa. Tina aproveita-se da psicopatia de Chris para exercer pequenas vinganças, ao passo que Chris se aproveita da necessidade afectiva de Tina para escapar impune às suas transgressões. A vivência é como a de qualquer casal com problemas conjugais; o resultado é como nunca visto.

O realizador Ben Wheatley expressa através da câmara um sentido de humor ímpar. A sua ideia nunca é a de forçar o riso no espectador, porquanto cabe à audiência procurar o seu instante cómico. Haverá, certamente, quem nunca se encontre com o seu, mas Wheatley mostra pouca preocupação nesse sentido. Steve Oram e Alice Lowe, que também assinam o argumento, interpretam as suas personagens com uma naturalidade admirável, quiçá assustadora; a enfâse das suas actuações, mais do que na capacidade para entreter e fazer rir, é na ambiência dramática que enquadra as particularidades das suas personagens, enfâse que permite circunscrever o humor ao limite toleravelmente negro. A mesma determinação para circunscrever ao limite toleravelmente negro reside na música introspectiva ouvida ao longo do filme e na banda sonora composta por Jim Williams que navega de quando em vez para o alienado.


Embora se perca na última metade numa relativa exaustão de ideias, Assassinos de Férias é outra boa entrada do humor negro britânico. Não agradará a todos e algumas particularidades da narrativa são potencialmente polémicas e reprováveis, ou não fossem estas características distintivas do género.  

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer: 

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